Valores, propósito e trabalho duro

Edição XXVI | 01 - Jan . 2022
    Iniciamos o ano inquietos como sempre. O agro não para, todos sabem. Virou jargão. Mas evolui a passos largos. Sem descanso. Não regride. Manter-se no modus operandi de ontem já é o suficiente para ficar para trás.

     Muitos empresários, tanto do agro como fora dele, ainda acreditam que missão, visão, valores e propósito são assuntos da academia e de teóricos que carecem de prática. Garanto que estão enganados e é bom que acordem.

     Há algum tempo tomei um café com um empresário de sucesso no agronegócio, do setor industrial, cuja capacidade de liderança e alto valor humano são reconhecidos por muitos. É alguém que eu admiro como pessoa, antes do profissional que já provou ser.

     Os três ativos para se levantar
     Ele começou do zero, foi funcionário raso, chegou a gerente de um grande grupo do agronegócio, iniciou um empreendimento audacioso, cresceu, se consolidou, tropeçou, praticamente quebrou, mas não caiu, e está se reerguendo agora.
Sua empresa, viveu uma fase difícil e dolorosa. De incertezas e muita dificuldade. Neste momento está levantando o nariz da nave, retomando a envergadura e em breve estará em altitude de cruzeiro. Manteve a altivez e a credibilidade.

     Achei fabuloso o reconhecimento das dificuldades, da queda e da necessidade de recuo. Talvez isso já seja o primeiro grande diferencial: reconhecer quando se está em dificuldades e não esconder os problemas. Nas palavras dele: “nós não demos dois passos para trás, foram dez. Só agora estamos retomando a energia, o rumo e a velocidade”. Essa conversa me deixou muitas lições.

     A lição inicial é que não há receita única para o sucesso, como a maioria já sabe, embora muitos ainda a busquem. Mas há outras lições indeléveis nesse caso. Me contou algumas histórias, rimos de outras, refletimos sobre os momentos decisivos e de como está vencendo as consequências do tropeção. 

     Dentre elas, três pontos foram repetidamente destacadas em sua trajetória de recuperação e que me chamaram muito a atenção: valores, propósitos e muito trabalho. O interessante é que não se trata de uma teorização da gestão de risco ou de alta performance. Apenas de gestão estratégica na prática. O discurso antecedido pela ação.

     Quando a prática se impõe
     Olhando assim parece simples. Pois garanto que não é. Conheço inúmeras empresas cheias de quadros com seus valores descritos em belas molduras, suas missões repetidas em uníssono pelos funcionários e bradadas aos quatro ventos, mas que não conseguem colocá-las em prática. Primeiro porque valor não tem a ver com preço, custo ou outro aspecto monetário próximo. É muito mais que isso. Valores pessoais ou empresariais são como uma âncora, muito importantes, e devem ser encarados como algo contundente para definir como a empresa vai se comportar.

     De modo geral, valores é no que a sua empresa acredita e quais as atitudes que devem ser aplicadas diuturnamente ao seu negócio para que ele prospere. É um norte, um balizador. Isso vai formando a cultura e conectando com o que se faz na empresa, os processos internos e de relacionamento com o ambiente externo.
Quando você define os valores da empresa precisa estar ciente de que algo precisa ser feito para manter aquilo vivo. Não é apenas colocar no papel. Precisa estar coerente com aquilo que os fundadores, empreendedores ou a direção acreditam efetivamente.

     Como exemplo de valores de uma empresa, podemos citar credibilidade, respeito, simplicidade, inovação, colaboração, diversidade, dentre muitos outros, mas que devem fazer sentido para quem está lá dentro da organização. 

     Assim, não tem a menor lógica apenas copiar o que outros já fizeram, e talvez esse seja exatamente o motivo desse empresário ter se apoiado nos valores genuínos que a sua empresa tinha (e dele próprio) para retomar as rédeas e nunca abandonar o foco, reencontrando o caminho do sucesso.

     
"Quando você define os valores da empresa precisa estar ciente de que algo precisa ser feito para manter aquilo vivo. Não é apenas colocar no papel. Precisa estar coerente com aquilo que os fundadores, empreendedores ou a direção acreditam efetivamente"


    Formando o tripé que sustenta
    Mais importante que isso é quando os valores estão apoiados num propósito claro. Isso define a robustez e a fortaleza de uma organização. Não é garantia de sucesso, mas empresta segurança sobre o caminho a seguir e o que fazer em caso de turbulência. É a orientação de como seguir em frente. Qualquer colaborador busca isso quando sente que a empresa está em dificuldade. É porto seguro. 

     Gosto da ideia de propósito empresarial quase como sinônimo de proposta de valor da empresa. Traduzindo, é o porquê a empresa existe e como ela por si só vai envidar esforços para contribuir com o mundo através de seus produtos e serviços. 

     Em resumo, essas duas palavras-chave - valores e propósito - definem a confiança que os stakeholders (todos aqueles que têm alguma relação com a empresa, sejam consumidores, funcionários, investidores, empreendedores ou fornecedores) terão com a organização. E confiança em termos de negócio é tudo o que o mercado quer e as empresas necessitam. 

     Por fim, parece óbvio que recuperar uma empresa no caminho do sucesso, ou mantê-la nesse caminho, não seja algo que venha naturalmente, sem grande esforço. Nesse sentido que tenacidade e muito trabalho são necessários para recolocar algo nos trilhos. 

     Na prática, não conheço qualquer empresa que tenha alcançado o sucesso ou se mantido por lá sem muito esforço, muito trabalho diuturno e a manutenção intransigente dos seus valores e propósitos, alinhados a cultura, às pessoas e aos seus produtos e serviços. 

     Muitas lições aprendi e fortaleci naquele dia, naquela conversa prazerosa, leve e cheia de significados, saboreando um bom café. 

     Até a próxima. 
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