Os próximos 25 anos serão os mais importantes na história da agricultura

Edição XXIX | 01 - Jan . 2025
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
   A tarefa mais importante da agricultura é fornecer alimentos para o mundo. E, ao olharmos para o passado, podemos apontar momentos muito importantes e específicos para a história alimentar do nosso planeta.

   A descoberta das américas por Cristóvão Colombo no fim do século 15, por exemplo, trouxe trocas muito mais valiosas do que ouro e prata para a humanidade. Grãos de milho, tubérculos de batata, folhas de tabaco e sementes de girassol e tomate foram apenas algumas das espécies de importância agrícola logo levadas para cultivo na Europa em suas embarcações. Por outro lado, novas espécies de vegetais e animais chegavam ao “novo continente”, como uva, alface, banana, cebola e até mesmo soja. Este comércio veio a ser crucial para o desenvolvimento da vida em ambos os continentes.

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   A população começou a crescer tanto que o economista Thomas Malthus propôs em 1798 que, se não houvesse uma interferência "externa", a população mundial cresceria exponencialmente, mas a produção de alimentos não cresceria na mesma medida. Isso levaria a uma falta de alimentos no futuro e crises políticas e sociais inevitáveis.

   Hoje sabemos que as previsões de Malthus não se concretizaram como esperado pelo autor. Para ser justo, Malthus dificilmente poderia esperar que isso acontecesse, já que nada parecido havia acontecido antes. E nada disso foi planejado: foi o resultado acidental da convergência de várias tendências independentes. Três das mais importantes estavam relacionadas a mudanças na produção de alimentos: maior especialização, motivada pelo aumento da produtividade agrícola; o uso crescente de combustíveis fósseis; e uma ênfase crescente na importação e comércio internacional.

   O uso de tecnologias na agricultura, como a sintetização de amônia, a revolução verde e a evolução dos equipamentos e máquinas, entre outras, permitiram saltos substanciais na produtividade dos cultivos por todo o mundo.

   O melhoramento vegetal, especialmente, foi uma das principais "interferências externas" que Malthus não enxergou. A hibridação de variedades, organismos geneticamente modificados com diferentes finalidades (OGM) e o melhoramento convencional são algumas das muitas tecnologias que foram usadas neste campo e que têm aumentado muito a produtividade das variedades a cada safra.

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   O germoplasma à disposição de cada melhorista e sua diversidade são os principais fatores na agricultura. Segundo dados da FAO, para produzir a mesma quantidade de comida que há 50 anos, o mundo precisa, atualmente, de 68% a menos de terra, ou seja, apenas 0,32 hectares em comparação com um hectare em 1961.

   No entanto, o mundo se aproxima de uma nova encruzilhada, a qual irá definir o quão capazes seremos de nos alimentar no futuro.

   A África é a região com a maior porcentagem da população enfrentando fome, 20,4%, em comparação com 8,1% na Ásia, 6,2% na América Latina e Caribe e 7,3% na Oceania. No entanto, a Ásia ainda abriga o maior número: 384,5 milhões, ou mais da metade de todos os que enfrentam fome no mundo. Na África, 298,4 milhões de pessoas podem ter enfrentado fome em 2023, em comparação com 41 milhões na América Latina e Caribe e, 3,3 milhões na Oceania.

   Em 2023, estima-se que 28,9% da população global — 2,33 bilhões de pessoas — sofria de insegurança alimentar moderada ou grave, o que significa que não tinham acesso regular a alimentos adequados. Essas estimativas incluem 10,7% da população — ou mais de 864 milhões de pessoas — que sofriam de insegurança alimentar grave, o que significa que ficaram sem comida algumas vezes durante o ano e, na pior das hipóteses, passaram um dia inteiro ou mais sem comer.

   Em 2050, a população mundial será de 9,5 bilhões de pessoas, e muitos esperam que, a partir de então, tudo piore cada vez mais. Mas a realidade é que o crescimento populacional começará a cair drasticamente antes disso, pois estamos tendo menos filhos, e o número de crianças a nascer será cada vez menor. Todo o crescimento populacional nesses anos será porque as pessoas viverão mais.

   “Consequentemente, o desafio não é produzir cada vez mais comida para sempre. O desafio é chegar a 2050 sem desmatar todas as nossas florestas e secar todos os nossos rios, lagos e aquíferos. De agora até 2050, será cada vez mais difícil alimentar o mundo, mas depois de 2050 será cada vez mais fácil, se até então não tivermos arruinado o planeta”.

   Em outras palavras, em 2050, cada cidadão terá uma área média de 0,15 ha para cultivar, um índice 50% menor do que o que temos atualmente. Como resultado, são necessários investimentos significativos na agricultura e no ambiente rural para reduzir a pobreza, aumentar a renda e aumentar a segurança das pessoas por todos os cantos da terra.

