Diferentes produtos para diferentes consumidores

Edição XXV | 04 - Jul . 2021
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    É incrível a crescente oferta de produtos em um mesmo gênero, principalmente no varejo de alimentos, nas últimas duas décadas. Sou do tempo em que leite era só de saquinho, não havia as embalagens tetrapak (caixinha), tipo A, B, sem lactose, com adição de vitaminas e minerais, de soja, de coco, de arroz etc. Essa fantástica disponibilidade de produtos alimentícios com características diferenciadas reflete a segmentação ocorrida no setor varejista global, objetivando agregação de valor e conquista de mercados.
  
    O perfil do consumidor de alimentos mudou drasticamente. Há algum tempo, o que movimentava as cadeias produtivas era a oferta, pois a produção era limitada e a demanda restrita. Além disso, o comércio de alimentos era mais regionalizado. Mais recentemente, parcela significativa da população mundial, principalmente nos países emergentes, ascendeu socialmente, demandando mais e melhores produtos. Houve um aumento expressivo, tanto na produtividade como na produção de grãos, hortaliças, forrageiras e frutas. Com o excedente produzido, o Brasil passou a ser um dos maiores exportadores de alimentos, fibras e bioenergia do mundo. 
 
   Além das commodities agrícolas, minerais e energéticas, que são as locomotivas motoras do País, temos destaque, ainda, na produção de orgânicos, produtos premium, especiais, artesanais, com indicação de origem, certificações, entre outros. Exemplos desta mudança na configuração produtiva, industrial e varejista estão nos supermercados, nas mídias, no combustível que usamos, no que comemos e até no que vestimos. 
 
   Um case interessante é o de uma rede global de frigoríficos investindo em proteína animal e em proteína vegetal. Inicialmente pode até parecer contraditório, mas se entendermos que o mercado consumidor busca cada vez mais diversidade de produtos para distintos perfis de públicos, e é natural que as empresas busquem se adequar para atender a todos e conquistar mercados, essa adequação passa pelo sistema produtivo que deve adotar práticas mais sustentáveis de manejo, não destruir áreas de vegetação nativa, atender às exigências em bem-estar animal e leis ambientais, respeitar as leis trabalhistas, auxiliar as comunidades locais, etc. Na indústria, as exigências passam pelo descarte e reciclagens de resíduos, leis ambientais e trabalhistas, correta utilização de energia, redução da emissão de gases poluentes, dentre outros. Chegando na gôndola, as exigências adicionais são as embalagens “eco-friendly”, produtos com certificação, rastreabilidade, orgânicos, integrais, gluten free, fat free, low carbon, e muitos outros (Figura). 
Sem dúvida, é uma salada variada que às vezes nos confunde, mas que traz lucro e oportunidades para a cadeia produtiva, finalizando com um consumidor cada vez mais satisfeito. Bingo. É esse o objetivo final de uma cadeia, atender às necessidades de um consumidor mais bem informado, com melhor poder aquisitivo e altamente exigente. Nesse sentido, todos os elos da cadeia precisam dar sua melhor contribuição.
 
    Adicionalmente às novas tendências no mercado de alimentos, é recorrente o debate sobre os tipos de agricultura necessários para atender à crescente demanda associada às pressões socioambientais e éticas. Nesse sentido, entendo que tanto os sistemas produtores de commodities como os sistemas agroecológicos, hidropônicos, integrados, manejo holístico, dentre vários outros, podem ser importantes. Todos contribuem para satisfazer as diferentes demandas do mercado, porém, cada um na sua escala, na sua configuração produtiva, especificidade tecnológica, característica ambiental, tipo de produto, logística, enfim. Ora, se há distintos sistemas produtivos e público consumidor com diferentes perfis e demandas, é óbvio que um único sistema produtivo não será suficiente para atender a toda a demanda global. Alguns produtos serão produzidos e comercializados em escala com preços globalizados (soja, milho, carne bovina, etanol). Outros, como cafés especiais, cervejas artesanais, carnes premium, orgânicos, ocupam um segmento específico de mercado, que foca na diferenciação desde o sistema produtivo até a gôndola da rede varejista, buscando agregação de valor ao produto.Este mercado vem evoluindo em todos os cantos do planeta, com destaque para o continente europeu e os EUA, importantes e exigentes consumidores de alimentos e produtos do agronegócio.

    Gostemos ou não, o mercado do agronegócio vem apresentando mudanças expressivas que surgem em rapidez meteórica. O consumidor é quem manda, ele é o condutor das cadeias produtivas. Cabe a cada elo da cadeia organizar-se para atender às novas demandas. Quem não o fizer não terá espaço no mercado global. 
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