Quando se compararam as médias de área e
produção defeijão, no País, considerados os períodos 1984-1988 e 1990- 1994,
observaram-se grandes variações regionais. Ocorrendo aumento de 18% na produção
e queda de 9% na área. Quando comparadas a área e produção de feijão prevista
para a safra 96/97 com a média do quinquênio 84/88, verifica- se que, enquanto
a área diminuiu 6%, a produção cresceu 29%. Como média das safras de 1990 a 1994, a
cultura da leguminosa ocupou cerca de 4.765 milhões de hectares, sendo 47% na
região Nordeste; 24% na Sul; 19% na Sudeste; 5% no Centro-Oeste; e 5% no Norte.
Estes dados indicam a grande importância
relativa do feijão no Nordeste brasileiro, enquanto região produtora, para a
produção nacional, e onde é grande o consumo, ou seja, a cultura do feijoeiro tem
uma alto significado social na região. Já no Sul e Sudeste, segunda e terceira regiões
no ranking da produção nacional de feijão, o produto tem uma importância relativa
maior, sob o ponto de vista econômico. O cultivo do feijoeiro é relativamente
recente no Centro-Oeste, enquanto lavoura comercial, mas talvez seja a região
que represente o maior potencial de abastecimento nacional, especialmente no
caso da cultura irrigada, se puder ser ampliada para grandes áreas.
Quando se compara a produtividade ou o
rendimento por hectare das culturas de grão - arroz, feijão, milho, soja, trigo,
etc. - verifica-se que o feijoeiro é o “patinho feio” da agricultura, ou seja,
a cultura que menos produz por unidade de área.
Apesar dos vários anos de esforços da pesquisa
brasileira no desenvolvimento de novas cultivares, tratos culturais e
novas técnicas de cultivo; da oferta de boas sementes no mercado; uso da
irrigação; preço mínimo favorecido e ampliação do consumo - tem-se a ideia que
continua o feijão como o “patinho feio” da produtividade nacional.
"Começam a surgir índices
de grande aumento de produtividade"
Entretanto, depois de muitos anos da
produtividade do feijoeiro se manter estacionada entre 500 a 600 Kg/ha, começam
a ser percebidos acréscimos nestes números, embora pequenos, em termos
absolutos.
Assim, verificou-se que ocorreu um
aumento, ainda que pequeno ou talvez desprezível, de 2% no rendimento das
lavouras, entre 1984 e 1994, nos estados da região Norte. Na região Sul, a
produtividade cresceu 18%; na Sudeste, 33%; no Nordeste, 46%; enquanto que
ocorreu o mais expressivo aumento, de 61 %, no Centro-Oeste, no período
considerado, o que constitui uma bela marca.
Na média nacional a produtividade do feijoeiro
passou de 439 Kg/ha na média do quinquênio 1984-1988, para 569 Kg/ha, na média
do período 1990-1994. Ou seja, cresceu 30%. A produtividade média nacional na
safra 96/97 prevista em 601 Kg/ha, o que representa 37% de aumento em relação à
media do quinquênio 1984-1988, indica, não só a manutenção da produtividade brasileira
das lavouras de feijão, mas também a continuidade do seu crescimento.
Assim, o nosso 'patinho feio” da produtividade
na agricultura brasileira já está se tornando menos “eio'. E espera-se que
possa a cultura do feijão no Brasil, equiparar- se com outras, pelo menos nos estados
de maior potencial produtivo, como estão despontando alguns da região
Centro-Oeste. Diz-se que a taxa de utilização de sementes melhoradas na cultura
de feijão é muita baixa, pois os agricultores utilizam, de ano para ano, as suas
próprias sementes. A média ponderada da taxa de utilização de sementes
melhoradas foi calculada em 23,6% para a região Centro-Oeste; 11,3% para a
Sudeste; e 9,9% para a região Sul. Coincidência ou não, a constatação é que a
produtividade observada nestas regiões está nesta mesma ordem, o que sugere que
uma coisa está associada à outra.
