Desde o mês de abril, a Associação Brasileira de Sementes e Mudas tem à frente de seu Conselho de Administração um novo presidente: Paulo Pinto de Oliveira Filho. Engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), há mais de 40 anos atua no setor sementeiro; além do trabalho em cooperativas de sementes, com destaque para a Coprossel, da qual foi o primeiro presidente, também ocupou cargos de liderança na Fundação Meridional, de apoio à pesquisa agropecuária, e na Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (Apasem). Na associação brasileira, esteve em diversos cargos, como conselheiro e vice-presidente.
Nesses primeiros meses na presidência do Conselho, Pinto tem buscado ressaltar a necessidade em promover alterações no arcabouço legal que rege o setor de sementes, para que a cadeia possa acompanhar as constantes e rápidas mudanças pelas quais passa o agronegócio na contemporaneidade; somente assim, segundo ele a área poderá se manter sempre na vanguarda.
A Revista SEEDnews, de forma a marcar o início desse novo mandato, entrevista Paulo Pinto, para trazer um pouco da sua visão sobre o mercado sementeiro, seus desafios e potencialidades.
SEEDnews: Paulo, queria iniciar nossa conversa perguntando como é para o senhor chegar à frente do Conselho de Administração da Abrasem neste momento. Paulo Pinto: Para mim, isso é um grande desafio, porque a Abrasem é uma das principais associações do setor no mundo inteiro, e representa a indústria de sementes no Brasil, que é o principal país produtor do agronegócio.
Esta será a terceira gestão em que farei parte da Abrasem: primeiro foi como vice-presidente, depois, como membro do Conselho e agora na presidência. Dentro desse período, temos procurado fazer um novo planejamento estratégico para a entidade, visando modernizar a associação, fortalecê-la, para melhor atender nossos associados.
A Abrasem representa um segmento e precisa ser forte e cuidar de todos os elos, porque não existe corrente forte com elo fraco. Estamos bem alinhados e todos estão bem motivados para trabalhar. E já tenho certeza de que vamos fazer um grande trabalho.
SN: Conte um pouco mais desse novo planejamento estratégico. O que vocês estão buscando atingir? Quais foram as motivações e aonde vocês querem chegar com ele? PP: A motivação é a necessidade de acompanhar as mudanças que vêm acontecendo no agronegócio brasileiro. O setor tem crescido bastante nos últimos anos, e a área de sementes é a base de tudo: tem que ser sempre na vanguarda, tem que estar à frente com as novas tecnologias, as inovações.
São essas as coisas que têm feito com que o agronegócio brasileiro seja um sucesso, e sentimos a necessidade de fortalecer mais a associação para nos adequarmos para poder atender e prestar um melhor serviço para os nossos associados. Precisamos colocar mais pessoas trabalhando, tendo em vista que a empreitada aumentou.
SN: O senhor salientou essa posição estratégica do setor de sementes no agronegócio. Como o senhor tem visto o ramo sementeiro atualmente? PP: O setor sementeiro vem acompanhando o crescimento do agronegócio brasileiro. Mas há muitos desafios nos quais precisamos atuar. Um deles, por exemplo, é a atualização da Lei de Produção de Cultivares (LPC). Nós precisamos - e é função da Abrasem trabalhar nisso - atuar para que tenhamos um marco regulatório que seja seguro, que propicie aos nossos associados fazer os investimentos e que seja simples; ou seja, sem muita burocracia, mas que dê segurança.
SN: E além dessa atualização da Lei de Proteção de Cultivares, quais são os pontos que vão merecer destaque e atenção nos próximos anos? PP: É a atualização de toda a legislação. É necessário criar um arcabouço regulatório que seja seguro, que não seja muito burocrático e que seja fácil para trabalharmos. Outra coisa que preocupa bastante é a reforma tributária. Temos trabalhado para que o setor não seja atingido com isso. A lei já foi aprovada, agora vem a regulamentação. E isso nos preocupa, para que o setor não seja atingido. O setor de sementes precisa de incentivo e não de tributação. Nós precisamos ser sustentáveis economicamente para apresentar um crescimento à altura, com qualidade e com quantidade de sementes para que o agronegócio continue crescendo.
Então, a Abrasem tem esse papel de juntar todos esses atores, desde a área da pesquisa, os produtores, comerciantes, para discutir esses assuntos. Somos uma associação ampla como um guarda-chuva.
