O negócio de sementes no Brasil alcança mais de R$ 70 bilhões por ano, do qual soja e milho são as principais espécies: juntas representam 70% do mercado. Também são importantes as culturas de algodão, trigo, arroz, sorgo, forrageiras e hortaliças.
Em termos de importação e exportação, o país exporta principalmente sementes de forrageiras tropicais e, em menor escala, sementes de milho. Por outro lado, importa sementes de hortaliças, com ênfase nas híbridas.
A efetivação do negócio de sementes é viabilizada por um sistema que envolve vários atores, principalmente os produtores de sementes, obtentores de novas cultivares e eventos biotecnológicos, agricultores com suas representações, treinamento e pesquisa, governo e setor bancário. Este sistema possibilita a harmonia entre a criação e o desenvolvimento de novas e melhores cultivares, a produção de sementes em quantidade e qualidade, a adoção das inovações tecnológicas e capacitação de pessoal, o controle de qualidade, tanto interno como externo, e o devido financiamento.
Praticamente todos os atores do sistema de sementes possuem sua associação, sendo que a dos produtores de sementes possui associações estaduais. Assim, em nível nacional o país possui a ABRASEM (Associação Brasileira de Sementes e Mudas), que reune todas as associações de sementes, como as associações estaduais de sementes, ABRASS (Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja), ABCSEM (Associação dos Comerciantes de Sementes de Hortaliças), Unipasto (Forrageiras), CropLife (criação e obtenção de cultivares e eventos) e a ABRATES (Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes).
Neste contexto, a ABRATES participa da ABRASEM desde 2004, com voz e voto, sendo referência por sua neutralidade, pois, como se costuma dizer, “não compra e nem vende semente”, congregando professores, pesquisadores, responsáveis técnicos, consultores, empresários e outros profissionais dedicados ao negócio de sementes.
A ABRATES possui suas fortalezas na edição científica da revista Journal of Seed Science (JSS), no Congresso Brasileiro de Sementes (CBS) e no treinamento de pessoal. A publicação científica já abarcou várias inovações tecnológicas como vigor de sementes e sua relação com a produtividade, metodologia para análise de sementes, colheita, beneficiamento, armazenamento, biotecnologia, entre outros temas. A ABRATES possui sua publicação científica desde 1979, com 2.292 artigos publicados até a presente data. Enfatiza- se que cada artigo é revisado pelo menos por dois pesquisadores, evidenciando a qualidade da publicação.
O Congresso Brasileiro de Sementes (CBS) O CBS já foi realizado 22 vezes, sendo o último em setembro de 2024, na cidade de Foz do Iguaçu (PR); contou com quase 1,7 mil participantes, que, durante quatro dias, participaram do evento, composto por palestras, simpósios, visitas a estandes de empresas do negócio de sementes e alinhamentos de negócios.
Palestras O lema do CBS foi “Semente: matéria prima da sustentabilidade”. Várias palestras abordaram o assunto, enfatizando que o uso de sementes de alta qualidade das variedades melhoradas é uma das melhores estratégias para a sustentabilidade.
Neste sentido, destacamos a palestra proferida pelo doutor Geri Meneghello, que mostrou dados históricos da produção de grãos, compilados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 1993 a 2023, evidenciando que a área cultivada com grãos aumentou de 38 milhões para 68 milhões de hectares, enquanto a produtividade aumentou de 1,96 t/ha para 4,07 t/ha. Caso a produtividade não tivesse aumentado, teriam sido necessários mais de 160 milhões de hectares para termos a mesma produção de grãos, em vez de 68 milhões. Isto é um argumento bastante convincente de que a semente é um sujeito no tocante à sustentabilidade.
A programação do evento contemplou palestras sobre avanços tecnológicos e processuais, como colheita de sementes, secagem, beneficiamento, armazenamento, tratamento, logística, controle de qualidade, relações humanas e marketing.
A produção de sementes pode ser considerada como uma indústria a céu aberto, significando que é recomendável realizar a colheita assim que possível, utilizando para isso a dessecação e a secagem artificial das sementes. Entre os fatores que afetam a qualidade das sementes, a deterioração de campo é a mais prejudicial. Atualmente, os produtores de sementes realizam a dessecação em praticamente todos os campos de produção (soja), enquanto a secagem é realizada em 100% da produção de sementes de milho e arroz e mais de 70% para sementes de soja e trigo.
Em relação aos aspectos processuais, destacam-se o grande aumento do número cultivares que os produtores de sementes comercializam, alcançando normalmente mais de 30, o tempo para o beneficiamento das sementes, que praticamente termina junto com a colheita, e o número de avaliações da qualidade fisiológica das sementes, em que se avalia várias vezes durante o armazenamento.
O número de cultivares influencia os cuidados com as misturas varietais; o tempo para beneficiamento acarreta horas de trabalho por dia e tamanho ou número de equipamentos; e a avaliação da qualidade requer pessoal treinado.