Entretanto, a utilização de sementes próprias,
na média de 89% da área total plantada, no País, resulta em duas situações desfavoráveis
à produtividade: uso de sementes de baixa qualidade, especialmente quanto ao aspecto
sanitário, e uso de velhas cultivares, misturas de cultivares ou tipos
indefinidos, com a agravante de que, com isso, restringe- se a entrada na
lavoura de novas variedades, de maior potencial produtivo. Assim, a tradição do
uso de sementes próprias de feijão, pelos agricultores, pode ser um dos grandes
entraves de incrementos da produtividade neste lavoura, aos níveis atuais de crescimento.
A distribuição de sementes de feijão no
Brasil, entre sementes de outras espécies, já era feita deste o tempo do Brasil
Colônia. Sua produção por parte de órgãos públicos, de pesquisa e fomento,
iniciou- se no Século XIX, mas só recentemente passou a ser de interesse da
iniciativa privada, com a criação de novas cultivares públicas e a demanda das
respectivas sementes por parte de agricultores mais competitivos. A situação mais
recente era de que nas décadas de 60 e 70, continuavam os Governos a produzir
sementes de feijão para distribuição aos agricultores. Tais sementes eram frequentemente
de baixa qualidade, com exceções, e sua distribuição era irregular e
insuficiente, não satisfazendo a divulgação das cultivares indicadas para
plantio.
A partir de 1975, coma criação do
Serviço de Produção de Sementes Básicas (SPSB) é que se iniciou, em termos de
País, a produção de sementes básicas de feijão, quando foi então dada a partida para
a produção organizada de sementes fiscalizadas de feijão, pelo complexo
industrial de sementes. Ainda que tenham ocorrido grandes variações da produção
anual de sementes melhoradas de feijão, no País, houve um incremento entre 4 e
5% na produção, entre 1984 e 1997.
Segundo análise da safra 95/96, ocorreu
uma oferta de sementes de 47 cultivares de feijão, das quais as
disponibilidades das cinco primeiras, perfizeram 81 % do total produzido:
Carioca (32% do total); Pérola (24%); Aporé (13%), Xamego (6%) e Epace 10 (5%)
que é um caupi.
O mercado brasileiro de sementes de
feijão, estimado em cerca de R$ 20 milhões, é relativamente pouco consolidado.
Entretanto, as políticas governamentais de preços mínimos para o produto,
somando-se à falta de tradição de compra de sementes, por parte dos produtores -
têm sido responsabilizadas pelas variações observadas na produção de sementes que,
por um lado, tem provocado sobras e, por outro, falta de sementes, de acordo
com o ano. No Centro-Sul, 80% do mercado de sementes de feijão, estão nos
estados do Paraná (30,5%); Minas Gera (23,3%), Santa Catarina (17,9%) e Goiás
(8,2%).
"No Nordeste a
cultura do feijão tem significado social"
O aumento da produção de feijão, no Brasil,
via produtividade - já que há uma tendência de redução das áreas de cultivo -
estaria na dependência de incrementos das taxas de utilização de sementes de
alta qualidade e das melhores cultivares. Do contrário, mantida as atuais condições
observadas, tem de admitir-se que a importação de feijão se tornaria uma rotina
obrigatória, para suplementar a necessidade do consumo nacional. Admite-se que
o uso de sementes de feijão de qualidade, especialmente no que se refere à
sanidade, seria essencial para não restringir o potencial produtivo das
cultivares, com vista a elevar em muito os atuais patamares de produtividade das
lavouras de feijão, no Brasil.
Finalmente, a disponibilidade de boas cultivares,
com grande potencial produtivo e de sementes sadias de alta qualidade, poderiam
formar a base para a realização de campanha sobre o uso generalizado de
sementes melhoradas associado à utilização de outras tecnologias de resultado,
com vistas a promover incrementos da produtividade, com o consequente aumento
da produção nacional.