Bioinsumos + biotecnologia = inovação para uma agricultura mais sustentável

Edição XXVI | 03 - Mai . 2022
Alexandre Nepomuceno-alexandre.nepomuceno@embrapa.br
    Um dos temas de maior destaque na agenda da sociedade moderna é a sustentabilidade, que tem trazido à tona uma vertente da economia global chamada de bioeconomia, a qual consiste em um modelo de produção industrial baseado no uso de recursos biológicos. 

    Na agropecuária, a utilização de bioinsumos é uma estratégia para impulsionar a sustentabilidade que tem ganhado destaque nos últimos anos. Um marco importante para a bioeconomia do Brasil foi o lançamento do Programa Nacional de Bioinsumos (PNB), em maio de 2020. O PNB foi criado com o objetivo de potencializar a inovação brasileira dentro do setor produtivo. 

   Os bioinsumos compreendem uma ampla classe de produtos de origem biológica, com diversas finalidades, incluindo defensivos para o controle fitossanitário, inoculantes e promotores de crescimento, biofertilizantes, produtos usados na saúde e na alimentação animal, entre outros. 

   Apesar do destaque recente, os bioinsumos já vêm sendo utilizados há décadas na agricultura. Na produção de hortaliças e frutas são bastante usados para o controle de pragas e doenças. Mas há também exemplos do uso de bioinsumos em culturas produtoras de grãos como a soja. Nas décadas de 1980 e 1990, o inseticida biológico à base de Baculovírus foi bastante utilizado para o controle da lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis). Ainda para a soja, outro exemplo de bioinsumo que vem sendo utilizado há décadas na agricultura brasileira são os inoculantes, desenvolvidos a partir de bactérias do gênero Rhizobium que fixam o nitrogênio do ar, permitindo o cultivo dessa leguminosa sem adição de fertilizantes nitrogenados. Além de proporcionar bilhões em economia para os agricultores, essa tecnologia tem um impacto ambiental muito significativo, considerando que uma das consequências do uso de fertilizantes nitrogenados está no seu potencial como poluidor das águas, além de serem fontes de emissão de óxido nitroso, um potente gás de efeito estufa. Nos últimos anos tem se difundido, também, o uso de microrganismos promotores de crescimento como o Azospirillum, utilizado em diversas culturas como soja, cana-de-açúcar, milho e pastagens. 

   A utilização de bioinsumos na agricultura está em franca expansão, para aplicação em diversas culturas agrícolas. Estimativas apontam que na safra 2020/2021 no Brasil, esse mercado registrou alta de 37% em relação ao volume comercializado na safra anterior. Para geração de um produto biológico são necessárias diversas etapas de pesquisa e desenvolvimento, as quais incluem desde a prospecção e identificação de um novo agente biológico, desenvolvimento do produto e da formulação, avaliação da eficácia em campo e da segurança biológica, até o registro junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. 

   Dentro desse ecossistema, a biotecnologia representa um papel fundamental para contribuir com os processos de inovação. Nossa biodiversidade é uma das mais ricas do planeta e pode ser explorada de forma sustentável para identificar agentes biológicos capazes de solucionar problemas de diversos setores da sociedade, inclusive na agricultura. 
    Nas últimas décadas a ciência fez muitos avanços, como o desenvolvimento das novas plataformas para sequenciamento de DNA, que possibilitam decifrar o genoma de diferentes espécies de forma muita mais rápida. Essas ferramentas contribuem significativamente para caracterizar microrganismos e identificar compostos com potencial para geração de novos produtos. Associado a esse conhecimento, as Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão (TIMPs), como a edição gênica via CRISPR/Cas e o RNA interferente (RNAi), também podem contribuir na geração de insumos biológicos. Por meio de CRIPSR/Cas é possível introduzir mutações direcionadas nos organismos vivos, as quais podem resultar em novas características. Da mesma forma, o RNA interferente (RNAi) tem sido visto como uma ferramenta promissora para o desenvolvimento de produtos à base de dsRNA para serem utilizados no controle de pragas e invasoras. Essas ferramentas já estão sendo exploradas por diversos grupos e já podem ser utilizadas com segurança, tendo em vista que o Brasil já possui legislação para avaliação dessas tecnologias.  Recentemente a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) emitiu parecer sobre um inoculante para cultura do milho a base de Klebisiela variicola, visando a otimização do uso do nitrogênio. A tecnologia, Pivot Bio, obtida por meio de TIMP foi considerada como não-OGM de acordo com a Resolução Normativa N° 16 da CTNBio. Esse é apenas um exemplo de como essas ferramentas podem ser utilizadas na geração de soluções inovadoras e sustentáveis para a agricultura.  

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