A deterioração de campo é uma das principais causas que afeta a qualidade das sementes; ela acarreta a necessidade de se colher assim que possível, normalmente com umidade das sementes acima de 18-20%, para várias espécies. Inclusive, em milho, colhe-se em espiga com umidade entre 30 e 35%, praticamente no ponto de maturidade das sementes. Entretanto, com clima favorável de baixa temperatura e umidade, bem como com baixa incidência de chuva e de orvalho, na colheita, um percentual das sementes, para a maioria das espécies, é colhido seco (12-13% de umidade).
Vale ressaltar que, em muitos locais, a ocorrência de alta incidência de chuvas na colheita associada à elevada temperatura ambiental tornam imperativa a realização do início da colheita antecipado e no momento propício para a preservação da qualidade de sementes, como vem sendo observado na produção de sementes de soja de alta qualidade.
Por outro lado, em algumas espécies, 100% da produção de sementes é seca artificialmente, como é o caso de arroz, que além da deterioração de campo também é altamente suscetível ao degrane natural e à formação de fissuras, ocasionados por alto gradiente de umidade e/ou temperatura entre a semente e o ambiente.
Desta maneira, as sementes colhidas com alta umidade necessitam ser secas rapidamente, até um nível de 12 a 13% de umidade, para possibilitar um armazenamento seguro por um período de seis a oito meses. Assim, para produção de sementes em larga escala, se utilizam secadores que forçam a passagem do ar pelas sementes, sendo, na maioria das vezes, aquecido.
Para a secagem artificial, modificam-se as propriedades físicas do ar, quais sejam a umidade relativa (UR) e temperatura (°C), além da utilização de adequados fluxos (m³/min/t). Exemplificando, quanto menor a UR, menor será a umidade de equilíbrio das sementes com o ambiente, assim como quanto maior a temperatura, menor a UR, e, com o aumento do fluxo de ar, maior será a velocidade de secagem. Assim, os sistemas de secagem são dotados de uma fonte de aquecimento e um ou mais ventiladores, além de compartimento para conter a semente.
No mercado, existem vários tipos e modelos de secadores, todos adequados para secar sementes, desde que em operação sejam devidamente ajustados. Existem os estacionários, nos quais as sementes não se movem, e o controle precisa ser realizado, basicamente, pela UR, devendo estar entre 40 e 70%, visando minimizar a ocorrência de super secagem ou sub secagem; há também os contínuos, em que o controle é realizado, prioritariamente, pela temperatura do ar de secagem; por fim, existem os intermitentes, em que a semente realiza mais de uma passagem pelo secador para completar a secagem, sendo o seu controle mais importante a temperatura do ar de secagem. Dentro de cada tipo de secador, há vários modelos, conforme o fabricante.
Enfatiza-se que a velocidade de secagem é função, principalmente, da UR e do fluxo de ar, sendo que nos secadores estacionários a UR do ar de secagem, de referência, é de 40%, e o fluxo de ar, ao redor de 10-12 m³/min/t. Por sua vez, nos contínuos, a UR varia entre 15-20% ao empregar temperatura do ar de secagem de 45-50 °C e fluxo de ar ao redor de 50-60 m³/min/t, enquanto nos intermitentes, a UR pode atingir 10-15% com temperatura de 50-60 °C e o fluxo de ar 50-55 m³/min/t. Salienta-se que a temperatura máxima da semente, de modo geral, não pode ultrapassar a 38-42 °C, conforme a espécie, umidade inicial e tempo de exposição.
Estas diferentes propriedades físicas do ar proporcionam diferentes velocidades de secagem, sendo nos estacionários ao redor de 0,20 a 0,25 pp/h (redução de um ponto percentual de umidade a cada 4 a 5 horas), nos contínuos de 0,8 a 1,0 pp/h e nos intermitentes entre 1,0 a 1,5 pp/h, dependendo da espécie e das condições operacionais de secagem. Este dado é importante para o cálculo da capacidade de secagem de um empreendimento.
