Para a pesquisa, criou-se um desafio:
incorporar qualidade industrial ao trigo brasileiro. Agora o comprador é o
moageiro, que exige qualidade da mesma forma que o consumidor de farinha também
é exigente em qualidade. Mas o que é qualidade industrial? Como é avaliada?
Devemos considerar inicialmente a expressão “seco, limpo e são”, usada
rotineiramente na indústria para definir o ponto inicial da qualidade: trigo
com 13% de umidade, baixo conteúdo de impurezas e isento de insetos e doenças. Também
entende-se que o lote de grãos não apresenta grãos germinados, o que pode
inviabilizar o uso para panificação.
O fator determinante da qualidade do
trigo no Brasil é sua aptidão para a indústria panificadora. Esta é medida
geralmente usando-se como base a alveografia, onde um pequeno disco de massa é
inflado, formando uma bolha,e a energia necessária para sua deformação é
medida, resultando no parâmetro Força de Glúten (W). Este parâmetro é usado em
várias partes do mundo para medir qualidade industrial em trigo, onde trigos
fortes (alto W) são mais valorizados que trigos fracos.
Os principais componentes do grão do
trigo são o amido, as proteínas e os lipídios. São as proteínas do trigo que
conferem a este cereal características únicas de qualidade e são as proteínas
os principais determinantes da Força de Glúten do trigo. Estas podem variar
tanto qualitativamente como quantitativamente. A variação qualitativa está
relacionada a escolha da cultivar que apresente uma combinação de gluteninas (proteínas
formadoras do glúten) para possibilitar uma alta força de glúten. Nosso
programa de melhoramento faz uso da eletroforese de gluteninas de alto e baixo
peso molecular (HMW e LMW)para identificar genótipos que acumulem maior número
de genes (alelos) favoráveis a alta força de glúten, bastando para este tipo de
análise metade de uma semente de trigo, possibilitando o plantio da parte com o
embrião após a análise.
"A eletroforese identifica
diferentes tipos de trigo"
A influência quantitativa das proteínas deve-se
a relação direta entre porcentagem de proteína no grão e Força de Glúten na
farinha. Considerando-se uma mesma cultivar, quanto maior a porcentagem de
proteína em uma amostra, maior sua Força de Glúten. Sendo assim, práticas agronômicas
como a adubação nitrogenada podem influenciar positivamente a qualidade do
trigo. Em países exportadores de trigo, como Austrália e Estados Unidos, a
determinação da porcentagem de proteína é feita no recebimento, junto às
determinações de umidade e impurezas. Isto permite a segregação das cargas de
acordo com sua Força de Glúten.
A OR Melhoramento de Sementes Ltda. é
uma empresa essencialmente criadora de variedades, tendo recomendado sua
primeira cultivar (OR-1) em 1996, com bons resultados em diversas regiões. A
empresa concentra seus esforços para oferecer à cadeia produtiva do trigo
cultivares de boa adaptação, alto rendimento e excelente qualidade industrial.
Esta inicia pela seleção de linhagens com alta tolerância a germinação na
espiga, passa pela análise da constituição genética (gluteninas) de novas
linhagens e segue até os testes de qualidade realizados com amostras maiores
dentro de moinhos.
Acreditamos que em breve o Brasil estará
apto a competir no mercado internacional de trigo. Para tal, estamos combinando
na semente de novos materiais os genes de resistência a doenças, adaptação e alto
rendimento com genes de alta força de glúten, para que se possa efetivamente
produzir trigo brasileiro com excelente qualidade industrial.
Autor desta matéria: Ottoni Rosa Filho / Melhorista em trigo