No Brasil, com um perfil de produtor mais jovem, conectado e aberto a tecnologias e muito mais exigente, a qualidade da semente está cada vez mais acompanhada, e isso confere ao multiplicador de sementes a oportunidade de um diferencial competitivo no mercado.
Mas, afinal de contas, o que é mesmo qualidade de sementes? É apenas comercializar o vigor, e o produtor semear em solo e nascer? Talvez alguns acreditem nisso. Porém, quem trabalha e conhece bem o ativo biológico nobre da agricultura sabe que não é apenas um fator isolado que vai ser preditivo de sucesso de uma lavoura.
Como sempre, meus textos são embasados em literatura disponível; nela, pode ser encontrado que tecnicamente a qualidade de semente é definida como somatório de atributos: o genético, que envolve a pureza varietal, potencial produtivo, resistência ou tolerância à pragas; o físico, que abrange o grau de umidade, pureza física, peso da massa e volumétrico, forma, tamanho, aparência e imperfeições, como manchas, presença de clorofila (esverdeada), além de trincas, entre outros; o fisiológico, que abraça a germinação e o vigor, a dormência e a longevidade; e, por fim, o sanitário, associado à saúde da semente quanto a incidência de fungos, vírus, bactérias, nematóides, que são causadores de doenças, danos que carreiam prejuízos e, sobretudo, podem ser transmitidos aos campos, indenes ou não, deste ou daquele patógeno. Todos esses aspectos da qualidade são envoltos à legislação, pois o setor sementeiro é bastante regulamentado.
Há as Regras para Análises de Sementes (RAS), bússola condutora dos laboratórios de análises de sementes credenciados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), que contém os procedimentos básicos exigidos para a obtenção de amostras, para os métodos de avaliação, para a interpretação e indicação de resultados de testes de lotes de sementes para a produção e o comércio. Portanto, tudo é bem especificado em todos os âmbitos para que, ao aprovar um lote de sementes, este esteja em conformidade com as normativas determinadas para diferentes espécies.
Devemos entender que o foco do produtor inicialmente é dirigido ao estabelecimento da lavoura, a ser observado com rigor, de como está a emergência e o desenvolvimento de plântulas; neste ponto é que o potencial fisiológico, representado pela germinação e o vigor, será distinguido. Também somos conhecedores da influência que o ambiente de produção, tipo de solo, palhada, umidade do solo, temperatura no período e todo o manejo executado exercem para a formação do talhão semeado. Todas as imperfeições que existirem, tanto do lado do multiplicador de sementes quanto do produtor usuário dos lotes de sementes, serão evidenciadas.
Sementes com alto potencial fisiológico são capazes de germinar, de maneira rápida e uniforme, sob condições de variações de ambiente, e essa rapidez e o sincronismo são muito importantes para minimizar o grau de exposição da semente e/ou da plântula aos fatores adversos do ambiente. Qualquer que seja o indicativo que esteja incidindo para a frustração ocorrer, seja a deterioração da semente por fatores como umidade, insetos, danificações mecânicas, entre tantos outros possíveis, será motivo de reclamação. Por outro lado, o produtor usuário também deve ser ciente de que seus procedimentos para a semeadura e manejos adotados serão responsivos e, dependendo, podem acarretar problemas. Os conscientes assumem; já os inconscientes acusam a qualidade da semente, fato costumeiro no setor sementeiro.
Numa fase sequencial, conforme as plântulas se desenvolvem em plantas bem performadas, outras características são percebidas, a exemplo de contaminações genética (atualmente para a cultura da soja, há o comprometimento de tecnologias diferentes, e as aplicações de herbicidas podem carrear prejuízo, dependendo da tecnologia da planta contaminante). Podem ser denotadas a presença de patógenos, de acordo com o ambiente, para disseminação de doenças. Enfim, os outros atributos, além do fisiológico, também são questionados e motivos de reclamações. Estes fatos são importantes e devem ser averiguados e corrigidos, porque, como abordado no início do texto, os consumidores de sementes são muito mais atentos aos detalhes que podem significar menor rendimento ou prejudicar seus resultados.
Estamos caminhando, a cada instante, para a agricultura do futuro, que já é hoje. Vamos nos preparar e repensar nosso modo de ver e fazer as coisas e observar nossos automatismos adquiridos ao longo de um tempo, uma vez que quando nossos hábitos se tornam automáticos, deixamos de prestar atenção ao que estamos fazendo?
É imprescindível o entendimento dos envolvidos na produção agrícola de que os fatores não agem de forma isolada. Pode haver a interação. Portanto, o conjunto de procedimentos é que determina a base da qualidade como um todo. Ligar a consciência não faz mal nenhum.