A Monsanto, agora a maior empresa de
sementes atuando no Brasil, comprou mesmo um banco de material genético, o que
a coloca em posição privilegiada no mercado de genética tropical, como admite Rodrigo
Lopes Almeida, seu diretor para Assuntos Corporativos. Já para a Agroceres a
venda foi vantajosa, pois a empresa teria de efetuar agora investimentos de
alto porte para desenvolver cultivares transgênicas em condições de competir no
mercado da próxima década. A biotecnologia, aliás, é o carro chefe da Monsanto,
que queima etapas de pesquisa com a compra da Agroceres, empresa de importância
estratégica nessa área.
A Agroceres, segundo informa Rodrigo,
não terá mudança alguma nos próximos meses, nem mesmo de pessoal, que ele
qualifica de excelente qualidade, “um time que está ganhando”. Será mantida sua
qualificada rede de representantes e pontos de venda, mais de 4.000 no total.
Aliás, ele mesmo comenta que de pouco adiante ter tecnologia de ponta, produzir
genes maravilhosos se não houver uma boa estrutura comercial para levá-los aos
produtores. Foi assim que a empresa montou uma estratégia adquirindo
inicialmente a FT Sementes, dando origem à Monsoy, na liderança na área de
soja. Outro passo que se dá é um pré-acordo, em fase de inalização, com a Maeda,
na área do algodão. Com a Agroceres fecha-se o ciclo no setor de milho.
Rodrigo Almeida considera ainda muito
cedo para se falar em qualquer modificação na Agroceres. A cultura das empresas
difere em alguns aspectos, explica, Como, porém, a Monsanto não atuava na área,
a experiência de gerenciamento da Agroceres é que vale. Da continuidade do
relacionamento, da troca de experiências, devidamente avaliadas, é que surgirão
os planos futuros. No momento, como diz o diretor da Monsanto, todos vão
aprender muito uns com os outros.
A Monsanto, adianta ainda, vai lançar no
Brasil provavelmente na safra de 2000 as primeiras variedades de soja
transgênica, a resistente ao herbicida Roundup, já em franca comercialização
nos EUA, onde domina o mercado. À soja já está em experiência no país e no
final de 98 será plantada para multiplicação, o que abre uma possibilidade de
venda em 1999. Para o milho, a empresajá obteve junto ao CTNBioa autorização para
testes de uma variedade resistente ao Roundup e insetos. No caso do algodão,
experimenta cultivar resistente à lagarta.
Consumidor - Rodrigo
explica, ainda a posição de sua empresa em relação aos produtos geneticamente
modificados e o consumidor. Por exemplo, a Monsanto é favorável à rotulagem do
produto, uma bandeira das entidades de defesa do consumidor.
“Mas deve-se informar o que realmente
importa. Se há alteração do teor nutricional, sabor, composição ou qualidade.
Mas se o produto transgênico é exatamente igual ao outro, que vantagem há em
alardear essa condição?”Não se pode, adianta, concordar com posições meramente ideológicas.
O diretor da Monsanto lembra que a
empresa vem pesquisando esses produtos há 12 anos, tendo-os lançado nos EUA e
obtido aprovação para sua venda na Europa, onde os organismos de controle são
muito rigorosos.
A reação contra eles, quando existe, é a
mesma contra qualquer produto novo, ainda desconhecido. “Mas ninguém lembra de criticar
os produtos transgênicos da área farmacêutica, que existem em quantidade, como
insulina, vacinas e até os testes contra AIDS. Então há quem diga que nós
precisamos dos remédios. Mas e de comida, não precisamos?”
Na sua opinião, as críticas aos transgênicos
se constituem em modismo e dentro de quatro, cinco anos ninguém ligará mais.
Algo semelhante ao ocorrido nos anos 40 e 50 com os agroquímicos, condenados
sem maior conhecimento. Bem usados, aumentaram a produção de alimentos. E a
biotecnologia, agora, aumentará ainda mais a produção, reduzindo até mesmo o
uso dos agroquímicos.