Afinal, o que é qualidade e onde começa?

Edição XXV | 01 - Jan . 2021
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   “Somos o que repetidamente fazemos, portanto, a excelência não é um feito, mas um hábito”. (Escudero, A.)

    Acontece às vezes, alguns que trabalham continuamente com qualidade, desconhecerem o que expressa este termo na essência. E não é para menos.
Qualidade (Latim qualitate) tem um conceito subjetivo, haja vista ter diversas utilizações. Sendo assim, o seu significado nem sempre tem definição clara e objetiva. Necessidades e expectativas influenciam de forma direta nesta definição.

   Quando se estuda o tema, a literatura é vasta de argumentações a respeito de entendimentos e aplicação da qualidade. Relaciona-se à percepção de cada indivíduo e variados fatores como cultura, produtos ou serviços prestados.

   Em nossa circunstância, o foco se concentrará em produto e serviços. Alguns artigos expõem que o produto é o serviço que se presta, porque a aquisição é da expectativa de seus benefícios. Portanto, a qualidade está sempre ligada a ação de adequar um produto ao usuário. Sendo assim, qualidade é assegurar a otimização; é a sistematização do óbvio; é o que se percebe; é fazer a coisa certa da forma certa; é praticar o que foi planejado, avaliar o que foi executado e melhorar as próximas ações; é desenvolver o produto adequado para o fim que se destina, enfim, um conjunto de métodos e ferramentas para melhoria de processos.

   Outra relevância quando se trata de qualidade, além dos princípios de melhorias de processos, produtos e serviços, é conseguir que as pessoas envolvidas obtenham a qualidade dentro de si mesmas. Quando é atingido este objetivo, percebe-se uma espiral de melhorias e cada um transforma-se num agente de mudança, buscando a excelência. 

    Vamos adentrar nossa realidade do dia-a-dia com o produto semente, que é considerado como matéria-prima (produto natural que deve ser submetido a um processo produtivo até tornar-se produto acabado) ou como queiram, um insumo (todo e qualquer elemento diretamente necessário em um processo de produção – neste termo são englobados, o produto usado na fabricação, o maquinário, a energia e a mão de obra empregada). 

   A qualidade da semente, tecnicamente, se refere às características relativas às propriedades genética, física, fisiológica e sanitária que podem contribuir ou afetar a sua capacidade de originar plântula-planta de alto desempenho. Ao conjunto de atributos relacionados a esse desempenho que podemos atribuir o conceito de alta qualidade do produto semente. 

   Flávio Popinigis, em seu livro clássico de Fisiologia da Semente conceituou a qualidade genética como consistindo, entre outros, dos atributos de pureza varietal, homogeneidade, potencial de produtividade, resistência a moléstias e insetos, precocidade e qualidade de produto. A qualidade física, compreendida com a pureza e a condição física da semente. Um parêntese para a condição física que é caracterizada pelo grau de umidade, tamanho, cor, densidade, aparências, danos mecânicos e de percevejos, infecções por doenças (exemplificando em soja mancha púrpura, mancha café, entre outras de outras culturas relevantes) e uniformidade dessas características. No que diz respeito à qualidade sanitária, considerou a condição da semente quanto à presença e grau de ocorrência de microrganismos que causam doenças ou injúrias à semente, ou que transmitido por ela, tenham capacidade de causar doenças ou provocar reduções da qualidade ou produtividade das lavouras.

    A qualidade fisiológica da semente foi conceituada como sua capacidade de desempenhar funções vitais, caracterizada pela germinação, vigor e longevidade. Ainda dentro desta característica uma contribuição valiosa de outro fisiologista renomado, Júlio Marcos Filho, que narrou o potencial fisiológico reunindo informações sobre germinação (viabilidade) e vigor de semente. Informou que a palavra potencial tem alguns significados e dentre esses, “o conjunto de aptidões para realizar tarefas ou produzir resultados” e, quando se refere à semente, o potencial fisiológico representa a capacidade teórica ou possibilidade de sucesso da semente manifestar suas funções vitais sob condições ambientais favoráveis ou não.

   Todos os atributos descritos da qualidade são avaliados e determinados pela análise de amostra representativa de um lote de sementes. Essa avaliação requer aplicação de metodologias padronizadas que oferecem resultados seguros, precisos e uniformes. Ou seja, confiabilidade e reprodução conferidos pelos Laboratórios de Análise de Sementes (LAS), os quais seguem as orientações prescritas nas Regras para Análise de Sementes (RAS) e Instruções Normativas (IN) que estabelecem e especificam procedimentos padrões a serem utilizados, tabelas de tolerâncias, assim como, tamanho máximo para os lotes de sementes e peso mínimo das amostras para serem conduzidos os diferentes testes, entre outras determinações.

    O LAS atua como Centro do Controle de Qualidade que é uma inspeção constante da obediência de padrões estabelecidos, porque não é suficiente atentar apenas para os parâmetros de qualidade, e sim, imprescindível contornar todos os dados da qualidade que reverberam de modo direto no produto em si. 

    Existe o laboratório credenciado pelo MAPA, autorizado a emitir documentos atestando um lote. Para tal credenciamento, é necessária a obtenção do RENASEM – Registro Nacional de Sementes e Mudas – que institui a implementação e seguimento rigoroso de critérios do Sistema de Gestão da Qualidade da NBR ISO/IEC 17025. Trata-se de uma norma internacional que regula laboratório de ensaio e calibração, uma referência no desempenho de boas práticas para conferir resultados tecnicamente válidos. 

   Demonstrado esse contexto bastante usual para os integrantes do setor sementeiro, explicarei a razão disso: chamar a atenção para as atitudes de excelência humana. 

   Em treinamentos técnicos pergunto: o que é qualidade? Algum arrisca a responder. Para complementar e instigar o pensamento questiono: a qualidade começa onde?  As respostas são sempre iguais: no campo. E, para perturbar um pouco mais, quero saber se são rosas ou repolhos – uma abordagem de Daniel Godri – rosa inicia num botão fechado e se abre, repolho inicia aberto e se fecha. Isto quer dizer que podemos estar abertos ao aprendizado que é um ato contínuo ou, achamos que o que sabemos já é mais que suficiente. Por que de sair da zona de conforto? 

   Em síntese, visando atender os princípios da qualidade do produto nobre que é a semente e respeitar um conceito de Débora Dias Gomes, muito realístico sobre o tema: “Qualidade é a totalidade de atributos que deve ter o produto que atenda ou supere a expectativa do usuário”, essa qualidade deve começar dentro de cada um de nós. Tornemos um hábito a excelência e todas as definições de qualidade poderão convergir auferindo a atividade exitosa sempre. 
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