À germinação na espiga causa perdas no
rendimento e reduz drasticamente o peso hectolitro dos grãos. A perda no
rendimento ocorre, principalmente, devido ao aumento da debulha da espiga e a
eliminação pela máquina colheitadeira dos grãos germinados. O peso hectolitro
se reduz porque a relação peso/volume é muito afetada nos grãos germinados.
O produtor terá, como consequência da
germinação na espiga, não apenas o prejuízo da redução do rendimento e do peso hectolitro.
A qualidade do grão para fins panificativos, no caso do trigo, fica muito
reduzida e o produtor terá que vendê-lo para produção de rações. É nesta fase do
processo produtivo que as consequências da ocorrência da germinação na espiga
são realmente sentidas. É difícil quantificar com exatidão as perdas devido ao
problema. Contudo, algumas estimativas podem ser feitas. Em 1996, as regiões de
Cascavel e Toledo, no Paraná, tiveram, aproximadamente, 20% de sua área cultivada
com trigo afetada pelo problema. Situação semelhante ocorreu nas regiões de
Santa Rosa, Ijuí e Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Estima- se que neste ano
cerca de 250 mil toneladas de grãos de trigo, no Brasil, perderam a condição de produzir
um produto panificável devido a ocorrência de germinação na espiga. Em termos
de recursos financeiros estes números representam uma perda aproximada de US$
33 milhões. A suscetibilidade à germinação na espiga pode estar associada
diretamente com a ausência ou a pouca dormência do grão. Além deste fator, a
maior ou menor cobertura do grão pela lema e palha (estruturas que envolvem o
grão) pode contribuir para aumentar ou diminuir o problema. Alguns estudos têm
indicado também que a presença de inibidores nas brácteas (lema e palha) de
algumas cultivares de trigo pode determinar que estas apresentem menor suscetibilidade a germinação na espiga. Porém,não se tem dúvida de que a
dormência do grão é o fator mais importante.
Há indicações muito fortes de que o
nível de dormência do grão de trigo está associado à sensibilidade do embrião ao
hormônio vegetal Ácido Absísico(ABA). Este hormônio tem uma forte ação de inibição
na planta. Observou-se que os embriões das cultivares que normalmente
apresentam grãos dormentes são responsivos ou sensíveis ao ABA.Já os embriões
das cultivares que não têm dormência não apresentam sensibilidade ao hormônio,
embora a quantidade de ABA presente seja semelhante a do dormente.
Quando embriões de grãos dormentes são
embebidos em água ocorre uma prolongada e ativa síntese de proteínas. Estas
mesmas proteínas são sintetizadas em embriões de grãos já sem dormência, quando
embebidos em solução com ABA.São, portanto, proteínas responsivas ao ABA. Já em
embriões de grão de cultivares que naturalmente não têm dormência não se
observa a síntese destas proteínas, mesmo na presença de ABA. As informações
geradas hoje estão indicando que em cultivares de trigo, cujos grãos apresentam
dormência, estes, durante seu desenvolvimento, mantêm, por um período
prolongado, a expressão de genes responsivos ao ABA. Este é, portanto, um
hormônio importante na indução da dormência do grão de trigo. Não se sabe ainda
se a importância do ABA na manutenção da dormência é a mesma que o na indução.
O nível de dormência do grão de trigo é
significativamente afetado pela temperatura que se verifica durante o
desenvolvimento. Especialmente durante a fase de grão em massa “muito” mole (35
a 50% do peso final do grão). Temperaturas de 15º a 20º C, durante esta fase,
contribuem para que cultivares com dormência natural no grão, expressem esta dormência.
Já grãos desenvolvidos em temperaturas mais elevadas tendem a apresentar muito
pouca ou nenhuma dormência.
A variabilidade para suscetibilidade ou resistência
a germinação na espiga, entre cultivares de trigo, é muito grande. Dos genótipos
em cultivo no Rio Grande do Sul, observa-se desde muito suscetível, como BR-38,
a moderadamente resistente, como EMBRAPA-40 e OR-1. O melhor material já criado
no Brasil para germinação na espiga foi a cultivar Frontana, lançada para
cultivo em 1943, ainda muito utilizada como fonte de resistência à germinação
por, seguramente, todos os países onde ocorre o problema.
O melhoramento genético é a única
maneira de reduzir-se os prejuízos que potencialmente podem ser causados pelo mal.
Atualmente há uma preocupação muito grande das entidades de pesquisa com
relação a este problema e com certeza todos os programas de melhoramento das
Regiões Sul e Centro Sul têm a germinação na espiga como prioridade número um.
Autor desta matéria: Jorge Luiz Nedel / Professor em Sementes