O futuro depende do agora

Edição XXVI | 03 - Mai . 2022
    O ano de 2050 é logo ali. Faltam menos de 30 anos. Momento em que, segundo estimativas da ONU, seremos 9,7 bilhões de habitantes no planeta e com uma renda per capita bem maior do que a atual. A Índia, por exemplo, ultrapassará a China como país mais populoso do mundo daqui a 5 ou 6 anos.

    A demanda global, principalmente por alimentos, fibras e energia, será ainda mais expressiva e crescente. Nesse ambiente nos candidatamos decidida e honrosamente para assumir a posição de um dos principais, se não o principal, fornecedor mundial.

   Claro que isso não é sem motivo. Se olharmos para trás e analisarmos a realidade do agronegócio dos outros 30 anos anteriores ao momento atual, veremos o salto extraordinário, talvez sem precedentes na história, que o modelo brasileiro de produção foi capaz de dar nesse curto espaço de tempo em algumas atividades.

   Não sei se seremos capazes de repetir a magnitude desse feito, mas precisamos analisar de forma objetiva o que nos trouxe até aqui, fazendo desse país um dos Top 5 na maioria dos produtos do agronegócio mundial, seja na produção, na transformação ou exportação.

   Tecnologia e gente
   Muitos foram os elementos que contribuíram nessa arrancada, mas decididamente inovação tecnológica, uso intensivo de tecnologias e espírito empreendedor foram fatores determinantes para alcançarmos esses resultados expressivos.

   Nesse sentido, gente e suas competências são cada vez mais importantes para o nosso sucesso. Não me refiro apenas aos colaboradores nas organizações, mas também aos gestores, executivos e os próprios empreendedores.

   Existe uma dinâmica de mudanças em andamento de tal modo intensa que muitos se sentem incompetentes simplesmente por não conseguirem acompanhar o ritmo das mudanças em curso, tanto nas áreas técnicas como nas de gestão.

   Contudo, precisamos entender que nada disso foi feito do dia para a noite. As tecnologias não foram criadas e massificadas de uma hora para outra. Nossa gestão não passou do arcaico para o moderno entre um ciclo e outro. Foram pequenas ações diárias na direção correta que nos levaram a este patamar e que devem nos conduzir nesse novo horizonte, com a diferença de que agora com mais rapidez e intensidade.

   Não precisamos reinventar o futuro
   Contudo, se olharmos para trás com atenção nesses últimos 30 anos, perceberemos que muita coisa que fizemos continua servindo de modelo para o futuro. Os tempos são outros, mas algumas práticas são perenes e nunca perdem a importância. Por isso, não precisamos sempre reinventar o futuro.

   Nesse sentido é fundamental a compreensão de que nossos avanços individuais e organizacionais, na melhoria das nossas competências e de nossos resultados, ocorrem de modo cadenciado, sem interrupções, e não aos saltos como muitas vezes gostaríamos. Como uma grande corrida de obstáculos, onde cada um faz a sua parte e nunca para.
Claro que o momento é tenso. Estamos todos impacientes. O mundo está impaciente. Estamos acelerados, queremos encontrar o sucesso rápido, com o menor esforço possível e de preferência ainda uma maneira de nos manter por lá ad aeternum.

   A massificação da internet e os demais meios de comunicação têm sido impulsionadores destacados para essa histeria generalizada. Queremos aprender rápido, criar um negócio rápido, ficar rico rápido e assim por diante. E sermos felizes logo. Entramos num looping de pressão psicológica insana. De crianças a idosos, ninguém está imune.

   A busca de um milagre
   Mais do que isso, busca-se pelo milagre: o caminho a ser seguido para que esses desejos se realizem sem muito esforço. Queremos que nos ensinem o atalho, quando a maioria de nós já sabe qual a estrada que deveríamos seguir. Deixamos nos guiar pelas exceções dos modelos fáceis.

    Nessa toada, basta uma breve pesquisa pelas mídias sociais e encontraremos gurus e startups de todo o tipo prometendo os milagres que os desavisados buscam. Há muita promessa em novos projetos no agronegócio que ainda carecem de comprovação. Mas, precisamos baixar a tensão e permitir que a racionalidade tome conta. Ninguém morre de véspera.

   O fato é que, à exceção de alguns poucos, muitos ‘cases’ não tem a necessária experiência ou apresentam no máximo algum sucesso raso e experimental, mesmo assim, tentam nos dizer como obter sucesso dinâmico, quando eles próprios muitas vezes ainda engatinham nas suas realizações.

   A questão adicional é que de tanto ver proliferar os promotores da felicidade alheia e a mágica da competência fácil, centrados no marketing amplo e agressivo, cada vez menos pessoas se dão conta de que o afinco, a dedicação e a consistência, dentre muitas outras, são na verdade os componentes do caminho do sucesso.

   Sabe-se que tudo está acelerado, que os demais players também estão se movendo para fazer frente a essa capacidade que o agronegócio brasileiro tem demonstrado, e isso obviamente precisa ser levado em consideração.

   Mas precisamos colocar a bola no chão se quisermos continuar como protagonistas nesse ambiente. Não podemos esquecer que a felicidade é produtiva. Que pessoas felizes geram mais e melhores resultados, além de engajarem melhor as pessoas que trabalham com elas. Mas também é algo que não se realiza no curto prazo.

   As ações inúteis que nos levam ao sucesso.
   Existe um raciocínio que serve para qualquer situação e foi assim que chegamos até aqui. Se desmontarmos o caminho para os nossos objetivos, como uma engenharia reversa ou um processo reverso veremos que são pequenas ações diárias que nos garantem chegar aonde queremos, mas que na prática, rigorosamente não trazem qualquer resultado visível a cada passo que damos. O que para o ansioso e mau observador é uma decepção. Por essa razão, muitos desistem pelo caminho.

   Explico melhor: se eu pretendo aprender uma habilidade ou competência nova, desejo uma mudança na minha forma de trabalhar, aumentar a eficiência, ou mesmo emagrecer, por exemplo, posso facilmente retroceder passo a passo e encontrar as ações diárias que preciso executar para alcançar esse objetivo. Com o mapeamento já sabemos o que precisa ser feito.

   Ocorre que, se eu começar um regime, por exemplo, ou frequentar a academia, ao final do primeiro dia eu não vou perceber absolutamente nada de diferente na minha forma. Logo, ‘aparentemente’ aquela ação, daquele dia, foi totalmente inútil. Assim como o segundo dia, o terceiro e mais alguns outros.

   Apenas alcançaremos os nossos objetivos somando nossas pequenas ações diárias sem interrupção. Cada uma daquelas ações isoladamente não traz qualquer diferença perceptível e é exatamente isso que nos faz desistir muitas vezes dos nossos objetivos. Principalmente os grandes que mudariam nossa vida e da nossa empresa. Qualquer um de nós já fez isso e normalmente se arrepende algum tempo depois.

   Por isso, estar ciente dessa realidade simples talvez nos permita colocar a régua dos desejos em níveis intermediários e conscientes, permitindo passos firmes e realizáveis a cada dia, sem esperar resultados imediatos e grandiosos que não sejam o de ‘não parar’. Provavelmente isso nos faça entender o todo e nos motive a continuar.

   Por isso corroboro com a ideia de que o nosso sucesso é feito da soma de pequenas ações inúteis que realizamos diariamente sem interrupções.

   Como disse, 2050 é logo ali. 
   Seguimos em frente sem parar.
   Até a próxima

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