A utilização de sementes de alta qualidade aumenta a possibilidade do sucesso de uma lavoura, conforme demonstrado por inúmeras pesquisas. O estabelecimento mais adequado da população de plantas com maior crescimento promove maior produtividade.

   A utopia dos sementeiros é a produção de sementes com a máxima qualidade. Para isso, muitas pesquisas, desenvolvimento de tecnologias e evolução na legislação aconteceram. Também é importante salientar que o produtor de sementes busca oferecer sementes de elevada qualidade; atualmente, o sucesso no momento de implantação de uma cultura indica que o produtor de sementes obteve êxito em todas as etapas de produção e pós-colheita.

   Após a expedição da semente, a empresa produtora não tem mais como controlar os cuidados no armazenamento e a sua forma de uso. Há necessidade de desmistificar junto aos consumidores algumas situações, pois toda empresa de produção de sementes tem interesse no sucesso da instalação de uma cultura. Em muitos casos, quando ocorre algum problema neste momento, a semente é a primeira a ser questionada.

   Buscando de forma mais prática relacionar os fatores de produção para obtenção de máxima qualidade das sementes, podemos utilizar a construção para melhor exemplificar. Uma casa bem construída deve possuir sua base (alicerce) muito bem estruturada, para dar suporte as partes posteriores da construção. A figura no texto apresenta a relação dos processos produtivos da semente, envolvendo a legislação, produção a campo, colheita e pós-colheita, juntamente com os atributos da qualidade das sementes, visando assim a obtenção de sementes de alta qualidade. Os atributos podem ser considerados como pilares da qualidade da semente e são alicerçados na legislação, produção a campo, colheita e pós-colheita das sementes.

   A legislação é o primeiro item, pois todos os processos para produção de sementes devem atender a legislação, que vai desde o planejamento da produção até o atendimento pós-venda das sementes. É preciso ter domínio da legislação vigente, lembrando que ela está em constante evolução e pode possuir diferença entre os países ou organizações comerciais. Os tratados, convenções e pactos internacionais devem ser respeitados para permitir a exportação, mas a legislação norteadora do país onde ocorre a produção é a principal a ser atendida.

   No Brasil, a legislação exige dos produtores de sementes os mapas de produção, beneficiamento, armazenamento, controle de reembalagem e comercialização. Estes documentos devem ser encaminhados, ao órgão de fiscalização na unidade federativa. No país, a Lei 10.711, de 5 de agosto de 2003, dispõe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas e dá outras providências e é regulamentada por decretos, portarias e instruções normativas.

   A produção a campo é o próximo item do alicerce para obter sementes com elevada qualidade, atendendo posteriormente os atributos da qualidade (pilares). O planejamento para a produção é muito complexo, pois várias perguntas necessitam ser respondidas: “O que produzir?”, “Quanto produzir?”, “Quando produzir?”, “Onde produzir?” e “Como produzir?”.

   O que produzir?
   O produtor de semente deve ser o mais certeiro possível no momento de definir o que será produzido, pois o mercado vai demandar alguns materiais genéticos de forma mais volumosa, já outro terá uma demanda estável e alguns estarão em declínio. A existência de prospecções futuras deve ser avaliada para escolha adequada da variedade a ser multiplicada. O planejamento da produção de sementes é fundamental, pois a escolha da variedade ocorre antes da semeadura da área, e a oferta das sementes produzidas ocorre na safra subsequente.

   A disponibilidade de material para propagação e a autorização do obtentor do cultivar também interferem nas possibilidades de produção. As inovações relacionadas à biotecnologia podem aumentar a demanda de alguns materiais. Assim é imprescindível o acompanhamento das tecnologias lançadas pelas empresas e o desempenho dos materiais.

   O conhecimento da estrutura física e dos equipamentos disponíveis para a produção é importante, pois diferentes culturas podem necessitar de estudos para verificar a viabilidade técnica e econômica para produção. Outro fator importante para o sucesso da produção de sementes é a adaptação da cultura e da cultivar no local de produção. Materiais não adaptados possivelmente terão produtividade baixa, e sua qualidade tende a ser inferior à produzida em condições adequadas.

