Hoje, ele é o segundo cereal mais
cultivado no mundo, superado apenaspelo arroz. Isso provavelmente seja devido
ao alto teor de glúten, proteína que fornece a elasticidade necessária a uma
boa panificação. Existem muitos tipos de grãos de trigo, todavia os mais
conhecido se utilizados são o tenro, utilizado em pães, pizzas e biscoitos e o “durum”,
preferido para fazer nassas especiais, do tipo italiano.
Num grão de trigo, encontramos de 80 a
85% de endosperma, 13 a 17% de casca ou farelo e 2 a 3% de germe. O endosperma
é moído para a produção de farinha. Já o farelo, aproximadamente 25% do total
do trigo moído, é usado na composição de ração para animais.
Estado- Entre 1944 e 1990 todo o
setor detrigo foi controlado pelo Estado. Tal controle atingia
praticamente todas as partes da cadeia, chegando ao cúmulo de criar, em 1967, um
sistema de distribuição semelhante ao da antiga União Soviética, onde tudo era
planejado pelo Estado. Assim, semanalmente o Banco do Brasil fazia um levantamento
das necessidades do país, abrangendo grão se farinha, e distribuía quotas aos
moinhos e indústrias. Ninguém poderia sair desse ciclo.
Na década de 70, uma quebra na safra da
União Soviética fez com que o preço do cereal no mercado mundial aumentasse. O
governo brasileiro, possivelmente preocupado com um aumento na inflação,
implantou também no trigo a cultura do subsídio. Dessa forma,até 1987, época do
chamado Plano Bresser, o Tesouro pagava parte da conta da produção e distribuição
de trigo. Uma vez que o subsídio acabou, houve uma elevação de 500% no preço da
farinha. Não preparado para enfrentar reveses, o produtor de trigo diminuiu a
área cultivada.
Em 1990, sob o comando do então presidente
Fernando Collor, começou a abertura econômica brasileira. Os produtores e
distribuidores de trigo, antes protegidos e sufocados pelo governo, tiveram de
enfrentar a concorrência externa, com seus produtos por vezes superiores e
preço mais baixo.
Aliás, como informa Paulo Furquim de
Azevedo, “com o fim da regulamentação, a substituição do trigo nacional pelo
importado foi acelerada, atingindo uma média nos últimos anos de dois
terços do consumo nacional. Como consequência, ao se analisar a à competividade
revelada, há sinais evidentes de deficiência competitiva do trigo nacional
frente ao importado”.
"A eliminação do
subsídio fez multiplicar o preço do trigo"
Ainda se luta contra a atrofia provocada
por décadas. A produção nacional, notoriamente insuficiente, espera por
melhores técnicas, sementes e menos impostos para entrar na ferrovia da
competitividade.
Moinhos - Antes de chegar ao
consumidor final, o trigo passa por moinhos. Estes, transformam o grão em
farelo para os animais e farinha, a ser utilizada para produzir outros
produtos, em escala comercial, ou pelas donas de casa. Como informa Benami
Bacaltchuk, da Embrapa, existem aproximadamente 213 moinhos no pais,
distribuídos da seguinte forma: 47 no Paraná; 72 no Rio Grande do Sul; 35 em
Santa Catarina; 20 em São Paulo; seis em Minas Gerais; seis no Rio de Janeiro; quatro
no Mato Grosso do Sul; três no Ceará; três na Bahia; dois em Alagoas; dois no
Pará e um no Amazonas.
Pode-se distinguir os moinhos em dois tipos.
O primeiro, composto pelos que usam equipamento antigo, que devido ao custo de
remodelagem, tem capacidade limitada de processamento. O segundo, o dos
grandes, procura cada vez mais a segmentação do mercado, através de composições
especiais de farinha, com diferentes blends.
Com o aumento da competição e decorrente
possibilidade do mercado escolher seus fornecedores dentre um número cada vez
maior, criaram-se novas exigências para essas empresas. Dentre estas, recebem
especial destaque a capacidade de distribuição e a sofisticação da farinha.
