European Green Deal e o Agronegócio Brasileiro

Edição XXV | 03 - Mai . 2021
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
   Antecedentes
   Em diversos momentos na história da humanidade surgem crises de ordem ambiental, sociopolítica, climática e biológica (pestes) que promovem alterações significativas na dinâmica populacional dos países.

   Especificamente na última década, as pressões por sustentabilidade, bem-estar animal e segurança alimentar vêm pautando as discussões não apenas na academia, mas na sociedade, tendo foco especial na produção e consumo de alimentos em nível global. Os sistemas produtivos de base fóssil não mais respondem aos problemas atuais do planeta. Com isso, novos modelos produtivos, a busca por energias renováveis e a mudança nas demandas de consumo exigem que todos os setores da sociedade promovam uma mudança não mais setorial, mas sim global. Nesse contexto desafiador a União Europeia criou o European Green Deal (Acordo Verde Europeu).

   Em que consiste o Green Deal?
   O acordo consiste em um plano coordenado de ações de longo prazo que objetivam a redução das emissões, restauração da biodiversidade, mudança na base produtiva e de transportes, troca na matriz energética e promoção de sistemas agrícolas mais sustentáveis. A proposta propõe assegurar uma transição justa e inclusiva de um modelo não sustentável para um modelo de base verde. Com isso, a União Europeia (UE) pretende ser neutra em termos de emissões de gases estufa até 2050. Ações já existentes, porém que estavam descoordenadas e na informalidade, passam a ser uma obrigação estratégica e legal para a região.

    A UE, neste acordo, irá fornecer apoio financeiro, ferramentas tecnológicas e assistência técnica para auxiliar regiões, países e empresas mais afetados pela mudança em direção à economia verde. Este é o Mecanismo de Transição Justa, que irá auxiliar na liberação de pelo menos 100 bilhões de euros no período 2021-2027 para as regiões mais afetadas pela transição.

   Com base no EGD as nações membro comprometem-se a realizar diversas ações inseridas em nove eixos ou áreas estratégias:

   Dentro de cada um dos nove eixos, são realizadas diversas ações que incluem pesquisa, desenvolvimento tecnológico, investimentos públicos e privados, conselhos de orientação, serviços de obtenção e monitoramento de dados, capacitação, dentre muitas outras.

   From Farm to Fork
   Um dos nove eixos do EGD é a estratégia From Farm to Fork (da fazenda à mesa). Ela trata do enorme desafio que é promover mudanças nos sistemas de produção de alimentos, sendo considerado um dos pontos mais importantes do plano.

   O Farm to Fork parte da premissa de que uma mudança estratégica nos sistemas alimentares seguramente trará ganhos socioambientais, na saúde pública e na economia, com reflexos positivos em todos os setores da sociedade. Trata-se de uma mudança de paradigma, em prol de sistemas mais resilientes, mais limpos energeticamente e capazes de prover alimentos saudáveis, empregos e renda às populações.

    Qual o papel do Brasil como fornecedor de alimentos?
   Atender à demanda do EGD não será tarefa fácil para o Brasil. Somos grandes produtores e exportadores de commodities e temos aprimorado nossos sistemas produtivos em prol da sustentabilidade na última década, porém, ainda precisamos afinar processos no tocante à sanidade, certificações, questões ambientais, padrões de qualidade e segurança jurídica. Precisamos, no entanto, expandir nossa pauta de exportações e ofertar um número cada vez maior de produtos com alto valor agregado. Além das commodities, já há destacados exemplos de frutas, café, orgânicos, carnes e sucos, com alta qualidade, com selo de certificação e exportados aos principais mercados consumidores.
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   Para o prof. Marcos Fava Neves da USP o Brasil tem cinco vantagens a serem exploradas comercialmente em termos de sustentabilidade: % de energia renovável, % de uso de biocombustíveis em relação a outros países, inovações e tecnologias limpas, emissões/remoção de gases de efeito estufa per capita, % de cobertura vegetal original.  Precisamos estar preparados.

   Considerações finais
   A atual pandemia do COVID-19 exibiu as fragilidades das nossas economias, saúde e da capacidade da maioria das nações em prover condições de bem-estar aos povos. Questões já em discussão, porém relegadas a um segundo plano como saúde, nutrição e bem-estar passaram a fazer maior parte dos nossos dias. 
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