Melhoramento genético em trigo

Edição II | 01 - Jan . 1998
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br

    Durante décadas, o melhoramento genético do trigo no Brasil teve comoprincipais objetivos a alta produtividade e a estabilidade de produção, já que o único comprador de trigo era o Governo Federal e o principal parâmetro de qualidade era o peso hectolítrico. Quando a compra estatal terminou, no início da década de 90, criou-se uma desarmonia geral na cadeia produtiva do trigo, com significativas perdas para vários setores. 
    Para a pesquisa, criou-se um desafio: incorporar qualidade industrial ao trigo brasileiro. Agora o comprador é o moageiro, que exige qualidade da mesma forma que o consumidor de farinha também é exigente em qualidade. Mas o que é qualidade industrial? Como é avaliada? Devemos considerar inicialmente a expressão “seco, limpo e são”, usada rotineiramente na indústria para definir o ponto inicial da qualidade: trigo com 13% de umidade, baixo conteúdo de impurezas e isento de insetos e doenças. Também entende-se que o lote de grãos não apresenta grãos germinados, o que pode inviabilizar o uso para panificação. 
    O fator determinante da qualidade do trigo no Brasil é sua aptidão para a indústria panificadora. Esta é medida geralmente usando-se como base a alveografia, onde um pequeno disco de massa é inflado, formando uma bolha,e a energia necessária para sua deformação é medida, resultando no parâmetro Força de Glúten (W). Este parâmetro é usado em várias partes do mundo para medir qualidade industrial em trigo, onde trigos fortes (alto W) são mais valorizados que trigos fracos. 
    Os principais componentes do grão do trigo são o amido, as proteínas e os lipídios. São as proteínas do trigo que conferem a este cereal características únicas de qualidade e são as proteínas os principais determinantes da Força de Glúten do trigo. Estas podem variar tanto qualitativamente como quantitativamente. A variação qualitativa está relacionada a escolha da cultivar que apresente uma combinação de gluteninas (proteínas formadoras do glúten) para possibilitar uma alta força de glúten. Nosso programa de melhoramento faz uso da eletroforese de gluteninas de alto e baixo peso molecular (HMW e LMW)para identificar genótipos que acumulem maior número de genes (alelos) favoráveis a alta força de glúten, bastando para este tipo de análise metade de uma semente de trigo, possibilitando o plantio da parte com o embrião após a análise. 


    "A eletroforese identifica diferentes tipos de trigo" 
 

    A influência quantitativa das proteínas deve-se a relação direta entre porcentagem de proteína no grão e Força de Glúten na farinha. Considerando-se uma mesma cultivar, quanto maior a porcentagem de proteína em uma amostra, maior sua Força de Glúten. Sendo assim, práticas agronômicas como a adubação nitrogenada podem influenciar positivamente a qualidade do trigo. Em países exportadores de trigo, como Austrália e Estados Unidos, a determinação da porcentagem de proteína é feita no recebimento, junto às determinações de umidade e impurezas. Isto permite a segregação das cargas de acordo com sua Força de Glúten. 
    A OR Melhoramento de Sementes Ltda. é uma empresa essencialmente criadora de variedades, tendo recomendado sua primeira cultivar (OR-1) em 1996, com bons resultados em diversas regiões. A empresa concentra seus esforços para oferecer à cadeia produtiva do trigo cultivares de boa adaptação, alto rendimento e excelente qualidade industrial. Esta inicia pela seleção de linhagens com alta tolerância a germinação na espiga, passa pela análise da constituição genética (gluteninas) de novas linhagens e segue até os testes de qualidade realizados com amostras maiores dentro de moinhos. 
    Acreditamos que em breve o Brasil estará apto a competir no mercado internacional de trigo. Para tal, estamos combinando na semente de novos materiais os genes de resistência a doenças, adaptação e alto rendimento com genes de alta força de glúten, para que se possa efetivamente produzir trigo brasileiro com excelente qualidade industrial.  

    Autor desta matéria:  Ottoni Rosa Filho / Melhorista em trigo

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