   Quanto produzir?
   A quantidade produzida deve ser a mais próxima da demanda; para isso, deve-se ter um bom planejamento, pois tanto a falta como sobra de sementes beneficiadas representam problemas para a empresa. A tarefa não é fácil, pois não há mecanismo que estime com certeza a quantidade de sementes que será demandada. Contratos prévios de venda auxiliam no planejamento da produção. O acompanhamento do desempenho dos materiais na safra anterior e as inovações tecnológicas também necessitam ser observadas.
Alguns obtentores definem quantidades a serem produzidas.

   A estrutura do produtor de sementes também é importante na definição da quantidade que será produzida, pois a capacidade de produção e dos processos de pós-colheita deve atender à demanda programada. As perdas por condenação de campos de produção, problemas na colheita ou pós-colheita e reprovação dos lotes após o beneficiamento necessitam ser contabilizadas. Para definição da margem a ser utilizada, é importante observar o histórico da empresa, previsão do tempo durante a safra, área utilizada para produção, material em produção e equipamentos de colheita e pós-colheita.

   Quando produzir?
   O momento de realizar a produção deve respeitar a recomendação técnica da cultura. Porém, podem ser necessárias recomendações especificas para cada região de produção, assim como por cultivar, relacionadas com a época de cultivo, o posicionamento de cultivares e o manejo em geral. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático auxilia na definição do momento e local de cultivo; no entanto, alguns ajustes para produção de sementes são necessários, observando excesso ou restrição hídrica, assim como a temperatura ambiental na maturação e colheita. Determinadas cultivares também podem necessitar de ajustes, buscando a melhores épocas de cultivo para obtenção de sementes de maior qualidade.

   Onde produzir?
  A possibilidade de produção de sementes nas proximidades da unidade de beneficiamento de sementes (UBS) é interessante. Porém, para reduzir riscos climáticos o uso de campos em regiões distintas é indicado.

   A presença de mão-de-obra qualificada para atuação nos processos de produção e pós-colheita é fundamental para o sucesso de uma empresa de produção de sementes. E, se possível, é bom ter proximidade do mercado consumidor, pois a logística é fator importante. Práticas que minimizam os custos são ferramentas que podem aumentar a capacidade competitiva da empresa e aumentar o retorno econômico.

   Como produzir?
   O desempenho vegetal está relacionado com a carga genética do indivíduo, a condição ambiental e o manejo aplicado. Cabe aos técnicos a aplicação das recomendações técnicas de cultivo para obtenção do máximo retorno produtivo (quantidade com qualidade).

   Algumas exigências estão determinadas nos padrões para produção de sementes. A fase de produção a campo envolve a escolha da área, isolamento, aquisição de sementes, preparo da área, semeadura, manejo da cultura, inspeção de campos e descontaminação.

   A área deve ser bem escolhida para evitar problemas na produção, possibilitando adequados processos de semeadura, condução e colheita, observando que o isolamento deve respeitar os padrões da cultura. Aquisição de sementes para multiplicação deve ser de categoria superior, lembrando da necessidade de contrato com o obtentor.

   O preparo da área, semeadura e manejo da cultura devem atender às recomendações técnicas da cultura, com adaptações à produção de sementes, sendo que em algumas situações a produtividade não é fator primordial, mas sim a qualidade. A inspeção de campos deve respeitar os padrões para produção e se necessário realizar a descontaminação.

   A colheita, o próximo item do alicerce, envolve a retirada das sementes no momento adequado e evitando a deterioração de campo. Diferentes métodos de colheita são utilizados: pela diversidade das culturas, o produtor de semente deve observar a necessidade da espécie e os equipamentos presentes na propriedade, um tema a ser discutido no momento de escolhermos o que vamos produzir.

   A aquisição de sementes livres de contaminação genética ou por sementes de espécies indesejáveis é fundamental, além das práticas de limpeza dos implementos e das máquinas utilizadas na semeadura, condução e colheita das áreas de produção. Ressalta-se a necessidade de cuidados dos envolvidos com a produção, em relação à possibilidade de distribuição de sementes em diferentes áreas, pelo transporte, em vestimentas ou em equipamentos de uso pessoal.