O desafio “Como professor, tive oportunidade de ministrar aulas e proferir palestras para responsáveis técnicos pela produção de sementes, sendo que numa ocasião, durante um curso sobre tecnologia de pós-colheita para arroz, com mais de 30 participantes na sala, um dos alunos contestou uma afirmação minha.
Gosto de perguntas, pois possibilitam uma melhor interação entre professor e o aluno; assim, numa passagem da aula em que mencionava a capacidade de secagem dos secadores intermitentes, sendo de três a quatro cargas por dia, um dos alunos contestou dizendo que em sua unidade de secagem era apenas de uma carga por dia (24 horas). Repeti dizendo que em secadores intermitentes era possível secar várias cargas por dia, devido a sua maior velocidade de secagem pela utilização de alto fluxo de ar e baixa UR. Não adiantou, o aluno continuou contestando e a solução foi perguntar onde era sua unidade de secagem para uma checagem presencial”.
A unidade de secagem de arroz situava-se no município de Rosário do Sul (RS), distante ao redor de 300 km do município de Pelotas (RS), nosso local de trabalho. Assim, como estava na época de colheita, acertamos que no próximo fim de semana seria realizada uma visita. Convidei o colega Francisco Amaral Villela, reconhecido como entendido no assunto, para acompanhar-me na viagem e auxiliar na elucidação da ocorrência da baixa capacidade de secagem dos referidos secadores intermitentes.
A unidade de secagem consistia em quatro secadores com capacidade estática de 6 t cada um e uma fornalha a lenha. Chegamos cedo na unidade, por volta das 9h e começamos a examinar o sistema, assim constituído: pré-limpeza, elevadores, ventilador de cada secador, termômetros, determinador de umidade e fornalha.
A checagem consumiu umas duas horas e não conseguimos detectar nada de anormal, sendo que por volta das 11h começou a chegar semente úmida do campo, momento que possibilitou acompanhar a secagem. Realmente, a velocidade de secagem estava inferior a 0,5 pp por hora, significando uma capacidade de secagem de uma a duas cargas por dia, como o aluno dizia.
Em uma unidade de secagem em operação, há alguns controles, entre eles a temperatura do ar de secagem, que no caso dos intermitentes é regulada pela mistura de ar quente da fornalha com ar do ambiente (abrindo ou fechando uma janela). Assim, fomos buscar a entrada de ar frio para misturar com o ar da fornalha e não o encontramos, ou seja, não havia. Assim, a temperatura do ar de secagem era a mesma que saia da fornalha, que em princípio não tinha problema a não ser o fato de o fluxo de ar ser baixo, em cada secador, afetando a velocidade de secagem.
A solução foi abrir uma janela no duto de entrada para os secadores, a fim de misturar com o ar oriundo da fornalha (há uma mistura de ar quente e frio resultando na temperatura desejada). Somente isto aumentou o fluxo de ar e, consequentemente, a velocidade de secagem aumentou para 1,3 pp de umidade por hora, resultando numa capacidade de secagem de três a quatro cargas por dia.
Final feliz para os professores e para o responsável técnico, pois realmente seus secadores operavam com baixa capacidade de secagem devido ao baixo fluxo de ar ocasionado por não contemplar a mistura de ar frio e quente no sistema.
A secagem de sementes é uma operação bastante complexa, requerendo conhecimentos específicos sobre as propriedades físicas do ar, do secador e das características físicas da semente, como umidade, suscetibilidade a danos mecânicos e térmicos. Entretanto, a potencial deterioração de campo das sementes pode ser apenas minimizada pela antecipação de colheita seguida de secagem artificial das sementes, podendo requerer, conforme a espécie, uma capacidade instalada de 80 a 100% da produção, sendo esta essencial para a obtenção de sementes de alta qualidade em quantidade.