Atualmente o consumidor prefere receber a farinha já misturada e, pelo menos,
três tipos são considerados essenciais em todos os pontos: a farinha comum, a
especial e a farinha para macarrão. Com alguns moinhos, a concorrência internacional
tem sido implacável. Muitas são as indústrias de panificação que costumam dar
preferência ao produto argentino, em detrimento do brasileiro. Alegam esses
consumidores ser a farinha brasileira melhor para biscoitos, enquanto a argentina,
mais forte, produz pães melhores.
Mercado - o mercado de
produtos derivados de trigo, de uma forma geral, aumentou. Uma das explicações
é a
praticidade desses alimentos. Ao
contrário de outros que obrigatoriamente precisam de preparo especial, pães,
massas e biscoitos já estão prontos, ou requerem muito pouco tempo para tal. Por
estranho que pareça, o Brasil é um dos países onde menos se consome pão per
capita. São apenas 27 kg/ano, contra 160 kg/ano na França. Informa Paulo
Azevedo, em trabalho realizado para o Programa de Estudos dos Negócios do
Sistema Agroindustrial- PENSA. Difícil todavia explicar o porquê disso. Talvez
seja cultural.
As empresas que trabalham com
panificação podem ser divididas em dois grupos: o dos grandes fabricantes e o
das padarias convencionais. Juntas, elas respondem por 60% do consumo de
farinha de trigo. Os primeiros normalmente atingem grandes fatias do mercado,
com produtos de marcas conceituadas e maior prazo de validade. Para tal,
direcionam parte do orçamento na pesquisa e aprimoramento de produtos, onde se
destacam as mudanças de blends. Já as padarias convencionais dificilmente apresentam
tais preocupações.
"Até 1990 o trigo era
controlado pelo Estado"
Normalmente fabricam um número limitado
de produtos, com larga saída, considerando a limitação do seu mercado. Por isso,
pouco se nota uma preocupação com a fixação de marcas e mudança nos produtos.
Outra parte importante do mercado de
farinha de trigo é o setor de biscoitos. Nos últimos anos, o consumo brasileiro
de biscoito cresceu muito, e apresenta-se como uma grande alternativa. De acordo
com a Associação Nacional de Indústrias de Biscoito, desde o Plano Real o
consumo desse produto aumentou de 3,5kg para 6kg per capita. Entretanto, boa parte
desse crescimento favoreceu empresas de outros países, que muito exportaram
para cá. Estima-se que nessa situação, a indústria nacional alcançou um
crescimento de 35% no setor.
Cada vez com menos tempo e mais
dinheiro, o consumidor acaba optando por alimentos fáceis e gostosos. Daí a
procura por biscoitos. Também é importante salientar que o biscoito admite muitas combinações de sabores, sendo um produto no qual a novidade conta
bastante. Os novos sabores, formas e até cores, atraem a atenção desse público.
Por semelhante modo influenciado pela
procura de praticidade por parte do consumidor, o mercado de massas está se
remodelando. O avanço básico nesse sentido é o aumento da produção de massas
com ovos, macarrão instantâneo ou macarrão de grão duro. Esse fato concorda com
a tendência mundial de aumento na qualidade e praticidade.
Para o Produtor - O trigo é
uma das principais alternativas para o plantio de inverno, como lembra Benami
Bacaltchuk. Este também destaca queo trigo propicia cobertura de solo durante o
inverno, com reflexos no controle à erosão
superficial. Também o sistema de Plantio
Direto é favorecido. Ainda segundo Benami, além do efeito direto na renda
dosetor agrícola que a lavoura de trigo confere. Estima-se em 20% a redução dos
custos nas lavouras de verão precedidas pelo trigo. Assim, mesmo quandoo trigo
não traz lucro direto, beneficia significativamente a sustentabilidade do
processo produtivo nas regiões onde está inserido.