Série Análise de risco

Culturas de Inverno - A gestão do processo e da qualidade na produção de sementes de Trigo

Edição XXVI | 03 - Mai . 2022
Ariele Paula Nadal-arielenadal@hotmail.com
Tiago Zanatta Aumonde-tiago.aumonde@gmail.com
Lilian Madruga de Tunes-lilianmtunes@yahoo.com.br
    A produção agrícola caracteriza-se por ser uma atividade econômica sujeita a riscos. Diante dos recentes anos de seca enfrentados e da atual situação que se passa as lavouras, onde a falta da chuva traz consigo o atraso da época de semeadura, redução da produtividade e oscilação de preços de insumos e produtos, gerando assim, fortes riscos ao produtor, as espécies de cereais de inverno tornam-se uma boa alternativa para garantir rentabilidade, diversidade de produção e melhoria das características do solo.

    Dentre suas inúmeras vantagens, os cereais de inverno contribuem para o aumento da fertilidade do solo e proporcionam uma boa cobertura devido a formação de palhada, o que reduz os riscos de lixiviação e as chances de sobrevivência de organismos patogênicos e plantas daninhas. Além da sua importância para a alimentação humana e animal, pois estes são fonte de vitaminas, minerais, proteínas e energia. Entre os mais importantes cereais de inverno podemos citar trigo, aveia, cevada e centeio.

    Ao contrário de outras culturas, como a soja, por exemplo, e entre os cereais de inverno, o trigo tem destaque na produção mundial, estando entre os cereais de maior cultivo juntamente com o milho e arroz.

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    Por isso, dentre os maiores produtores mundiais de trigo, o Brasil vem se destacando, ocupando a 15ª posição, com previsão de que a próxima safra no Brasil pode ser a maior da história do país, isso de acordo com o sexto levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção brasileira de trigo em 2022 deverá ficar em 7,88 milhões de toneladas, contra 7,68 milhões de toneladas do ano anterior. Além disso, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a estimativa de área plantada de trigo no mundo para a safra atual é de 223,3 milhões de ha, apresentando um aumento de 1% se comparado à safra (2020/2021), onde serão produzidos 778,6 milhões de toneladas, 0,36% a mais do que na safra anterior.

    O que se observa é que a produção de trigo vem a cada safra ganhando mais importância, se intensificando e melhorando suas tecnologias de cultivo. A Conab indica uma área cultivada de 2,74 milhões de hectares, repetindo as previsões de fevereiro e do ano anterior. A produtividade está projetada em 2.876 quilos por hectare, acima de 2.803 kg de 2021, sendo a região sul responsável por 85,6% da produção nacional.

    Porém, para que os resultados sigam crescendo ao final de cada safra, é necessário que os produtores façam o planejamento e organizem cada passo da produção antes mesmo da semeadura. Para isso, é necessário que ocorra o gerenciamento de manejo, escolha de cultivares e melhores épocas de semeadura de trigo com maior adaptabilidade a região onde será semeada, além de realizar análises químicas das áreas destinadas ao cultivo do cereal, manejo fitossanitário, colheita e comercialização.

    De maneira geral, a produção de sementes em diversas regiões brasileiras ocorre devido à plasticidade adaptativa apresentada pelo trigo, quanto ao melhoramento genético dos materiais que proporcionam vantagens ao agricultor e podem fomentar acréscimos quantitativos e qualitativos na produção. Dessa maneira, o domínio de qualidade das áreas com finalidade de produção de sementes tem por objetivo obter informações que possam auxiliar no manejo adequado dos campos.

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    O planejamento é importante durante todo o ciclo da cultura, principalmente no controle de doenças com o manejo fitossanitário. Desse modo, para um bom controle das doenças é preciso ter sementes de qualidade, preferir cultivares resistentes e adaptáveis ao clima e região, realizar o tratamento de sementes, optar pela rotação de culturas, visto que muitos inóculos permanecem nos restos culturais, além de também adotar medidas de controle químico.

    Para a semeadura deve ser avaliado a cultivar e levado em consideração o potencial produtivo, adaptabilidade para cada região, solo, clima e resistência a doenças. O produtor deve, além de conhecer sua área, estar a par dos principais entraves relacionados a produção e quais as principais doenças recorrentes nas últimas safras, optando por cultivares com produtividade economicamente viável e que sejam resistentes a elas.