Outras palestras foram sobre pessoal e marketing, destacando-se que são as pessoas que fazem as coisas acontecerem, pois os negócios não são realizados com CPF ou CNPJ, sendo constatado que não há talentos na prateleira e a contratação é por currículo, enquanto a demissão normalmente é por conduta. Por outro lado, o marketing está envolvido com o grande número de fusões e aquisições de empresas sementeiras e o posicionamento quanto aos avanços tecnológicos. Está aumentando o número de empresas produtoras de sementes com capital aberto na bolsa de valores. Isto é uma nova tendência.
Sessão Pôster O CBS é o evento por excelência para apresentar os trabalhos científicos desenvolvidos nas universidades, institutos, centros de pesquisa e outros locais. Neste ano, foram apresentados mais de 500 trabalhos, versando sobre fisiologia, biotecnologia, produção, beneficiamento, armazenamento, embalagem, entre outros assuntos. Várias espécies foram alvo de investigação, como as grandes culturas, forrageiras, olerícolas, silvícolas e de cobertura.
Em geral, os trabalhos mais robustos são encaminhados para a revista Journal of Seed Science, publicada pela ABRATES. Também merece registro a predominância dos autores no início da carreira profissional, quer seja na pesquisa, ensino ou responsabilidade técnica, sendo jovens atuando na iniciação científica, mestrado e doutorado. O país possui excelentes centros de capacitação profissional.
Showroom Tecnológico A grandeza do negócio de sementes no Brasil é uma das maiores do mundo, envolvendo a criação e o desenvolvimento de cultivares como também de máquinas, equipamentos, produtos e serviços. São mais de 500 unidades de beneficiamento de sementes no país, quase 300 laboratórios de análise de sementes e mais de três milhões de hectares plantados para semente, que devem ser colhidos em um período de 30 a 40 dias. As cifras investidas para a produção, beneficiamento e análise de sementes são de alguns bilhões de reais por ano.
Assim, o Showroom Tecnológico é um excelente local para negócios, que neste ano contou principalmente com empresas do setor de tratamento de sementes (máquinas e produtos), embalagem, controle de qualidade (serviços e equipamentos), beneficiamento, controle de qualidade, rastreabilidade, entre outros.
Merece registro o consenso entre os expositores de que o evento da ABRATES é o local em que se encontra a pessoa que decide a compra para a empresa de sementes, pois possui os conhecimentos técnicos adequados, em geral sendo o responsável técnico da empresa de sementes. Por outro lado, o dono da empresa discute o preço e as condições de pagamento.
O congresso da ABRATES é um robusto evento, contemplando avanços tecnológicos, ciência e tecnologia, atualizações e, não menos importante, um excelente local para negócios
Simpósios A ABRATES possui quatro comitês técnicos: patologia de sementes, sementes florestais, sementes de forrageiras e análise de sementes. Estes comitês discutem os avanços científicos e tecnológicos de cada área. O mais recente é o de análise de sementes, que durante o CBS discutiu, com o pessoal do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), a proposta de atualização das regras de análise de sementes (RAS).
As regras de análise de sementes são essenciais para o negócio de sementes, pois, para a comercialização, são estipulados, por exemplo, padrões mínimos de qualidade, como 80% de germinação e 99% de pureza física para as espécies de grandes cultivos (soja, milho, arroz, trigo, algodão, sorgo), cuja avaliação deverá seguir um protocolo constante nas RAS.
São centenas de espécies que se propagam por sementes, e cada uma delas tem suas especificidades para o teste de germinação, como temperatura, umidade, luz, dias para avaliação, substrato, superação de dormência, amostragem e preparação. Estas especificidades e outras são contempladas nas RAS, sendo recomendável atualizações periódicas.
O pessoal do ministério apresentou as principais atualizações das RAS, como amostragem em big bags, semente tratada, semente revestida, testes de vigor, entre outros. Em relação aos testes de vigor, foi salientado que este é um aspecto comercial, não sendo possível ainda colocar nas RAS, devido à uniformização de metodologia na condução dos testes e padrão de qualidade. Há vários testes para avaliação da qualidade fisiológica das sementes utilizados no controle interno de qualidade das empresas que não estão nas RAS.
Considerando que a presente proposta de atualização e ampliação das RAS está sendo colocada para consulta pública, estima-se que até o fim ano teremos novas RAS. O comitê de análise da ABRATES deu e dará sua contribuição para as RAS, por meio da experiência e do conhecimento de seus membros. O negócio de sementes do país necessita de padrões e procedimentos sólidos para prosperar e gerar riqueza.
Algumas considerações A ABRATES possui sua fortaleza principalmente na edição da revista científica Journal of Seed Science, que já publicou mais de 2,2 mil artigos desde 1979, na realização de seu congresso, que já chegou em sua 22ª edição, e nos quatro comitês técnicos, tudo realizado de forma voluntária por seus associados. A revista publica as inovações do setor, o congresso reúne os profissionais que viabilizam a disponibilidade de sementes de alta qualidade ao agricultor e os comitês discutem as especificidades.
Também merece registro a participação da ABRATES na ABRASEM como entidade sem fins lucrativos, servindo como referência nos pleitos da entidade no sistema brasileiro de sementes.