   Há uma diversidade de culturas, e cada uma delas possui suas especificidades nos processos de produção, colheita e pós-colheita. Há dificuldades quantitativas e/ou qualitativas no processo de produção, pois isso está relacionado com o melhoramento genético. Culturas em que o melhoramento buscou a produção de massa verde, por exemplo, possuem, de forma geral, uma maior dificuldade no processo de produção de sementes que culturas produtoras de grãos.

   Os processos de pós-colheita também são importantes, pois envolvem recepção, pesagem, classificação, moega, pré-limpeza, armazenamento em silo regulador de fluxo, secagem, beneficiamento, tratamento e armazenamento das sementes. Ressalta-se que a qualidade das sementes tem relação direta com as práticas relacionadas à produção a campo e aos processos de pós-colheita.

   Os processos de pós-colheita visam melhorar algumas características do lote de sementes. Porém, mesmo que os procedimentos no beneficiamento de sementes sejam eficientes, é importante destacar a necessidade de cuidados na produção a campo: problemas neste momento resultarão em lotes de baixa qualidade e os procedimentos na UBS não terão capacidade de melhorar os atributos de qualidade da semente. O processo de pós-colheita visa melhorar a característica do lote de sementes, retirando materiais
indesejados, secagem (se necessário), padronização e aplicação de produtos e armazenamento das sementes. O processo visa a manutenção da qualidade das sementes.

   Dentro da empresa produtora de sementes, podemos considerar um ciclo da produção até a expedição das sementes. Quando isso ocorre de forma adequada, este ciclo é virtuoso, fato que aumenta a possibilidade de sucesso posterior.

   O conhecimento das necessidades básicas para obtenção de sementes com qualidade - legislação, produção a campo, colheita e pós-colheita - fazem com que tenhamos solidez para estruturarmos os pilares da qualidade de sementes, que são os atributos de qualidade genética, física, fisiológica e sanitária.

   O atributo genético tem relação com as características selecionadas durante o processo de melhoramento e na multiplicação das sementes, pois durante estes processos as sementes devem permanecer sem alteração ou contaminação genética. O potencial produtivo, a adaptação, precocidade, resistência a fatores bióticos e abióticos, qualidade do produto e biotecnologias são exemplos de características resultantes do melhoramento genético.

   O atributo físico relaciona-se com a constituição física do lote de sementes: integridade física, quantidade de água, forma e tamanho, entre outros. As avaliações do atributo físico resultam em aplicações práticas, como a necessidade de secagem, classificação das sementes por tamanho que serão comercializados, densidade do lote, peso de sementes, presença de danos mecânicos  etc. 

   O atributo fisiológico tem relação com a germinação, vigor, longevidade e dormência das sementes. A germinação refere-se à capacidade da semente em formar uma nova planta com todas as estruturas necessárias para sobrevivência em condições ideais (plântula normal). Na avaliação do vigor leva-se em conta o comportamento do lote de sementes em condições não ideais para o estabelecimento da cultura. Pesquisas tem demostrado a importância do vigor das sementes na obtenção não somente de plântulas normais, mas plântulas que, bem estruturadas, resultam em plantas com maior potencial produtivo. Os produtores buscam cultivares com maior potencial produtivo e com tecnologias avançadas. No entanto, poucos produtores têm a preocupação com a qualidade das sementes que serão utilizadas na semeadura, fato este que afeta a produtividade da cultura.

   O atributo sanitário está relacionado com a presença e danos de pragas e doenças nas sementes. Os resultados das avaliações deste atributo dependem dos processos de produção e pós-colheita adequados. Os níveis de infecção ou danos causados por pragas e doenças devem inexistir ou serem baixos para evitar perda da qualidade das sementes.

   Com a base bem estruturada e com os pilares consistentes, a possibilidade de produção de sementes com qualidade é maior. Por se tratar de um ser vivo, qualquer problema pode causar redução da qualidade. 

   A obtenção da qualidade das sementes é complexa e exige empenho e dedicação. No entanto, é o objetivo de todos envolvidos no setor sementeiro. A evolução e a atualização são constantes e necessárias, pois há desafios antigos e atuais a serem superados.