Meio ambiente: O agronegócio não pode ser considerado vilão

Edição XXVI | 03 - Mai . 2022
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    Paralelamente aos sucessivos recordes obtidos pela agropecuária nos últimos anos, o agronegócio brasileiro vem sendo bombardeado fortemente por ONGs, grande parte da mídia, artistas e “experts”, afirmando, na maioria das vezes sem nenhuma fundamentação técnico-científica, de que a produção agrícola no país é altamente impactante ao meio ambiente. Há poucos dias foi publicado um artigo internacional pautando diversos aspectos negativos da agricultura brasileira. O artigo contraria os inúmeros trabalhos de pesquisa de décadas que vem sendo feitas por respeitáveis e renomadas instituições como a Embrapa, as Universidades, Institutos Federais, bem como vários órgãos de pesquisa. Diversas técnicas comprovadamente sustentáveis têm sido desenvolvidas e aplicadas no contexto produtivo nacional.

    De 1976 a 2011, o Brasil aumentou cerca de 400% sua produção total de grãos com somente 40% a mais de área cultivada, o que tem evitado a devastação de significativas áreas de vegetação nativa. Atualmente - safra 2021/22 - cultivamos ao redor de 71,5 milhões de hectares, o que corresponde a 9% do território brasileiro com cultivos agrícolas. O Brasil possui 850 milhões de hectares (ou 8,5 milhões de km2). Se somarmos as áreas utilizadas com pastagens nativas e cultivadas (170 milhões de hectares) e os nove milhões de florestas plantadas, chegaremos a quase 250 milhões de hectares utilizados, ao redor de 30% do território nacional.

    Nenhum outro país no mundo produz tanto alimento, fibras e energia renovável utilizando um percentual tão pequeno de sua área. O Brasil tem a possibilidade de produzir bem ao longo dos 12 meses do ano com ampla diversidade de condições de clima, solo e relevo. A isto podemos, sim, chamar de sustentabilidade.

    Em 2017, as primeiras análises e resultados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) no Brasil mostraram resultados talvez surpreendentes para muitos. Estes dados foram decodificados pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa (GITE). 

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    Nos últimos 25 anos, os governos federal e estadual atribuíram, legalmente, mais de 37% do território nacional destinando-os a unidades de conservação, terras indígenas, quilombolas e assentamentos de reforma agrária. O Brasil, em vegetação nativa, conserva 66,3% de seu território. A título de comparação, os países com mais de 2,5 milhões de quilômetros quadrados somados (Rússia, Canadá, China, EUA, Índia, Austrália e Argentina) possuem, em média, 10% de seus territórios com áreas protegidas. Acrescenta-se ainda o fato de que as áreas protegidas nestes países compreendem áreas totalmente inóspitas ao uso agropecuário como desertos, relevos ondulados, neve, salinas etc.

    O Brasil, com mais de 30% de áreas protegidas, incluindo unidades de conservação e áreas indígenas, é de longe o que mais protege o meio ambiente, e mesmo assim, ainda consegue destacar-se na produção agrícola como o maior produtor mundial em suco de laranja, café, laranja e açúcar, e o segundo maior em soja, carne de frango e bovina. Ademais, também é um dos maiores produtores globais de milho, óleo de soja, carne suína e algodão. Pertence ainda ao seleto grupo dos maiores exportadores globais de suco de laranja, açúcar, soja, carne de frango e café.


    "Nenhum outro país no mundo produz tanto alimento, fibras e energia renovável utilizando um percentual tão pequeno de sua área. O Brasil tem a possibilidade de produzir bem ao longo dos 12 meses do ano com ampla diversidade de condições de clima, solo e relevo. A isto podemos, sim, chamar de sustentabilidade"


    Esse extraordinário aumento da produção se explica, nos últimos 40 anos, pela eficiente adoção de tecnologias como cultivares melhoradas de híbridos, transgênicos, disseminação do sistema de plantio direto, sistemas integrados de produção, melhoria no manejo das pastagens, sementes certificadas, tratamentos sanitários, adubos mais eficientes, e muitas outras coisas.

    Grande parte destes avanços tecnológicos vêm sendo obtidos após o lançamento do Plano ABC em 2011/12 (Agricultura de Baixo Carbono) nos seus seis pilares: integração lavoura-pecuária-floresta, fixação biológica do nitrogênio, sistema de plantio direto, florestas plantadas, tratamento de dejetos animais e recuperação de áreas degradadas. O aumento na produtividade reflete diretamente na adoção e manejo aprimorado de tecnologias, o que também traz benefícios ambientais, sociais e econômicos ao produtor e às cadeias produtivas envolvidas.

    Recentemente, objetivando ampliar o escopo de atuação em tecnologias sustentáveis o governo federal lançou o Plano ABC +, com foco na regularização ambiental, preservação ambiental e ao estímulo a práticas agrícolas mais sustentáveis nas mais diversas áreas do agronegócio.

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    Estes dados, embora nos encham de orgulho, não podem mascarar os sérios problemas que ainda temos que solucionar. Da precária infraestrutura logística de transportes e armazenamento, passando pelo uso incorreto de agroquímicos, questões fundiárias e baixa taxa de uso de sementes certificadas. Estes são aspectos que ainda precisamos aprimorar, e, neste aspecto, incluo todos nós agrônomos, demais técnicos de ciências agrárias e produtores. 

    O Cadastro Ambiental Rural (CAR) deve ser visto como um instrumento eficaz de planejamento e ordenação de uso do solo no Brasil, auxiliando produtores, técnicos e as entidades públicas a monitorar o uso da terra e a conservação da vegetação nativa. Adicionalmente, entendo que o CAR poderá auxiliar na conservação dos serviços ecossistêmicos e indiretamente na produção agrícola, na qualidade dos alimentos obtidos e no bem-estar animal. 

    Espero que as questões político-ideológicas, que em muito tem atrapalhado nosso crescimento, sejam, enfim, deixadas de lado e possamos produzir com paz e segurança no campo. Temos tecnologia disponível, condições ambientais favoráveis e produtores capacitados. Até a próxima. Cordial abraço a todos.

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