Já ouvi muito a seguinte expressão dos meus mentorados: trabalhei tanto que acabei esquecendo de mim e da minha família. Normalmente, ela vem na sequência de uma separação conjugal, de um conflito desgastante no relacionamento com os filhos ou de um problema grave de saúde, que poderiam ter sido evitados.
Não podemos negar que, embora tenhamos avançado muito nesse campo, esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional ainda é um desafio enorme para gestores e demais líderes.
A partir da década de 1990, com a descoberta da neuroplasticidade, associada a outras pesquisas da neurociência, ficou evidente que esse equilíbrio não é apenas uma questão de bem-estar pessoal, mas também uma estratégia vital para o próprio sucesso no ambiente corporativo. Quem está em equilíbrio tende a ser mais criativo, ter mais foco e avançar mais rápido.
Onde está a explicação para isso
Não se engane ou tente se enganar. Ninguém consegue operar em alta intensidade o tempo todo. Esses longos períodos de estresse podem ativar uma resposta de "luta ou fuga" (uso do nosso cérebro reptiliano), liberando cortisol e adrenalina em níveis que podem levar ao esgotamento físico e mental.
Isso tudo, obviamente, também coloca em xeque os relacionamentos. Ninguém gosta de conviver com um sujeito estressado o tempo todo e sem sensibilidade. Essa falta de reposição emocional afeta negativamente a capacidade de tomada de decisões e a criatividade.
Não é difícil de entender que sem tempo para o lazer, prática de esportes e convívio familiar, o gestor se torna menos eficiente justamente no trabalho, o que acaba criando um ciclo vicioso de estresse e baixa performance. E, não esqueça, ciclo vicioso sempre é ruim. Tenha clareza de que esse equilíbrio entre a vida pessoal e profissional não é um luxo.
Vamos pegar apenas um exemplo simples para entender como o ciclo funciona: a prática de esportes libera endorfinas que são neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar, melhora a oxigenação do cérebro, aumentando a capacidade cognitiva.
Já o convívio familiar e o lazer proporcionam momentos de desconexão essenciais exatamente para recarregar a energia mental e emocional, fatores que impactam diretamente no nosso desempenho profissional.
Nesses 30 anos de atividades no ambiente corporativo, seja na minha experiência como gestor nas empresas em que trabalhei, nas minhas empresas ou como mentor de executivos, percebi três aspectos fundamentais para resolver isso:
Consciência: o primeiro passo para o equilíbrio
O primeiro passo é a consciência da necessidade, mesmo que você ainda não demonstre sinais de desequilíbrio. Entender que o exagero vai levar você para a essa situação perniciosa. Muitos gestores vivem em uma rotina frenética tal que não percebem os danos que essa corrida está causando ou causará em suas vidas. Então não espere, aja.
Uma coisa depende da outra, e a felicidade não é um ponto de chegada. Consciência é o primeiro degrau para que o gestor entenda que precisa dedicar tempo para si mesmo, para a família e para atividades prazerosas fora do ambiente de trabalho.
Eu gosto de chamar de prazer compartilhado, o que abre espaço para a mudança efetiva e duradoura. Você pode começar com algumas atitudes simples, como reservar alguns horários específicos para praticar o autocuidado, além do mindfulness que pode ser útil.
Aliás, recomendo com conhecimento de causa, pois já foi muito útil em momentos cruciais da minha vida e hoje faz parte da minha rotina. Sem consciência, nada acontece.
Propósito: a razão para buscar o equilíbrio
O segundo aspecto é encontrar o motivo para a mudança, a razão, um propósito que dá sentido a esse esforço necessário. Pode ser qualquer objetivo. Uma pessoa que você ame, sua própria saúde ou mesmo ser feliz. É o propósito que motiva a persistência, a constância, e é ele que nos auxilia na construção de uma rotina que contemple todas as áreas importantes da nossa vida.
Ter um propósito claro, além do sucesso financeiro, faz com que sejamos mais resilientes às pressões do dia a dia. Serve como uma âncora emocional, nos ajudando a ver significado nas tarefas diárias que muitas vezes não trazem resultados imediatos.
Priorizar o que é realmente importante, tanto no trabalho como na vida pessoal, e até delegar com mais facilidade. Ao alinhar esses dois campos, tendemos a encontrar um caminho para o equilíbrio, entendendo que o sucesso no trabalho está diretamente conectado ao seu bem-estar físico, emocional e social.
Rotina e persistência são o caminho.
Sempre sugiro evitar mudanças faraônicas e que prometem o céu. Faça mudanças pequenas, avance e não pare. Depois vá acrescentando novos hábitos. Avance com esses e não pare. Mesmo que sua mudança seja abrupta, precisa vir acompanhada de uma rotina antes e durante essa nova fase. Quem fez uma bariátrica, por exemplo, sabe bem do que estou falando.
Mas nada acontece sem esforço consciente. Tem dor no caminho, sim. Por isso, a chave está na persistência (o que justifica, consciência e motivos virem antes). Manter uma rotina de equilíbrio não é fácil.
Você pode utilizar por exemplo das inúmeras ferramentas de gestão de tempo disponíveis para garantir que a agenda contemple tanto compromissos profissionais quanto momentos dedicados à saúde e lazer. Seja intransigente nisso. Os resultados virão. Aprenda a dizer não.
Por fim, não esqueça que o equilíbrio é mais do que possível, é essencial. Saúde mental e física são fundamentais para o alto desempenho profissional e, mais importante, para a felicidade. A tríade "consciência, propósito e rotina/persistência" é um caminho prático para que gestores como você consigam integrar trabalho, família, saúde e lazer.
Coloque o equilíbrio como prioridade em 2025.
Até a próxima.