    É importante ressaltar que o trigo se desenvolve adequadamente em temperaturas baixas durante o perfilhamento. Dentro de certos limites, geadas no início do desenvolvimento “travam” o crescimento apical em favor do sistema radicular. Porém, geadas tardias são desfavoráveis, principalmente quando as plantas se encontram na fase de floração, resultando no abortamento das flores.

    Quando o foco se dá no processo de colheita de sementes de trigo com elevada qualidade, é importante ter em mente que, nesta fase, deve ocorrer o mínimo de chuvas possível, especialmente no período entre a maturidade fisiológica e a colheita das sementes. Por isso, é importante posicionar a semeadura a fim de que a colheita não ocorra em períodos tradicionais de maior ocorrência de chuvas e, sempre que possível, optar por cultivares que possuam superior tolerância a perda de qualidade pela ocorrência de chuva na pré-colheita, especialmente germinação na espiga.

    Alguns aspectos são importantes durante este processo de colheita. Entre eles, o grau de umidade das sementes, danos mecânicos e limpeza da colhedora recebem destaque. A colheita é a operação que pode expor as sementes de forma drástica à danos mecânicos, e estes danos, quando latentes, estão entre os que mais causam perda da qualidade fisiológica nas sementes durante o armazenamento.

    Com base nisso, as sementes são colhidas o quanto antes para evitar que permaneçam no campo, onde a deterioração é acelerada por condições adversas do ambiente. Em trigo, a faixa de umidade recomendada para o início da colheita é de cerca de 20%, devendo a colhedora ser regulada para a ocorrência de mínimos danos mecânicos.
Posteriormente à colheita, as sementes são transportadas até as unidades de beneficiamento de sementes (UBS), etapa que também requer bastante cuidado em termos de qualidade. Este passo geralmente envolve baixos casos de problemas registrados, mas ainda são severos quando ocorrem. Chegando na UBS, as sementes passam pela etapa de pré-limpeza, na qual são eliminadas as impurezas mais grosseiras, tanto maiores quanto menores que a semente.

    De modo geral, após a pré-limpeza e secagem das sementes quando úmidas, as mesmas são armazenadas em silos, onde permanecem até o processo de beneficiamento, tratamento e embalagem. Recomenda-se que todas as sementes colhidas ou recebidas com grau de umidade acima de 13% sejam secas, devendo o processo ser gerido imediatamente após a colheita.

Mistura de sementes (espécie) no plantio de campo de trigo na França.jpg 752.28 KB


    Na etapa de beneficiamento de sementes de trigo, entre as máquinas comumente utilizadas, estão a máquina de ar e peneira, separador por comprimento ou cilindro alveolado (essencial para separar a aveia, o nabo e grão partido das sementes de trigo) e mesa de gravidade. Essas máquinas são dispostas em linha de beneficiamento interligadas por transportadores, em geral, com elevadores de caneca, ocorrendo variações entre diferentes unidades. 

    Quando se trata de mesa de gravidade, a separação das sementes se dá por peso específico, o que permite, em trigo, realçar este atributo físico da qualidade, pois há uma estreita e direta relação entre peso específico da semente e sua qualidade fisiológica. Sementes de culturas semelhantes ao trigo, como aveia e cevada, também podem ser dispostas nesta máquina, com o mesmo propósito.

    Em todo o processo de produção e beneficiamento de sementes de trigo podem ocorrer entraves. A colheita apresenta grande probabilidade e severidade de ocorrência de mistura genética. A secagem das sementes, por sua vez, também tem poucos relatos de problemas sérios na cultura do trigo, mas são severos quando ocorrem, assim como no processo de beneficiamento em geral, pois estes processos são todos interligados por maquinários complexos que exigem limpeza atenciosa para eliminar pontos de mistura varietal. 

    Quando se trata do período de armazenamento das sementes de trigo, é fundamental ter em mente a conservação da qualidade adquirida no campo, proporcionando maior viabilidade de sementes e qualidade do produto atendendo as necessidades do produtor rural. Assim, demonstra-se ser uma etapa com média probabilidade de ocorrer problemas, mas altamente severos à qualidade caso ocorram.

    Portanto, o produtor de sementes, além de planejar a produção, deve efetuar a gestão estratégica de processos e deter em suas mãos de maneira detalhada todos os procedimentos envolvidos na produção das sementes de trigo de alta qualidade.  

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