SN: E como é harmonizar essa turma toda, na sua visão? PP: Muito fácil não é, pois é preciso colocar todos os interesses em uma mesma sala. É importante que todos entendam que uma corrente é tão forte quanto seu elo mais fraco. Então, todos os elos precisam ser respeitados e protegidos para termos a indústria de sementes como um todo fortalecida. Então, trabalhamos com o que existe de melhor em termos de técnicos, de cientistas, que fazem parte dos nossos comitês técnicos, que dão sustentação e orientam o Conselho, para que este seja mais assertivo. E dentro do conselho, se discute com todos os segmentos; a nossa missão é fazer o melhor possível para que a associação represente e fortaleça cada vez mais a indústria de sementes. Claro que existem as divergências.
SN: E quais seriam as divergências e os pontos unânimes? PP: O que todos nós convergimos é que o agronegócio é o sustentáculo para o Brasil, e que o setor de sementes é a base de tudo. Por isso, nós temos que fortalecer nosso setor, porque é daqui que saem as inovações, daqui que sai a solução para que se produza mais com menos, para que se preserve a natureza, para que se seja mais sustentável economicamente, socialmente, ambientalmente.
E é com esses olhos que todos trabalham... É claro que as vezes cada um tem seu interesse particular, mas todos tem um foco na importância do todo. É importante que estejamos fortalecidos como associação e que as decisões sejam abrangentes e que beneficiem todo o segmento.
SN: E como é que é esse processo de articulação? Como fazer essa ponte entre o setor e o Congresso e o Ministério da Agricultura? PP: O trabalho é baseado na conversa, no diálogo. Nós temos um bom diálogo hoje com o Ministério da Agricultura [e da Pecuária] e um excelente diálogo com a Frente Parlamentar da Agricultura, que nos representa o Congresso. E isso são ferramentas que facilitam fazermos as coisas andar com mais rapidez. O segredo é conversar com todo mundo e buscar a melhor solução que atenda a gregos e a troianos.
SN: O senhor falou de renovar esse arcabouço legal, de sempre estar o atualizando. Quais são, a curto e longo prazo, as mudanças que vocês já têm visualizado? PP: Um desafio recente que tem nos preocupado é como conseguir levar essas novas tecnologias que estão surgindo, e que podem ser muito úteis, para todos os elos da cadeia, como, por exemplo, a inteligência artificial. A inteligência artificial certamente vai fazer uma diferença muito grande dentro dos processos de produção de sementes; vai ser possível a gente produzir melhor com menos custos.
A edição gênica também vai propiciar muitas melhorias em melhoramento genético, com mais players entrando no negócio, mais empresas com melhores resultados. Então, é decisivo criar um arcabouço legislativo que propicie que todos tenham acesso a essas novas tecnologias, já que certamente todos nós vamos ganhar com isso. Nossa missão é ajudar a planejar o Brasil para se tornar o celeiro do mundo, como ele já está sendo.
SN: Presidente, uma pauta que está muito em voga é a questão da sustentabilidade. Recentemente passamos por uma mudança na legislação sobre o licenciamento ambiental, mas também há uma série de outras pautas que acompanham, como a realização da COP30 no Brasil. Como é que a Abrasem tem buscado fazer essa ponte da sustentabilidade com a produtividade? PP: Vamos falar primeiro sobre a COP30. A Abrasem vai participar junto, por meio da ISF [Federação Internacional de Sementes], para levar informações reais, de forma que todos vejam que nós praticamos a agricultura mais sustentável do mundo. Muitos veem a COP30 como problema, mas estamos vendo como uma oportunidade para mostrar porque o Brasil é mais sustentável, por que a gente consegue preservar 66% das áreas e, mesmo assim, ter as melhores produtividades do mundo.
Precisamos também fazer essa conciliação na questão da legislação e da sustentabilidade. A nova lei de licenciamento é o que buscamos defender: uma simplificação, que nos dá segurança e que seja menos burocrática; uma legislação para a gente poder trabalhar e fazer aquilo que a gente já faz bem-feito. O produtor brasileiro é o que mais preserva, ele cuida do seu patrimônio, que é o solo onde nós produzimos. Essa é sempre a mensagem: produzir mais preservando sempre o nosso maior patrimônio, o solo brasileiro.
SN: Outra oportunidade para mostrar essa pujança do setor de sementes do Brasil é o próximo Congresso da SAA... PP: É bom lembrar que está vindo aí, em outubro, o Congresso da SAA [Associação de Sementes das Américas]. A Abrasem está empenhada em fazer desse o melhor já feito até agora. Nós solicitamos que esse 10º Congresso viesse para o Brasil exatamente para termos a possibilidade de mostrar o que é a agricultura brasileira. O congresso é das Américas, mas vão estar profissionais e cientistas da área de sementes do mundo inteiro. É uma grande oportunidade para ter acesso a essas novas tecnologias, fazer networking, conversar com as pessoas que vão estar lá.
(As perguntas e respostas foram editadas por questões de clareza e adequação à linguagem escrita.)