Feijoeiro

O Patinho Feio começa a mudar

Edição II | 01 - Jan . 1998
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    A cultura de feijão no Brasil é uma das mais importantes, não só porquefaz parte, em boa proporção, da mesa da população, especialmente de famílias de menor renda, mas porque envolve também uma grande área de produção e, na maior parte, cultivada por pequenos agricultores. São plantadas inúmeras cultivares e tipos locais de feijões, apresentando variações genéticas que se expressam pela forma, tamanho e especialmente pela cor. Ainda por conta de hábitos alimentares diferenciados da população brasileira, são cultivados feijões de duas espécies: Phaseolus vulgaris, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, e Vigna unguiculata, no Norte e Nordeste. 
    Quando se compararam as médias de área e produção defeijão, no País, considerados os períodos 1984-1988 e 1990- 1994, observaram-se grandes variações regionais. Ocorrendo aumento de 18% na produção e queda de 9% na área. Quando comparadas a área e produção de feijão prevista para a safra 96/97 com a média do quinquênio 84/88, verifica- se que, enquanto a área diminuiu 6%, a produção cresceu 29%. Como média das safras de 1990 a 1994, a cultura da leguminosa ocupou cerca de 4.765 milhões de hectares, sendo 47% na região Nordeste; 24% na Sul; 19% na Sudeste; 5% no Centro-Oeste; e 5% no Norte. 
    Estes dados indicam a grande importância relativa do feijão no Nordeste brasileiro, enquanto região produtora, para a produção nacional, e onde é grande o consumo, ou seja, a cultura do feijoeiro tem uma alto significado social na região. Já no Sul e Sudeste, segunda e terceira regiões no ranking da produção nacional de feijão, o produto tem uma importância relativa maior, sob o ponto de vista econômico. O cultivo do feijoeiro é relativamente recente no Centro-Oeste, enquanto lavoura comercial, mas talvez seja a região que represente o maior potencial de abastecimento nacional, especialmente no caso da cultura irrigada, se puder ser ampliada para grandes áreas. 
    Quando se compara a produtividade ou o rendimento por hectare das culturas de grão - arroz, feijão, milho, soja, trigo, etc. - verifica-se que o feijoeiro é o “patinho feio” da agricultura, ou seja, a cultura que menos produz por unidade de área. 
    Apesar dos vários anos de esforços da pesquisa brasileira no desenvolvimento de novas cultivares, tratos culturais e  novas técnicas de cultivo; da oferta de boas sementes no mercado; uso da irrigação; preço mínimo favorecido e ampliação do consumo - tem-se a ideia que continua o feijão como o “patinho feio” da produtividade nacional. 
 

 
    "Começam a surgir índices de grande aumento de produtividade" 
 

