É inequívoco pensar que se a produção de sementes fosse uma pessoa, um corpo orgânico, o laboratório de análise de sementes seria o coração que pulsa sem cessar e, a exemplo do coração humano, a mínima alteração de seus movimentos é suficiente para desencadear respostas que podem levar a efeitos de serem ou não corrigidos.

    Trata-se de um local que tem objetivos claros de detectar a qualidade de sementes, as quais são produzidas na fábrica de céu aberto, portanto, passíveis de mudanças significativas na trajetória e dependentes de variáveis infindáveis.

    A construção deste conjunto de narrativas é para introduzir uma figura fundamental do processo: o profissional que atua diretamente com as análises. Este, precisa instruir a criação de explicações factíveis, sabendo que pode estar sujeito a peculiaridades e vicissitudes, e não permitir que um reflexo emocional instintivo administre sua mente e coração.

    Com efeito, agir tecnicamente e ser adjuvante na condução de testes e interpretação de seus resultados, visando auxiliar na tomada de decisão, que pode ser onerosa à empresa. Para tal, é necessária a capacitação e comprometimento contextual, ter conhecimento para conectar os pontos que tornam as circunstâncias difíceis, assim como, ter habilidade de explicar o que ocorre. Isto é o que se espera.

    O aprendizado deste ser é vivencial. Na concretude e dificuldade dos fatos, ele deve sobreviver, sem abalar sua autoestima. Na verdade, romper os desafios sem se desestabilizar.

    Na hierarquia de Maslow, o psicólogo demonstrou existir a necessidade preliminar biológica/física como ar, alimento, água, abrigo e calor. Depois há necessidade de segurança, pertencimento, autoestima e autorrealização. O filósofo e escritor Cortella abordou ainda o propósito, como sendo carregado de significado a uma pessoa. Via de regra, gente que atua com análises de sementes encontra a maiores diversidades nestas imprescindibilidades citadas. No entanto, o trabalho é exaustivo, repetitivo e de grande responsabilidade.

    A pergunta que podemos fazer: será que olham para ele como àquele colaborador que está com o lado sensível da empresa, que é o financeiro, em suas mãos? É enxergado desta forma ou estão atuando no ponto cego? Quanto custa um hectare de sementes? Qual a representatividade da amostra nos testes realizados? Que tipos de amostragens estão sendo executados os testes definidores de sementes? Sugestão, pressione o botão pausar porque isso merece uma boa reflexão.

     Evidente que vai depender da mentalidade de cada um. Alguns poderão mudar o modo de perceber e agirão sob novas perspectivas, sobretudo, se levarem em consideração, o mundo hodierno de pesquisa, inovações tecnológicas, materiais genéticos de elevadas produtividades e sementes mais responsivas às condições ambientais. Outros continuarão com sua mente fixa, achando que o passado é igual a hoje ou ao futuro. Reconfigurar a dinâmica mental nem sempre é tão simples e fácil, mas vale o esforço quando seu material é biológico em todos os sentidos. Quando lemos o que escreveu a psicóloga Dweck de que pensamento rígido não beneficia ninguém, muito menos você, e que a mudança é sempre possível, acende nossa chama da esperança.

    "O aprendizado deste ser é vivencial. Na concretude e dificuldade dos fatos, ele deve sobreviver, sem abalar sua autoestima. Na verdade, romper os desafios sem se desestabilizar"

    E, neste contexto, a boa notícia é que o movimento de profissionais de laboratório de sementes está se aquecendo. Começa a percepção de que não se tem apenas a mão-de-obra, mas, sim, o fornecimento de conhecimento, não importa se doutor ou apenas a experiência adquirida com o tempo, que vale ouro. Ocorre atualmente o apagão de técnico-gestor. Quem está com esta competência, tem o mercado inteiramente disponível. Ou seja, está havendo transformação no mundo das análises. O talento e o comportamento estão sendo reconhecidos como importantes na indústria sementeira. A notoriedade do departamento de recursos humanos nunca foi tão elevada. A escolha de pessoas que atendam o foco das pretensões da empresa é determinante. Mas, não devem desprezar o lado humano de quem está sendo recrutado, jamais. Precisam ajudar as pessoas a colocar-se por inteiras e ter sensibilidade e descobrir que podem estar perdendo capital humano por tratá-las como máquinas. E, como abordamos a palavra máquina, a inteligência artificial aos poucos, também, vai adentrando o mundo de análises. Porém, sempre vai haver um coração que bate do lado oposto para interpretar, confrontar e validar dados. É só se preparar.

    Embora o trabalho técnico árduo é efetuado desde muito tempo, infelizmente, até os dias de hoje no século XXI, nossos profissionais de laboratório de sementes nunca foram agraciados com um dia especial à eles. Desde o ano 2000, à revelia, estabelecemos para motivar as equipes, o dia 5 de dezembro como o Dia do Analista. Acredito que merecemos. Quantos somos? Vamos lutar para que este dia seja regulamentado?