O agronegócio em família: governança e sucessão (I/II)

Edição XXV | 03 - Mai . 2021
   O agro se tornou um negócio de gente grande. Mas não no sentido de tamanho propriamente dito. Me refiro a profissionalização em si, da dimensão e da complexidade que os negócios assumiram e por consequência a necessidade de gestão profissionalizada.

   Nesse sentido, os temas Governança e Sucessão Familiar, bem como a própria continuidade dos negócios, são novos para muita gente, mas já vêm sendo tratados e discutidos em muitas empresas rurais há algum tempo. Mas nunca estiveram tão presentes e necessários como agora, num momento em que o agronegócio brasileiro está sendo chamado a ser o principal player mundial.

   No início de abril tive a oportunidade de participar como mediador na Semana da Governança Corporativa – O Agronegócio em Família, com profissionais cujas experiências sobre o tema certamente inspiraram muitos a repensar o seu modelo de gestão, de sucessão e talvez até o modelo de negócio. Destaco aqui alguns pontos relevantes nesse e no ensaio da próxima edição.

   Quando o cenário requer
   No primeiro dia destacou-se a real vocação de exportador do nosso agro que já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas pelo mundo e esse ano colocará R$ 1,1 trilhão nos cofres do país. Associado ao fato de que segundo a FAO, o Brasil ainda será responsável por produzir 41% dos alimentos a serem demandados adicionalmente até 2050.

   Mas o grande foco foi sobre a relevância social que a agricultura assumiu, tornando-se atrativa para os filhos, graças às inovações tecnológicas e a melhoria substancial da qualidade de vida. Ocorre que, embora cada vez mais relevante, sucessão ainda soa como tabu, representando um temor para a continuidade dos negócios.

   O Jovem gosta de inovação, de tecnologia, e isso deve ser um fator relevante a servir de atrativo nesse processo de incorporação e perpetuação nas empresas familiares.

   Governança Corporativa e Familiar - conceitos e conflitos
   Na sequência, a necessidade de entender a diferença entre Governança Familiar e Governança Corporativa foi o primeiro ponto tocado.

   Nesse sentido, a família organiza os membros da mesma entre si (inclusive a família estendida), a começar pelas ferramentas de sincronização e estrutura para que todos tenham os mesmos objetivos, estejam alinhados e pacificados para que aquilo que eles desejam da empresa seja dito de forma uníssona.

   Esse aspecto é muito importante, já que a mortalidade das empresas familiares é alta e o fator primordial está no aspecto de conflitância nas relações e nos interesses familiares.
   E dentro desses, o principal é a falta de confiança entre seus membros.

   É nesse sentido que a Governança Familiar vem para organizar e pacificar. Para saber quem quer e como quer continuar a fazer parte, já que posso continuar a fazer parte da família, mas não necessariamente da família empresária.

   Precisa ficar claro que ‘nem todo herdeiro é sucessor e nem todo sucessor é herdeiro’. Por isso, ela cria um modelo produtivo de se discutir dentro da família e isso será transferido para a governança corporativa, que é da empresa, buscando reduzir os conflitos, já que existem e não podem ser ignorados. Nesse modelo, eles serão compreendidos, pacificados e a voz será única na empresa.

   A Governança Corporativa causa um impacto imaginário de que isso não é para empresa pequena ou média e que possa estar restrito a grandes corporações, o que não é verdade. O conceito vem de que ela trata de um corpo (do latim corpore) que é a empresa e na essência somente funciona se todas as partes funcionam bem.

   Quando começar
   Isso tudo parece complexo e complicado, mas o que precisamos avaliar e entender é que os círculos correspondentes aos aspectos familiares e da empresa devem ser organizados o mais simples e o mais cedo possível. Quando a empresa é pequena eles se sobrepõem e à medida que a organização vai crescendo eles vão ficando cada vez mais independentes.

   Tanto a Familiar como a Corporativa são fundamentais para o processo de sucessão, já que essas estruturas vão dar suporte e tempo para eles praticarem o exercício do comando e das decisões. Para que a empresa continue sem mim, afinal eu fundador não sou eterno.

   E mais, as decisões colegiadas, tanto de uma como de outra, são melhor construídas do que decisões solitárias, por mais onipotente ou capaz que ele, o dono, se sinta. E essa visão de “único” acaba influenciando também os filhos, gerando uma perda de empoderamento, sem se desenvolverem e obviamente sem capacidade de perpetuar o negócio.

   Nesse sentido, é fundamental praticar as decisões colegiadas, embora seja difícil ceder o poder, assim como habituar os demais nessa prática. É importante a consciência da necessidade de ter apoio e trazer pessoas de fora para auxiliar na construção.

   Mas a questão central continua sendo a pacificação familiar, que leva a uma pergunta: Quando começar? A resposta é agora. Mas, se for tarde, também é bom. Precisa é começar e quanto antes melhor.

   O Ecossistema das Startups no Agro
   No segundo dia, os investimentos em inovação foram o foco e três projetos inovadores e distintos foram apresentados. 
Sucessão, por consequência, também tem a ver com as oportunidades e não apenas com a estrutura de governança. E nesse sentido, o CEO do Grupo ATTO, Odílio Balbinotti Filho, destacou o histórico do grupo com foco em inovação e desenvolvimento, apoiado desde sempre por coleta de dados, geração de indicadores e pela gestão meritocrática.

   Esse DNA respaldou a criação da Plataforma Plantup, sucesso absoluto e imediato na geração de informações robustas de dados estratégicos de campo num ambiente colaborativo tendo mais de 10 milhões de hectares cadastrados, como um elemento quase natural do modus operandi da empresa, apoiado na experiência de um conjunto de softwares em outras áreas de sua atuação. E há mais outras 20 experiências dessas em curso no grupo.

   Na opinião unânime dos painelistas, é a digitalização e os avanços nos sistemas inteligentes que darão suporte para que os sistemas de governança sejam acelerados, permitindo que os novos gestores e as novas gerações acessem mais rapidamente a realidade inconteste e transparente de seus negócios. Algo fundamental para a governança e a sucessão harmonizada.

   Até a próxima.
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