Série Desafios: Participação na ABRATES, ABRASEM, ISTA e ISF

Edição XXVII | 02 - Mar . 2023
Silmar Teichert Peske-silmar@seednews.inf.br
   Desempenhei minhas atividades profissionais por 40 anos na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), como professor e pesquisador na área de Sementes, o que propiciou o meu envolvimento em entidades científicas e/ou comerciais do setor, como a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (ABRATES), a Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), a Associação Internacional de Análise de Sementes (International Seed Testing Association - ISTA) e a Federação Internacional de Sementes (International Seed Federation - ISF).

   Participação na ABRATES   
   Sou membro da ABRATES desde 1976 e muito me honra ter sido presidente da entidade em dois períodos: 2003/05 e 2005/07.

   A ABRATES possui sua fortaleza com duas atividades principais, a publicação da revista científica Journal of Seed Science (antiga Revista Brasileira de Sementes) e a realização do Congresso Brasileiro de Sementes.

   A revista
   A qualidade de uma revista envolve vários parâmetros, entre eles a pontualidade e a periodicidade. Neste sentido, a revista estava com atraso na publicação, requerendo uma ação para normalizar as edições, a qual foi tomada com o envolvimento da equipe de docentes da UFPel, liderados pela professora Maria Ângela Tillmann, que, em seis meses, colocou a revista em dia. Também colaboraram, como editores, colegas de outras instituições de ensino e pesquisa.

   A revisão detalhada de um trabalho científico requer conhecimento e muito trabalho, pois frequentemente é solicitado ao autor informações adicionais para melhor clareza do trabalho, devendo estas serem atendidas dentro de um prazo. A dinâmica para publicação das edições da revista foi tal que se decidiu aumentara a periodicidade de duas edições por ano para três. Isto evidenciou a importância da revista para a divulgação das inovações tecnológicas na área de Sementes.

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   O Congresso de Sementes
   Os congressos da ABRATES possuem historicamente mais de mil participantes, significando que muitas atividades devem ser desenvolvidas para que o evento esteja a contento dos participantes. Neste sentido, os eventos da ABRATES são reconhecidos como de alto padrão, o que facilita, em parte, a captação de recursos e o desejo da comunidade sementeira em participar do evento.

   Houve dois congressos na minha gestão, o de 2005 e o de 2007. O congresso de 2005, contou com vários palestrantes estrangeiros, como os doutores J. Delouche, M. McDonald e S. Mathews, especialistas em Fisiologia de Sementes. O sucesso de um congresso também se avalia pelo número de participantes, as discussões paralelas e os estandes montados pelas empresas de sementes no showroom, e isto foi altamente satisfatório.

   Em relação ao congresso de 2007, que foi realizado em conjunto com a ISTA, este requereu muito trabalho para sincronizar os objetivos da ABRATES com os da ISTA. Cabe destacar a participação de 400 participantes do exterior (de um total de 1,4 mil), sendo que alguns necessitavam de permissão especial para obterem o visto de entrada no país, como foi o caso dos participantes de Taiwan, para os quais uma carta teve que ser remetida às autoridades brasileiras, assim como explicações detalhadas por telefone.

   Participação na ISTA
   No congresso de sementes da ISTA de 2004, o Brasil foi escolhido como sede do próximo congresso da entidade, o de número 28, em 2007, sendo a ABRATES a entidade nacional a realizá-lo. Como presidente da ABRATES, fui alçado como 2º vice-presidente da ISTA e membro do conselho executivo, e assim permaneci até 2007.

   A participação na diretoria da ISTA fez com que alguns laboratórios de análise de sementes, que estavam pensando credenciar-se junto a ISTA para emitirem o certificado de qualidade laranja (Orange Certificate), agilizassem os procedimentos para tal fim, como foi o caso da empresa de sementes Matsuda e do laboratório de sementes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em Belo Horizonte (MG). Os dois concretizaram a iniciativa.

   A participação no conselho executivo (CE) da ISTA foi realmente gratificante em termos pessoais e profissionais, pois tive oportunidade de interagir com pessoas de diversos países, com programas de sementes incipientes ou maduros, em que a agenda de prioridades dos membros é bem diversa. Neste sentido, tive oportunidade de sugerir estudos sobre sementes de espécies forrageiras tropicais, para inclusão nas regras de análise de sementes, área esta em que o Brasil é o principal produtor.

