Monsanto compra Agroceres por seu banco de germoplasma

Edição II | 01 - Jan . 1998
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    O principal negócio do ano na área de sementes, no Brasil, foi a compra da divisão vegetal da Agroceres pela Monsanto do Brasil Ltda, em novembro, por um preço ainda não revelado. A operação se inclui entre as transações milionárias que se realizam atualmente no mundo em função das estratégias de domínio de tecnologia para o lançamento de cultivares transgênicas. Afinal, a Agroceres tem reconhecidamente o maior banco de material genético do mundo tropical, ocupando ainda posição entre os líderes do mercado de sementes de milho híbrido, sorgo e hortaliças. 
    A Monsanto, agora a maior empresa de sementes atuando no Brasil, comprou mesmo um banco de material genético, o que a coloca em posição privilegiada no mercado de genética tropical, como admite Rodrigo Lopes Almeida, seu diretor para Assuntos Corporativos. Já para a Agroceres a venda foi vantajosa, pois a empresa teria de efetuar agora investimentos de alto porte para desenvolver cultivares transgênicas em condições de competir no mercado da próxima década. A biotecnologia, aliás, é o carro chefe da Monsanto, que queima etapas de pesquisa com a compra da Agroceres, empresa de importância estratégica nessa área. 
    A Agroceres, segundo informa Rodrigo, não terá mudança alguma nos próximos meses, nem mesmo de pessoal, que ele qualifica de excelente qualidade, “um time que está ganhando”. Será mantida sua qualificada rede de representantes e pontos de venda, mais de 4.000 no total. Aliás, ele mesmo comenta que de pouco adiante ter tecnologia de ponta, produzir genes maravilhosos se não houver uma boa estrutura comercial para levá-los aos produtores. Foi assim que a empresa montou uma estratégia adquirindo inicialmente a FT Sementes, dando origem à Monsoy, na liderança na área de soja. Outro passo que se dá é um pré-acordo, em fase de inalização, com a Maeda, na área do algodão. Com a Agroceres fecha-se o ciclo no setor de milho. 
    Rodrigo Almeida considera ainda muito cedo para se falar em qualquer modificação na Agroceres. A cultura das empresas difere em alguns aspectos, explica, Como, porém, a Monsanto não atuava na área, a experiência de gerenciamento da Agroceres é que vale. Da continuidade do relacionamento, da troca de experiências, devidamente avaliadas, é que surgirão os planos futuros. No momento, como diz o diretor da Monsanto, todos vão aprender muito uns com os outros. 
    A Monsanto, adianta ainda, vai lançar no Brasil provavelmente na safra de 2000 as primeiras variedades de soja transgênica, a resistente ao herbicida Roundup, já em franca comercialização nos EUA, onde domina o mercado. À soja já está em experiência no país e no final de 98 será plantada para multiplicação, o que abre uma possibilidade de venda em 1999. Para o milho, a empresajá obteve junto ao CTNBioa autorização para testes de uma variedade resistente ao Roundup e insetos. No caso do algodão, experimenta cultivar resistente à lagarta. 
    Consumidor - Rodrigo explica, ainda a posição de sua empresa em relação aos produtos geneticamente modificados e o consumidor. Por exemplo, a Monsanto é favorável à rotulagem do produto, uma bandeira das entidades de defesa do consumidor. 
    “Mas deve-se informar o que realmente importa. Se há alteração do teor nutricional, sabor, composição ou qualidade. Mas se o produto transgênico é exatamente igual ao outro, que vantagem há em alardear essa condição?”Não se pode, adianta, concordar com posições meramente ideológicas. 
    O diretor da Monsanto lembra que a empresa vem pesquisando esses produtos há 12 anos, tendo-os lançado nos EUA e obtido aprovação para sua venda na Europa, onde os organismos de controle são muito rigorosos. 
    A reação contra eles, quando existe, é a mesma contra qualquer produto novo, ainda desconhecido. “Mas ninguém lembra de criticar os produtos transgênicos da área farmacêutica, que existem em quantidade, como insulina, vacinas e até os testes contra AIDS. Então há quem diga que nós precisamos dos remédios. Mas e de comida, não precisamos?” 
 Na sua opinião, as críticas aos transgênicos se constituem em modismo e dentro de quatro, cinco anos ninguém ligará mais. Algo semelhante ao ocorrido nos anos 40 e 50 com os agroquímicos, condenados sem maior conhecimento. Bem usados, aumentaram a produção de alimentos. E a biotecnologia, agora, aumentará ainda mais a produção, reduzindo até mesmo o uso dos agroquímicos. 

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