 
    Entretanto, depois de muitos anos da produtividade do feijoeiro se manter estacionada entre 500 a 600 Kg/ha, começam a ser percebidos acréscimos nestes números, embora pequenos, em termos absolutos. 
    Assim, verificou-se que ocorreu um aumento, ainda que pequeno ou talvez desprezível, de 2% no rendimento das lavouras, entre 1984 e 1994, nos estados da região Norte. Na região Sul, a produtividade cresceu 18%; na Sudeste, 33%; no Nordeste, 46%; enquanto que ocorreu o mais expressivo aumento, de 61 %, no Centro-Oeste, no período considerado, o que constitui uma bela marca. 
    Na média nacional a produtividade do feijoeiro passou de 439 Kg/ha na média do quinquênio 1984-1988, para 569 Kg/ha, na média do período 1990-1994. Ou seja, cresceu 30%. A produtividade média nacional na safra 96/97 prevista em 601 Kg/ha, o que representa 37% de aumento em relação à media do quinquênio 1984-1988, indica, não só a manutenção da produtividade brasileira das lavouras de feijão, mas também a continuidade do seu crescimento. 
    Assim, o nosso 'patinho feio” da produtividade na agricultura brasileira já está se tornando menos “eio'. E espera-se que possa a cultura do feijão no Brasil, equiparar- se com outras, pelo menos nos estados de maior potencial produtivo, como estão despontando alguns da região Centro-Oeste. Diz-se que a taxa de utilização de sementes melhoradas na cultura de feijão é muita baixa, pois os agricultores utilizam, de ano para ano, as suas próprias sementes. A média ponderada da taxa de utilização de sementes melhoradas foi calculada em 23,6% para a região Centro-Oeste; 11,3% para a Sudeste; e 9,9% para a região Sul. Coincidência ou não, a constatação é que a produtividade observada nestas regiões está nesta mesma ordem, o que sugere que uma coisa está associada à outra. 
    Entretanto, a utilização de sementes próprias, na média de 89% da área total plantada, no País, resulta em duas situações desfavoráveis à produtividade: uso de sementes de baixa qualidade, especialmente quanto ao aspecto sanitário, e uso de velhas cultivares, misturas de cultivares ou tipos indefinidos, com a agravante de que, com isso, restringe- se a entrada na lavoura de novas variedades, de maior potencial produtivo. Assim, a tradição do uso de sementes próprias de feijão, pelos agricultores, pode ser um dos grandes entraves de incrementos da produtividade neste lavoura, aos níveis atuais de crescimento. 
    A distribuição de sementes de feijão no Brasil, entre sementes de outras espécies, já era feita deste o tempo do Brasil Colônia. Sua produção por parte de órgãos públicos, de pesquisa e fomento, iniciou- se no Século XIX, mas só recentemente passou a ser de interesse da iniciativa privada, com a criação de novas cultivares públicas e a demanda das respectivas sementes por parte de agricultores mais competitivos. A situação mais recente era de que nas décadas de 60 e 70, continuavam os Governos a produzir sementes de feijão para distribuição aos agricultores. Tais sementes eram frequentemente de baixa qualidade, com exceções, e sua distribuição era irregular e insuficiente, não satisfazendo a divulgação das cultivares indicadas para plantio. 
    A partir de 1975, coma criação do Serviço de Produção de Sementes Básicas (SPSB) é que se iniciou, em termos de País, a produção de sementes básicas de feijão, quando foi então dada a partida para a produção organizada de sementes fiscalizadas de feijão, pelo complexo industrial de sementes. Ainda que tenham ocorrido grandes variações da produção anual de sementes melhoradas de feijão, no País, houve um incremento entre 4 e 5% na produção, entre 1984 e 1997. 
    Segundo análise da safra 95/96, ocorreu uma oferta de sementes de 47 cultivares de feijão, das quais as disponibilidades das cinco primeiras, perfizeram 81 % do total produzido: Carioca (32% do total); Pérola (24%); Aporé (13%), Xamego (6%) e Epace 10 (5%) que é um caupi. 
    O mercado brasileiro de sementes de feijão, estimado em cerca de R$ 20 milhões, é relativamente pouco consolidado. Entretanto, as políticas governamentais de preços mínimos para o produto, somando-se à falta de tradição de compra de sementes, por parte dos produtores - têm sido responsabilizadas pelas variações observadas na produção de sementes que, por um lado, tem provocado sobras e, por outro, falta de sementes, de acordo com o ano. No Centro-Sul, 80% do mercado de sementes de feijão, estão nos estados do Paraná (30,5%); Minas Gera (23,3%), Santa Catarina (17,9%) e Goiás (8,2%). 


    "No Nordeste a cultura do feijão tem significado social" 
 


    O aumento da produção de feijão, no Brasil, via produtividade - já que há uma tendência de redução das áreas de cultivo - estaria na dependência de incrementos das taxas de utilização de sementes de alta qualidade e das melhores cultivares. Do contrário, mantida as atuais condições observadas, tem de admitir-se que a importação de feijão se tornaria uma rotina obrigatória, para suplementar a necessidade do consumo nacional. Admite-se que o uso de sementes de feijão de qualidade, especialmente no que se refere à sanidade, seria essencial para não restringir o potencial produtivo das cultivares, com vista a elevar em muito os atuais patamares de produtividade das lavouras de feijão, no Brasil. 
    Finalmente, a disponibilidade de boas cultivares, com grande potencial produtivo e de sementes sadias de alta qualidade, poderiam formar a base para a realização de campanha sobre o uso generalizado de sementes melhoradas associado à utilização de outras tecnologias de resultado, com vistas a promover incrementos da produtividade, com o consequente aumento da produção nacional. 

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