Germinação na espiga

Edição II | 01 - Jan . 1998
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    Os cereais, em sua maioria, podem apresentar o problema do grão/semente germinar na espiga ou panícula quando a planta ainda se encontra no campo. Evidentemente que a germinação somente se verificará se houver umidade suficiente. Portanto, o problema se manifesta em regiões onde ocorrem precipitações por um período relativamente prolongado (três a quatro dias) próximo da maturação do grão. Esta condição ocorre com muita frequência no período de colheita dos cereais de inverno nas regiões Sul e Centro- Sul. O trigo e o triticale são os que mais apresentam este problema. 
    À germinação na espiga causa perdas no rendimento e reduz drasticamente o peso hectolitro dos grãos. A perda no rendimento ocorre, principalmente, devido ao aumento da debulha da espiga e a eliminação pela máquina colheitadeira dos grãos germinados. O peso hectolitro se reduz porque a relação peso/volume é muito afetada nos grãos germinados. 
    O produtor terá, como consequência da germinação na espiga, não apenas o prejuízo da redução do rendimento e do peso hectolitro. A qualidade do grão para fins panificativos, no caso do trigo, fica muito reduzida e o produtor terá que vendê-lo para produção de rações. É nesta fase do processo produtivo que as consequências da ocorrência da germinação na espiga são realmente sentidas. É difícil quantificar com exatidão as perdas devido ao problema. Contudo, algumas estimativas podem ser feitas. Em 1996, as regiões de Cascavel e Toledo, no Paraná, tiveram, aproximadamente, 20% de sua área cultivada com trigo afetada pelo problema. Situação semelhante ocorreu nas regiões de Santa Rosa, Ijuí e Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Estima- se que neste ano cerca de 250 mil toneladas de grãos de trigo, no Brasil, perderam a condição de produzir um produto panificável devido a ocorrência de germinação na espiga. Em termos de recursos financeiros estes números representam uma perda aproximada de US$ 33 milhões. A suscetibilidade à germinação na espiga pode estar associada diretamente com a ausência ou a pouca dormência do grão. Além deste fator, a maior ou menor cobertura do grão pela lema e palha (estruturas que envolvem o grão) pode contribuir para aumentar ou diminuir o problema. Alguns estudos têm indicado também que a presença de inibidores nas brácteas (lema e palha) de algumas cultivares de trigo pode determinar que estas apresentem menor suscetibilidade a germinação na espiga. Porém,não se tem dúvida de que a dormência do grão é o fator mais importante. 
    Há indicações muito fortes de que o nível de dormência do grão de trigo está associado à sensibilidade do embrião ao hormônio vegetal Ácido Absísico(ABA). Este hormônio tem uma forte ação de inibição na planta. Observou-se que os embriões das cultivares que normalmente apresentam grãos dormentes são responsivos ou sensíveis ao ABA.Já os embriões das cultivares que não têm dormência não apresentam sensibilidade ao hormônio, embora a quantidade de ABA presente seja semelhante a do dormente. 
    Quando embriões de grãos dormentes são embebidos em água ocorre uma prolongada e ativa síntese de proteínas. Estas mesmas proteínas são sintetizadas em embriões de grãos já sem dormência, quando embebidos em solução com ABA.São, portanto, proteínas responsivas ao ABA. Já em embriões de grão de cultivares que naturalmente não têm dormência não se observa a síntese destas proteínas, mesmo na presença de ABA. As informações geradas hoje estão indicando que em cultivares de trigo, cujos grãos apresentam dormência, estes, durante seu desenvolvimento, mantêm, por um período prolongado, a expressão de genes responsivos ao ABA. Este é, portanto, um hormônio importante na indução da dormência do grão de trigo. Não se sabe ainda se a importância do ABA na manutenção da dormência é a mesma que o na indução. 
    O nível de dormência do grão de trigo é significativamente afetado pela temperatura que se verifica durante o desenvolvimento. Especialmente durante a fase de grão em massa “muito” mole (35 a 50% do peso final do grão). Temperaturas de 15º a 20º C, durante esta fase, contribuem para que cultivares com dormência natural no grão, expressem esta dormência. Já grãos desenvolvidos em temperaturas mais elevadas tendem a apresentar muito pouca ou nenhuma dormência. 
    A variabilidade para suscetibilidade ou resistência a germinação na espiga, entre cultivares de trigo, é muito grande. Dos genótipos em cultivo no Rio Grande do Sul, observa-se desde muito suscetível, como BR-38, a moderadamente resistente, como EMBRAPA-40 e OR-1. O melhor material já criado no Brasil para germinação na espiga foi a cultivar Frontana, lançada para cultivo em 1943, ainda muito utilizada como fonte de resistência à germinação por, seguramente, todos os países onde ocorre o problema. 
    O melhoramento genético é a única maneira de reduzir-se os prejuízos que potencialmente podem ser causados pelo mal. Atualmente há uma preocupação muito grande das entidades de pesquisa com relação a este problema e com certeza todos os programas de melhoramento das Regiões Sul e Centro Sul têm a germinação na espiga como prioridade número um. 

    Autor desta matéria:  Jorge Luiz Nedel / Professor em Sementes

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