A germinação

Edição II | 01 - Jan . 1998
James Delouche-JCDelouche@aol.com
    A germinação é o evento crucial, de uma semente e representa o cumprimento da sua função biológica, a propagação da espécie. As sementes têm outras funções que, contudo, são dependentes do cumprimento da primeira, a germinação. 

    A germinação é algo que os agricultores, jardineiros, técnicos e cientistas conhecem, mas para a maioria, alguns aspectos da germinação não são bem entendidos, havendo confusão em relação ao seu sentido e significado. Muitos vêem a germinação como o processo reprodutivo das plantas, o que é incorreto. A reprodução é sexual e ocorre na fertilização, uma característica das plantas superiores. 
    O produto da reprodução das plantas são as sementes, que são responsáveis pela propagação. Há problemas até na definição de germinação, palavra com sentidos diferentes para agricultores e sementeiros e para fisiologistas e bioquímicos. Pessoas que pesquisam a literatura científica sobre germinação devem se conscientizar das diferenças. Todas, no entanto, concordam que o evento essencial à germinação é a retomada do crescimento ativo do embrião. De outra parte, agricultores e sementeiros têm uma visão pragmática e  econômica, considerando a germinação como completa apenas com o desenvolvimento de uma plântula normal, o que,é claro, é a propagação. A parada do crescimento ativo do eixo embrionário na maturidade fisiológica e sua retomada na germinação são eventos importantes. 
    Os requisitos para que haja germinação são comuns e facilmente encontrados na maioria dos casos. Isso não surpreende. 
    A germinação não ocorreria se fossem necessários materiais e condições exóticos. Depende de umidade, temperatura favorável e oxigênio. A umidade, na maioria das espécies cultivadas, está entre 10 e 14%, o que é pouco e permite atividade metabólica mínima. A umidade é exigida para a reidratação das sementes até um nível que possa suportar o grande aumento na respiração, a degradação de materiais de reserva complexos (amido, gorduras, óleos e proteínas) em formas simples e móveis, e sua mudança até locais onde o crescimento será retomado. A respiração fornece a energia, e o material de reserva é o tijolo para a construção da nova planta e para o crescimento. O interessante é que o eixo embrionário contém energia metabólica e materiais construtivos suficientes para retomar o crescimento ativo, isto é, para germinar, com reidratação adequada sem o suporte dos materiais de reserva. Estes materiais são mobilizados e levados aos sítios metabolicamente ativos após a germinação, para sustentar o crescimento da plântula. 
    O grau de umidade exigido para a germinação, varia entre as espécies. Sementes das famílias Graminea ou Poaceae, como os cereais, devem atingir e manter um grau de umidade de 35 a 40 % para que haja germinação. Outros tipos de sementes, devido às diferenças na morfologia e composição química, exigem grau de umidade maior, 55% para algodão, soja, feijão e amendoim. A velocidade de reidratação é influenciada por fatores como a permeabilidade da cobertura da semente, o grau de umidade, o potencial hídrico do substrato, a temperatura (o calor acelera) e a área de contato semente/substrato. A falha na obtenção do grau de umidade crítico para a germinação, por qualquer razão, pode levar à rápida perda de vigor e viabilidade quando a temperatura do solo é alta. 




    " Para germinar: umidade, temperatura e oxigênio" 




    Para cada tipo de semente há uma faixa de temperatura dentro da qual a germinação se completa em tempo razoável se a umidade é suficiente e não há dormência. A visão clássica da germinação define três pontos cardinais de temperatura para a germinação de uma espécie: mínima, ótima e máxima. A mínima é aquela abaixo da qual a germinação não se processa até o ponto de crescimento visível dentro de um período razoável. Índices abaixo desse mínimo, mas acima do congelamento, em geral não são letais para sementes embebidas, que costumam germinar quando a temperatura retorna ao normal. 
    A temperatura ótima é aquela em que o maior número de sementes germina no mais curto período. E a máxima fixa o limite acima do qual não há germinação e nem crescimento visível. Exposição da semente a temperaturas acima da máxima por um período extenso é geralmente letal. Ao se reduzir a temperatura de ótima para mínima reduz-se a velocidade de germinação, enquanto o aumento da ótima para a máxima diminui tanto a velocidade quanto o percentual de germinação. 
    O oxigênio é necessário para o grande aumentona atividade respiratória exigida para que se complete o processo de germinação e subsequente desenvolvimento e crescimento da plântula. Posto que a atmosfera contém oxigênio em abundância, este somente se torna limitante para a germinação quando sua disponibilidade para o embrião é bloqueada ou impedida por algum fator ambiental ou condição da semente, por exemplo a excessiva umidade no substrato ou no solo. 
    As sementes falham em germinar e se desenvolver por muitas razões. Sob condições ótimas de laboratório, a falha em geral se associa com dormência, danos mecânicos severos, ou deterioração até um ponto de perda do poder germinativo. No campo, onde as condições raramente são ótimas para germinação e emergência, a germinação pode não ocorrer pelas mesmas razões de laboratório ou por outras relacionadas a interações complexas entre os fatores do micro-ambiente. 


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