Desenvolvimento Verde das Indústrias Sementeiras

Edição XXVI | 06 - Nov . 2022
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    Em 4 e 5 de novembro de 2021, foi realizada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em formato online, a Conferência Global sobre o Desenvolvimento Verde das Indústrias Sementeiras. No evento foram discutidos vários pontos importantes que merecem destaque. 

    Os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) elaborados pela FAO destacam a premente necessidade de a agricultura e suas indústrias relacionadas moldarem-se às novas práticas produtivas, adequando-se às dimensões social, ambiental e econômica da sustentabilidade. 

    É nítido que a agricultura do futuro será cada vez mais impactada por novos conceitos, sistemas produtivos e metodologias muito além dos sistemas convencionais até então existentes.

   Avanços notáveis em genômica, química, física, nanotecnologia e tecnologias digitais de informação têm permitido o crescimento do setor agrícola em nível global com sustentabilidade. Neste aspecto temos evoluído muito em tecnologias limpas, energias renováveis, descarbonização das indústrias, sistemas agropecuários mais resilientes, desenvolvimento de novas cultivares e tecnologias digitais.

    Este contexto de mudanças, mas também de riscos e desafios, traz diversas implicações aos sistemas alimentares globais, que são a ligação entre segurança alimentar, nutrição, saúde humana, mudanças climáticas e justiça social. 

    O evento destacou ainda que os consumidores estão cada vez mais interessados em adquirir produtos com aromas, sabores e novas experiências sensoriais e com aspectos diferenciados, tendo enorme potencial para a inclusão social, geração de riqueza e desenvolvimento em áreas rurais.

    A agricultura é uma atividade altamente desafiadora considerando os riscos biológicos, climáticos e comerciais que sempre estão presentes. Atualmente está em curso um processo de intensificação agrícola nos principais países produtores de alimentos. E o que isso implica? Basicamente estamos buscando produzir mais em um mesmo espaço, ou seja, precisamos ser cada vez mais eficientes. Porém precisamos fazer isso cuidando melhor e até, em alguns casos, recuperando o solo e a água. Em relação às plantas, é necessário desenvolver cultivares mais tolerantes às intempéries climáticas, mais resilientes e ao mesmo tempo produtivas. Ainda, precisamos diversificar nossos sistemas produtivos pelas já conhecidas técnicas de rotação, sucessão e consorciação. Para produzir mais por área necessitamos melhorar a fertilidade e a conservação dos solos e otimizar a gestão de doenças, pragas e ervas. No manejo de pragas e ervas, temos uma gama de produtos biológicos sendo utilizados com sucesso em diversas lavouras anuais e perenes por todo o país. Somado a todas essas práticas já mencionadas ainda podemos lançar mão de um arsenal de ferramentas digitais para semear na época mais adequada, predizer comportamento climático, monitorar pragas e doenças, aplicar produtos na dose correta com mínima deriva, orientar sobre o desenvolvimento das plantas, dentre outros. 

    Essa gama de tecnologias disruptivas aliadas a uma necessidade de atender a demanda por alimentos, fibras e energia em qualidade e quantidade com sustentabilidade exige uma mudança nos modelos de governança, políticas públicas e capacitação em todos os níveis.

    Neste cenário desafiador, indústrias e negócios terão que evoluir integrando capacidades e domínios de conhecimento para auxiliar a fortalecer os sistemas agrícolas e áreas rurais para poder fazer frente às mudanças e desafios que irão forjar a agricultura e os sistemas alimentares do futuro.

    A indústria sementeira, conforme apontado no evento, pode ser considerada uma das mais importantes neste contexto, considerando o grande impacto que vem tendo no último século. A imensa maioria dos avanços tecnológicos da agricultura “entram” no sistema pela semente. Aumentos progressivos de rendimentos têm sido atingidos desde a obtenção dos híbridos de milho na primeira metade do século 20, seguido pela Revolução Verde nas décadas de 1960 1970, e, mais recentemente pela biotecnologia, no final dos anos 1990 e nos anos 2000.

    Com o “acúmulo” de novas tecnologias e a busca pela sustentabilidade das cadeias produtivas do agro, mais do que nunca a semente é o ponto de partida para uma agricultura mais resiliente, segura, produtiva, capaz de enfrentar os desafios atuais e futuros como a segurança alimentar global.
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