Panorama global do uso da terra

Edição XXVI | 05 - Set . 2022
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
    Em 1960, um hectare provia alimento para duas pessoas. Em 2050, um hectare deverá suprir a necessidade de seis pessoas. A demanda por produtos do agronegócio tem aumentado e, com ela, as exigências por segurança alimentar e nutricional. Temas como mudanças climáticas, uso da terra e conservação da biodiversidade têm sido pauta frequente de debates em renomadas instituições.

    Em estudo recente, Winkler et al. (2021) mostraram que a mudança no uso da terra afetou 32% da área global nos últimos 60 anos, sendo quatro vezes maior em extensão do que previamente estimado em outros estudos. Isso significa que, em média, o mundo perdeu em área, neste período, duas vezes o tamanho da Alemanha (720.000 km²), que foram convertidos para diversos outros usos, incluindo a agricultura.

    Considerando em termos globais, 71% da superfície terrestre compreendem os oceanos e mares e 29% de terra “firme”. Do percentual de terra “firme”, temos ainda 71% de terras habitáveis, 10% de geleiras e 19% que inclui desertos, solos salinos, rochas, praias e dunas. Ver Figura.

    Do total de terras habitáveis, 50% correspondem à agricultura, 37% florestas, 11% vegetação arbustiva, 1% urbanização e 1% rios e lagos. Da área agrícola, 77% compreendem a atividade pecuária (40 milhões de km2) e 23% os cultivos anuais e perenes (11 milhões de km2).

    Estima-se que há mil anos cerca de quatro milhões de km2 eram usados para agricultura. Atualmente são utilizados 51 milhões de km2, uma área 13 vezes maior que a anterior.

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    Há dois usos principais das terras agrícolas: terras dedicadas aos cultivos anuais e perenes e terras de pastagens, usadas para criações pecuárias.

    Na maioria dos países o uso pecuário é dominante em relação às terras agrícolas. Em geral, as áreas dedicadas à agricultura correspondem a menos de 20%, na maioria dos países. Há algumas exceções, como os países do Sul Asiático e Europa, que alocam cerca de metade de suas áreas para agricultura. Para a maioria dos países, no entanto, grande percentual de áreas agriculturáveis (mais de 50%) são usadas com pastagens e criações animais. Porém, o padrão de mudança no uso da terra pode variar significativamente entre regiões. Enquanto áreas agrícolas do Hemisfério Norte tiveram redução na área cultivada nas últimas décadas, no Hemisfério Sul houve aumento, principalmente pela contribuição da América do Sul, em que o Brasil, Argentina e Paraguai têm tido participação crescente. 

    Essa heterogeneidade na produção mostra ainda uma grande concentração de cultivos anuais em regiões como o Corn Belt dos EUA, Centro-Oeste do Brasil, Leste Europeu, Índia e China. Por outro lado, há regiões extremamente pobres com agricultura de subsistência ou de baixo nível tecnológico, como a África Subsaariana, parte do Sudeste Asiático e América Latina.

    O texto apresentou um panorama global do uso da terra, destacando o uso para a agricultura. Segundo a FAO, até 2050, será necessário produzir 70% mais alimento com um incremento de 80% na produtividade e 20% na área cultivada. Esse desafio torna-se ainda maior se: 1) considerarmos a necessidade de produzir com sustentabilidade; 2) tornarmos a distribuição da produção e do consumo menos desigual; 3) e fizermos um uso mais racional dos recursos naturais e da tecnologia disponíveis.

    O rendimento dos principais cultivos tem crescido de forma significativa nas últimas décadas. Progressos tecnológicos vêm sendo feitos com sucesso nas áreas de sementes, biotecnologia, mecanização e nas tecnologias digitais. A tecnologia é fundamental para aumentar os rendimentos com o mínimo de expansão em área cultivada. O mundo precisa de alimento, fibras e energia, mas isso tem que ser feito de forma sustentável, e a tecnologia, sem dúvida, é o caminho.

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