   Nossa civilização sempre dependeu de uma "interferência externa" para garantir que possamos aumentar a produtividade de nossos cultivos. Com base em nossa história, o contínuo avanço da tecnologia é muito importante para mitigar tais perigos iminentes. O melhoramento vegetal é um exemplo de como isso pode ser feito.

   É verdade que a agricultura tem um impacto enorme sobre o ambiente: utiliza 40% da terra do planeta, 70% da água fresca e gera quase um terço das emissões que provocam a mudança do clima. No entanto, cerca de 800 milhões de pessoas, 10% da população mundial, todos os dias dormem com fome. Assim, parece que os sistemas agroalimentares são malsucedidos. Mas se pensarmos de onde viemos, a conclusão é muito diferente.

   Os dados mostram que temos feito progresso ao longo dos anos. Em nível global, sabemos que o crescimento populacional tem sido acompanhado por uma tendência de queda na fome. Nas últimas décadas, por exemplo, a proporção de pessoas subnutridas no mundo caiu, e, embora mais discreta, essa queda também é vista no número absoluto. O número de pessoas morrendo globalmente devido à ingestão insuficiente de calorias ou proteínas também caiu, de quase meio milhão na década de 1990 para menos da metade hoje em dia.

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   “Há 60 anos, 30% da população passava fome. E há 30 anos, eram 20%. Certamente, 10% é uma proporção terrível, e devemos fazer as coisas melhor. Mas estamos alcançando muito mais pessoas do que no passado. De modo que a pergunta é: quando os nossos sistemas agroalimentares foram melhores do que agora? E a resposta é que nunca o foram”.
“Por isso, os próximos 25 anos serão os mais importantes da história da agricultura. Precisaremos fazer bem as coisas e, se conseguirmos nesse período, temos a chance de sermos bons para sempre”.

   Essa afirmação foi proferida pelo professor Jack Bobo, diretor do Instituto de Sistemas Alimentares da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, reconhecido globalmente por sua tarefa inovadora em comunicação científica.

   O cientista, que também trabalhou no setor privado e no setor ambiental, indica dois fatores-chaves para acelerar o ritmo das transformações: que haja mais políticas públicas e maiores investimentos, com mais dinheiro e mais recursos, e que se coloque o foco nos consumidores.

   “Temos que incentivar que o público não só apoie a inovação, mas que também a demande. Isso requer que o consumidor entenda verdadeiramente o papel da inovação em nossa sociedade. Muitas vezes, falamos apaixonadamente sobre alimentação, mas não entendemos realmente como ocorre a produção, pois a maioria está muito longe das áreas rurais onde seus pais ou seus avós cresceram. Então, precisamos fazer um trabalho melhor, comprometendo os consumidores, para que demandem coisas que realmente sejam benéficas. Os desafios que temos pela frente são muito importantes, e ninguém os pode resolver sozinho. E temos apenas uma geração para alcançar os nossos objetivos”.

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   Hoje, os recursos naturais estão se deteriorando, e os ecossistemas estão estressados. Por isso, a produção sustentável de alimentos nunca foi tão importante para o futuro das próximas gerações. Assim, medidas conscientes e aplicações de práticas agrícolas eficientes e sustentáveis devem ser garantidas em todas as áreas agriculturáveis do planeta.

   A cadeia de produção de grãos e sementes têm alto poder de influenciar esta sustentabilidade agrícola por meio de políticas que eliminem práticas agressivas ao equilíbrio do meio ambiente e das culturas, como vazios sanitários apropriados, rotação de culturas, conservação do solo e avanço de tecnologias diversas no campo, aumentando a eficiência do uso dos recursos naturais cada vez mais escassos.

   “A Revolução Verde de meados do século 20 proporcionou um aumento muito necessário na produtividade agrícola para acompanhar o rápido crescimento populacional. Agora é hora de uma segunda revolução verde, em que a agricultura continua a fornecer alimentos de forma abundante e saudável, enquanto, ao mesmo tempo, promova a conservação e o uso dos ecossistemas e sua biodiversidade” (FAO).


   Principais pontos chave segundo a FAO:
- Um aumento de 60% na produção de alimentos deve ser alcançado até 2050, quando o crescimento populacional global resultará em mais de 9 bilhões de pessoas habitando o planeta;
- As plantas são responsáveis ​​por mais de 80% da dieta e nutrição humanas;
- 250 mil espécies de plantas superiores são identificadas, das quais 30 mil são comestíveis;
- Destas, 30 espécies de plantas representam culturas que alimentam o mundo, enquanto apenas cinco cereais (arroz, trigo, milho, painço e sorgo) fornecem 60% da ingestão de energia da população mundial.


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