Desafios no cultivo do algodoeiro no aspecto fitossanitário

Edição XXVII | 02 - Mar . 2023
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   O Brasil é um dos países de destaque mundial na produção de algodão. De acordo com dados da Conab, o Mato Grosso concentra a maior área cultivada, seguido pelo oeste baiano, que cultiva em torno de 80%, e os 9% restantes estão divididos entre outros 13 estados. Existe a expectativa de produzir na safra 2022/23 algo próximo a três milhões de toneladas.

   Como observado, a maior produção se concentra no Brasil Central e no Nordeste. A justificativa do MT ser o que produz mais está em função de várias situações, entre as quais a vasta extensão de áreas planas, que favorecem a mecanização e permitem otimizar insumos. 

   A cotonicultura no Cerrado brasileiro é uma atividade consolidada de importância econômica relevante, e sua expansão tem favorecido a incidência e a severidade de doenças, com isso, proporcionando aumento de inoculo nos campos. Vale lembrar que o algodoeiro é uma cultura afetada por muitos agentes patogênicos, sendo a maioria deles fungos. 

   As condições climáticas nessas regiões muitas vezes apresentam ambiente favorável ao desenvolvimento de patógenos, com altos índices pluviométricos e elevadas temperaturas, propiciando o estabelecimento de doenças, que reduzem a produtividade e da qualidade da fibra.

   O fungo Ramularia areola é o causante da mancha de Ramulária, uma das doenças principais no Cerrado. É também conhecida como falso oídio ou mancha branca, atribuído pelas lesões brancas de formato angular e aspecto cotonoso. Foi por muito tempo considerada doença de ocorrência secundária na cultura do algodão, porém, tal mal foi agravado pelo aumento de áreas e utilização de cultivares suscetíveis.

   A doença pode provocar abertura precoce dos capulhos e interferir na qualidade da fibra. Em condições de alta severidade, ocorre a desfolha precoce, sobretudo de folhas do terço inferior da planta. Como estratégia de manejo, se evidencia o controle químico.

   Já a ramulose é uma doença importante devido sua fácil dispersão. O agente causal é o fungo Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides. As estruturas do patógeno sobrevivem em restos culturais presentes no solo e podem ser transportados por sementes contaminadas, sendo a ação fúngica  facilitada pelas condições ambientais. A infecção pelo fungo ocasiona a morte do meristema apical, levando à quebra da dominância apical, gerando ramificações dos galhos, redução dos internódios e superbrotamento. 
Semelhante à ramulária, o melhor manejo também é o controle químico.

   Embora as duas doenças citadas sejam conhecidas como as mais destacadas, no algodoeiro, pode haver ainda alguns outros fungos que promovem perdas, a exemplo da Sclerotinia sclerotiorum, causador da doença Mofo Branco. Patógeno cosmopolita, sua ocorrência é endêmica, tem grande capacidade de destruição em diversas espécies de importância econômica, necrotrófico e no universo de seus hospedeiros constam mais de 400 espécies de plantas. 

   A identificação do Mofo Branco, de maneira geral, é feita com base em observação de seus sintomas característicos nas plantas: murcha, necrose e podridão úmida da haste, do pecíolo, da folha e da maçã e a presença dos micélios de coloração branca nos ramos e nos capulhos. A erradicação do fungo, após introduzido na área, é quase impossível, sendo necessária a convivência com a doença por ele causada. Com relação ao controle, para evitar o Mofo Branco deve-se utilizar sementes sadias, controle químico, controle biológico, estande adequado de plantas e fazer rotação com culturas não hospedeiras.

   Não menos importante há a Murcha de Fusarium ou Fusariose, causada pelo fungo Fusarium oxysporum f. sp. Vasinfectum, que sobrevive no solo por vários anos, por meio de estruturas de sobrevivência, os clamidósporos. O patógeno ataca as raízes e coloniza o sistema vascular, provocando a murcha, o amarelecimento e a queda das folhas, além do escurecimento dos vasos condutores de seiva. Tem a capacidade de causar a morte das plantas jovens poucos dias após o aparecimento dos primeiros sintomas externos ou ainda comprometer a produtividade das plantas mais velhas infectadas, que ficam enfezadas e sofrem severa redução de crescimento.

   Atenção especial deve ser prestada em áreas que têm nematoides, especialmente espécies do gênero Meloydogine, Pratylenchus e Rotylenchus, devido aos ferimentos causados nas raízes; a infecção é facilitada ao fungo, predispondo, ainda, o hospedeiro à ação do patógeno, podendo aumentar a severidade da Murcha de Fusarium no algodão. Quanto ao manejo, semeadura com cultivares resistentes e utilização de tratamento químico nas sementes ajudam na redução da doença, nos locais mais propícios ao seu desenvolvimento.

   Em se tratando de tombamento de plântulas, uma das principais doenças nos estádios iniciais da lavoura de algodão é a do fungo Rhizoctonia solani, que atua em complexo com outros fungos presentes no solo. O tombamento causa perdas expressivas de parte do estande, sendo necessária operação de ressemeadura. Na atualidade, medidas de controle se concentram no tratamento químico das sementes.

   Como abordado, quem vê as lavouras exuberantes no final do ciclo, prontas para a colheita, não tem noção de como a cultura do algodoeiro poder ser afetada por diferentes tipos de fitopatógenos com grande potencial para prejudicar as características físicas da fibra e a perda de produtividade. 
Nosso ouro branco destaca o Brasil como o segundo grande produtor, mas quem o produz sabe o custo de produção e todos os manejos necessários para fazer a commodity agrícola ser relevante no mercado mundial. Nossos guerreiros produtores seguem em frente superando todas as adversidades e as expectativas de sempre! 
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