Avanços em biotecnologia: novos produtos com foco no consumidor final

Edição XXIX | 01 - Jan . 2025
Alexandre Nepomuceno-alexandre.nepomuceno@embrapa.br
   A primeira geração de culturas biotecnológicas foi desenvolvida com foco principal na resolução dos problemas da agricultura, a fim de melhorar características agronômicas que contribuíssem para o aumento da produtividade, como a resistência a insetos e a tolerância a herbicidas. Após quase três décadas de sucesso na adesão do uso dessas tecnologias, uma nova geração de plantas geneticamente modificadas vem sendo desenvolvida a fim de trazer, também, características de interesse ao consumidor final.
 Destacamos aqui alguns dos avanços mais recentes em biotecnologia, com foco nas necessidades dos consumidores.

   - Tomate roxo “Purple Tomato” - A empresa Norfolk Healthy Produce desenvolveu, por meio de engenharia genética, um tomate roxo, devido ao alto teor de antocianina, o que aumenta a atividade antioxidante, trazendo benefícios a saúde. O evento foi aprovado pelas agências regulatórias americanas, e os consumidores podem obter sementes online e começar a cultivar tomates roxos em suas hortas caseiras.

   - Soja suína “Piggy Sooy” - A Moolec Science recebeu aprovação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a proteína de soja suína conhecida como 'Piggy Sooy'. A tecnologia da Moolec permite a produção de proteínas animais usando plantas. Por meio de modificações genéticas, foi possível criar uma soja que produz proteína suína, a qual fica evidente pela cor rosada das sementes, que lembram a cor da carne suína. A empresa também está desenvolvendo plantas de ervilha com proteínas da carne bovina. Esses substitutos da carne cumprem o objetivo de fornecer ingredientes de origem vegetal e mais parecidos com a carne.

   - Petúnias brilhantes “Firefly Petunia” - Os amantes de flores nos EUA agora podem adicionar uma variedade brilhante à sua coleção. A petúnia geneticamente modificada bioluminescente emite uma leve luz verde, adicionando um toque de brilho aos espaços. O Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos EUA (APHIS) considera a planta segura, não representando maior risco do que outras petúnias cultivadas. A empresa por trás dessas maravilhas brilhantes é a Light Bio.

   - Arroz biofortificado com alto teor de vitamina B1 - Cientistas da Universidade de Genebra (UNIGE), do Instituto Federal de Tecnologia de (ETHZ) e da Universidade Nacional Chung Hsing de Taiwan (NCHU) conseguiram aumentar com sucesso o teor de vitamina B1 dos grãos de arroz, uma conquista significativa na luta contra a deficiência de vitamina B1, que está associada a uma dieta à base de arroz. Os cientistas geraram linhas de arroz que expressam um gene que sequestra a vitamina B1 nos tecidos do endosperma. A equipe de pesquisa revelou que o nível de vitamina B1 nos grãos de arroz foi multiplicado por 3 a 4 nas linhagens geneticamente modificadas.

   - Amora-preta sem sementes - A Pairwise desenvolveu a primeira amora-preta sem sementes do mundo usando a tecnologia CRISPR, ao mesmo tempo que obteve plantas compactas e sem espinhos para melhorar a colheita e reduzir a perda de alimentos. Esse avanço gera grandes benefícios para agricultores, consumidores e meio ambiente. Os cientistas esperam que esta característica não apenas transforme o mercado de amora-preta, mas também estabeleça as bases para um progresso acelerado na remoção de sementes e caroços em muitas outras frutas. Além de criar a primeira amora-preta sem sementes, a Pairwise editou com sucesso a mesma variedade para remover espinhos e criar uma planta mais compacta, o que oferece benefícios aos produtores e ao meio ambiente. As características compactas e sem espinhos permitem uma colheita mais eficiente dos frutos e maior produtividade e rentabilidade para os produtores.

  - Alface dourada biofortificada - uma equipe de pesquisa espanhola desenvolveu um método inovador para a biofortificação de folhas e outros tecidos vegetais verdes com aumento de substâncias saudáveis, como o betacaroteno, o principal precursor da vitamina A na dieta humana. Os pesquisadores aumentaram o teor de betacaroteno nas folhas de alface sem variar em outros processos importantes, como a fotossíntese. O estudo mostra que é possível multiplicar os níveis de betacaroteno nas folhas criando novos locais para armazená-los fora dos complexos fotossintéticos. A alface biofortificada apresenta um aumento de até 30 vezes nos níveis de betacaroteno em comparação com folhas não tratadas. O enorme acúmulo da substânciatambém deu às folhas dessa alface uma característica de cor dourada.

   De tomates roxos a petúnias brilhantes, essa diversificação de produtos contribui para o aumento da aceitação da biotecnologia pelo público geral.
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