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   Destaco três situações que marcaram minha memória: 1- Reunião do CE na Holanda, numa cidade chamada Emmeloord, em que o hotel ficava 3 m abaixo do nível do mar (fiquei assustado); 2- Reunião em Bangcoc (Tailândia) em que fui recebido antes da imigração por um colega tailandês que tinha sido meu contemporâneo na Mississipi State University (EUA) (surpresa agradável) e 3- Zurique (Suíça), em que me hospedei num hotel que ficava um pouco longe do centro da cidade, requerendo utilização de trem para locomoção em que tive dificuldade de comprar o ticket, sendo auxiliado por um casal que simplesmente tocou com a mão na tela do monitor para realizar a compra (embaraçoso).   

   A atuação da ISTA no negócio de sementes é reconhecida e está em franco crescimento, pois no meu tempo, até 2007, haviam cem laboratórios credenciados para emitirem o certificado laranja; agora, em dezembro de 2022, já eram mais de 150. Um aumento substancial.

   Participação na ABRASEM
   Em 2004, a ABRASEM convidou a ABRATES para tornar-se uma das associadas da entidade sem custos para participação, sendo aceito. Como presidente da ABRATES, participei de várias reuniões, destacando-se as discussões sobre a cobrança da Taxa Tecnológica (TT) referente a soja RR e a liberação do milho transgênico, entre outros.
Em relação a TT, as discussões eram acaloradas com a empresa detentora da patente, principalmente quanto ao valor sugerido, o sistema de cobrança e amplitude de isenção para aquele agricultor que comprasse sementes da soja RR. Quanto ao valor da TT, chegou-se a um consenso; entretanto, a novidade consistia na proposta que haveria uma checagem na moega de recepção do grão, a qual a empresa garantiu que era viável (o que foi confirmado). Por outro lado, a isenção de colheita requereu uma boa explicação, pois dever-se-ia evitar a bitributação, em que se acordou uma produtividade de 4,3 t/ha (atualmente é mais) com o máximo para aquele agricultor que comprasse semente de soja RR.

   Em 2007, estavam acaloradas as discussões sobre a liberação comercial do milho geneticamente modificado, e, para isso, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) realizou uma audiência pública no senadinho para discutir a situação, em que nove pessoas foram destacadas para falarem a favor e nove contra. A ABRASEM me convenceu (após forte insistência) que eu deveria ser um dos nove para falar a favor. Estou acostumado a falar em público, entretanto, nesta oportunidade, terminei a apresentação e a sessão de perguntas com o coração acelerado (felizmente tudo terminou bem).

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   Participação na ISF
   A ISF escolheu o Brasil para realizar seu congresso anual de sementes em 2012, possibilitando que a ABRASEM indicasse uma pessoa para fazer parte do conselho executivo (CE) da entidade. Neste sentido, fui o indicado; entretanto, houve necessidade de detalhar minhas atividades junto ao setor privado (como professor universitário não era possível), que consistiam em minha participação na revista SEEDnews e em consultorias junto a produtores de sementes (fui aceito sem restrições). 

   Participei no CE da ISF de 2008 a 2012, período em que vários assuntos relacionados ao comércio de sementes foram discutidos, como proteção de cultivares, patentes, nível de presença de organismos geneticamente modificados, aspectos sanitários, entre outros. Destaco as discussões sobre a patente de materiais GM, em que um grupo de países colocavam fortes restrições, pois a patente, além de ser uma forte proteção indo até o material industrial, também não apresenta a isenção do melhorista; isso significa que durante todo o tempo de proteção o melhorista não tem permissão para usar o OGM em seus programas de melhoramento.  Após várias reuniões, não houve consenso.

    O negócio de sementes envolve ciência, tecnologia, plataforma legal, comércio e, principalmente, a produção de sementes de alta qualidade em quantidade das variedades melhoradas. A harmonia entre estes aspectos faz com que um programa tenha sucesso.

    Creio que minha caminhada, com origem na academia e forte exposição no setor produtivo, foi um desfio para contemplar a harmonia entre os interesses comerciais com os considerados científicos/tecnológicos. O programa brasileiro de sementes possibilita esta caminhada.
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