Fusões e aquisições no setor de sementes de hortaliças no Brasil

Edição XXIX | 06 - Nov . 2025
Warley Marcos Nascimento-warley.nascimento@embrapa.br
   A produção de hortaliças desempenha papel estratégico no agronegócio brasileiro. Em 2023, segundo estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), apenas duas cadeias produtivas — tomate e cebola — registraram um valor bruto de produção de R$ 13 bilhões e R$ 2,9 bilhões, respectivamente. Esse desempenho expressivo está diretamente relacionado aos avanços tecnológicos nos sistemas de cultivo e, sobretudo, à oferta de sementes de alto valor agregado, oriundas de cultivares competitivas, com elevado potencial produtivo, resistência a doenças, praticidade no manejo e características diferenciadas em cor, formato, sabor e valor nutricional.

   O uso de sementes de qualidade superior é um fator decisivo para aumentar a competitividade no setor, pois proporciona maior produtividade, resistência a condições adversas e uniformidade na lavoura, resultando em mais rentabilidade ao produtor. Nesse cenário, tanto instituições públicas quanto empresas privadas têm papel relevante na segmentação varietal das espécies mais cultivadas, promovendo uma olericultura mais sustentável e alinhada às exigências do mercado.

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   O perfil de consumo de hortaliças no Brasil está em constante transformação. O “novo” consumidor valoriza aspectos como saúde e sustentabilidade, o que tem impulsionado o crescimento do mercado de sementes. Em 2023, o setor movimentou R$ 1,5 bilhão, segundo a Associação Brasileira de Comércio de Sementes e Mudas (ABCSEM). Poucas dezenas de empresas atuam nesse mercado, atendendo desde pequenos agricultores familiares até grandes empresários, além do público urbano e periurbano, que demanda sementes para hortas caseiras e comunitárias.

   A olericultura apresenta grande diversidade na adoção de insumos e tecnologias. O agronegócio brasileiro há décadas atrai investimentos nacionais e internacionais, especialmente no setor de sementes. Para atender às diferentes demandas de produtores e consumidores, as empresas buscam ampliar seus portfólios e adotar estratégias que acompanhem as tendências do mercado, mantendo sua competitividade.

   A evolução da biotecnologia intensificou esses movimentos estratégicos. A crescente demanda global por alimentos transformou o mercado de sementes em um dos principais alvos de operações de fusões e aquisições, que se tornaram ferramentas fundamentais para promover crescimento e inovação. Os principais objetivos dessas operações incluem a incorporação de novas tecnologias, especialmente ligadas ao melhoramento genético e à diversificação do portfólio de cultivares. Essas parcerias estratégicas fortalecem a presença de grandes conglomerados, com investimentos robustos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e estratégias comerciais agressivas, ampliando sua competitividade e sua presença em novos mercados, nacionais e internacionais.

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   As integrações podem ocorrer de diferentes formas: algumas empresas mantêm operações autônomas, preservando suas marcas e estruturas; outras combinam expertises complementares — como portfólio genético robusto e tecnologia de produção de sementes — para garantir insumos de alta qualidade. A conexão com o mercado, especialmente em regiões específicas como países da América Latina, também influencia essas operações. Exemplos emblemáticos incluem a aquisição da Seminis pela Bayer (via Monsanto) e a subsequente venda da Nunhems para a Basf. No Brasil, diversas operações marcaram a última década, como a aquisição da Hortec (SP) pela East-West, da Isla (RS) e da Agritu (SC) pela Sakata e da Feltrin (RS) pela Syngenta. A Agristar, empresa de capital nacional, também realizou aquisições e parcerias com outras empresas brasileiras.

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   A regionalização das vendas é outro fator estratégico, considerando as peculiaridades climáticas e agronômicas das diferentes microrregiões do país. Além disso, o setor enfrenta desafios como as mudanças climáticas e a necessidade de desenvolver e híbridos de alta performance e/ou cultivares adaptadas a diferentes perfis de produtores e nichos de mercado, como orgânicos, microverdes etc. 


   O mercado de sementes de hortaliças é dinâmico e desafiador, impulsionado por avanços tecnológicos e pela busca por produtividade e qualidade. As fusões e aquisições emergem como estratégias vitais para ampliar a capacidade de inovação e sustentabilidade das empresas, fortalecer a cadeia de suprimentos, expandir a presença geográfica e reduzir custos operacionais. Em suma, essas operações permitem que as empresas se mantenham na vanguarda da tecnologia agrícola.
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