O ano de 2021 marcou o centenário da entrada da soja no Paraguai por um visionário que, no exterior, conheceu suas propriedades nutricionais para um país com alto índice de desnutrição na população.

   Pedro Nicolás Ciancio Sarubbi, filho dos imigrantes italianos Giuseppe Ciancio Ferraro e Filomena Sarubbi Donnadia, nasceu em Caazapá em 1892, foi o primeiro pediatra paraguaio e foi recebido na Universidade de Nápoles (Itália), com a medalha de melhor pós-graduação. Aplicado à especialidade da clínica médica, percorreu famosos centros de pesquisa em Roma, Torino e Florença, entre outros.

   Depois de voltar da Itália, em 1921 introduziu a soja no Paraguai, a germinação desses primeiros grãos e a aclimatação foram feitas em Caazapá, de onde ele é. Após longos anos de estudos e experiências, ele conseguiu obter três variedades próprias para o Paraguai, e também ensinou seu cultivo.

   Ele dedicou sua vida a tentar formar uma consciência nacional sobre o valor nutricional da soja, além de seus diversos usos. É considerado o estudioso que mais fez pela disseminação da leguminosa na América e sobre o qual escreveu vários livros.

   Um deles, “O PROBLEMA DA SOJA E DA ALIMENTAÇÃO DE PARAGUAI”, é o seu livro mais reconhecido, foi uma obra premiada pelo MEC em 1949, por ser considerada de interesse nacional para o Paraguai. Nesse trabalho, sua experiência com a soja se refletiu em nível local, além de haver receitas de usos e aplicações, e foi escrito em espanhol e inglês. Sua experiência com a soja em nível local se refletiu nesse trabalho e foi republicado em 1974.

   Entre as muitas obras escritas pelo médico por trás da soja estão:

   Essas obras foram reproduzidas em diversos jornais e revistas do país e do exterior. O Dr. Pedro Nicolás Ciancio Sarubbi foi professor da Universidade Nacional de Assunção e membro de sociedades científicas estrangeiras.

   Seus descendentes lembram que o professor médico, Pedro Nicolás Ciancio Sarubbi, na época da introdução da soja no Paraguai, recebeu a indiferença da população e das autoridades com sua pregação, porém, diante dessa situação, ele não cedeu, e continuou promovendo seu cultivo e uso. Eles ainda lembram que ele era chamado de forma depreciativa de "soja médico" por sua luta incansável a favor do cultivo e do consumo da leguminosa.

   A longa caminhada de valorização do cultivo da soja no Paraguai adquiriu um papel nutricional quase vinte anos após sua introdução, já que passou a ser conhecida como "carne vegetal" devido ao seu conteúdo proteico. Em 1940, o Presidente da República, José Félix Estigarribia ordenou a incorporação da soja à ração do exército, desde a década de 1940 o governo passou a definir o preço de referência para a soja, admitindo assim sua importância econômica.

   As escolas agrícolas nacionais pela resolução nº 13 de 29 de maio de 1948, estabeleceram a obrigatoriedade de cultivo de dois hectares de soja em cada escola agrícola da República. A resolução foi assinada pelo Ing. Agr. Lorenzo Mengual, Diretor Geral de Educação Agrícola.

   A busca por itens capazes de cumprir a dupla função de alimentos e ao mesmo tempo se tornarem um item de renda, significou a transformação do país de uma agricultura modesta e de subsistência em uma agricultura mecanizada, responsável por grande parte da receita cambial para o país, com presença internacional e multiplicador em transporte, logística e finanças.

   Hoje a soja representa um dos itens mais importantes da cadeia de valor agrícola, porém, resta saber qual poderia ter sido a expansão e a importância do cultivo da soja, além do conhecimento de seus benefícios e da industrialização se Ciancio tivesse sido ouvido há um século pelas autoridades.

   Atualmente os produtores da agricultura familiar apostam com mais confiança no cultivo da soja, em decorrência dos atuais números de crescimento nas pequenas propriedades, além da utilização de boas práticas agrícolas para que a produtividade de suas lavouras estejam com parâmetros elevados. Porém, ainda temos um longo caminho a percorrer para que a soja entre na dieta dos paraguaios e seja reconhecida como uma excelente fonte de proteína.

Reconhecimentos do passado

   Em 2 de dezembro de 1952, Pedro Nicolás Ciancio Sarubbi recebeu a condecoração papal de “CAVALEIRO DA ORDEM DE SÃO GREGÓRIO O GRANDE”, concedida pelo Papa Pio XII, das mãos do Núncio Monsenhor Federico Lunardi, na Cidade de Caazapá. A Grã-Cruz de São Gregório Magno é a condecoração máxima com que o Santo Padre distingue e agradece um fiel leigo pelo seu serviço generoso e eficaz à Igreja.

   Em 25 de janeiro de 1994, em Caazapá, recebeu o Prêmio da Ordem Nacional do Mérito, no Grau de Comandante, entregue a sua viúva, senhora ADELA SARUBBI VDA DE CIANCIO, pelo Presidente da República, senhor Juan Carlos Wasmosy.

   Do Instituto de Biotecnologia Agropecuária (INBIO) promovemos que 2021 seja declarado "Ano da Soja no Paraguai", em reconhecimento ao Dr. Ciancio por ter introduzido a soja há 100 anos e proclamado seu cultivo e uso. Com a apresentação de nota e argumentos perante o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAG), solicitamos, por meio da Presidência da República do Paraguai, que 2021 seja declarado o “Ano da Soja no Paraguai”.

   Pela Resolução do MAG nº 324, de 2 de março de 2021, o cultivo da soja no Paraguai é declarado de "Interesse Ministerial".

   Em seguida, pelo decreto número 5217 de 5 de maio "Pelo qual o ano de 2021 é declarado como o ano da soja no Paraguai e o reconhecimento póstumo é concedido ao Dr. Pedro Nicolás Ciancio."

   Por outro lado, no dia 6 de maio, como parte da celebração de nosso 15º aniversário, descobrimos um na rua Dr. Pedro Nicolás Ciancio em seu cruzamento com a rua Brasília em Assunção; onde coincidentemente é as instalações do INBIO.

   No monolito, que tem como foco principal a comemoração do centenário da entrada da soja no Paraguai, pelo professor Dr. Pedro Nicolás Ciancio Sarubbi, registram-se duas frases históricas do mesmo, pronunciadas em ocasiões distintas, em relação ao a soja.

   “Não é pobre um país que, como o nosso, possa possuir de forma relativamente abundante e barata as duas fontes mais ricas de proteína que se conhece: a carne e a soja” (Conferência da Universidade Nacional de Assunção, 6 de março de 1942).

   “Em mais de uma ocasião você se referiu à grande importância da Agricultura. E você pensou bem, a terra é o próprio destino do homem; e particularmente para o nosso país, nesta fase de seu desenvolvimento econômico. Toda a esperança deles reside na agricultura. É no cultivo da terra e no seu afeto que nasce o afeto pela vida simples e virtuosa e creio senhores que é o amor à terra, que se fecunda com suor e sangue e na educação cristã que é virtude e dignidade, onde está o segredo de nossa redenção moral” (Discurso ao Presidente da República José Félix Estigarribia, em Caazapá, 1939).