Palavra de especialista - Os cinco pilares da qualidade da semente

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Edição XXVI | 05 - Set . 2022
    Com a autoridade científica de quem trilhou uma das carreiras mais sólidas e respeitadas no mundo da soja, Francisco Carlos Krzyzanowski aponta o cultivo da oleaginosa que alimenta o mundo como algo que se gesta tendo a qualidade como princípio, meio e fim. Doutor em Tecnologia da Semente pela Mississippi State University e pós-doutor University of Florida, é pesquisador da Embrapa Soja há 35 anos e preside a Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes, a ABRATES. O especialista destaca os fundamentos que conferem à semente certificada o protagonismo e a responsabilidade na entrega de segurança e confiança ao produtor rural.

     Dr Francisco, no que se lastreia a qualidade da semente?
    Temos cinco pilares. O primeiro deles está relacionado à qualidade fisiológica, que está atrelada ao maior vigor, à maior germinação. O segundo é a qualidade sanitária: ser livre de patógenos e de sementes de plantas daninhas. O terceiro pilar é qualidade física, ser livre de material inerte e contaminantes, e incluo mais: a integridade de tegumentos, algo fundamental no caso da soja. O quarto pilar é a qualidade genética, a garantia da pureza varietal para levar as características agronômicas daquela nova variedade até o produtor.
   
    O quinto fator que lastreia a qualidade da semente é a qualidade legal, o uso de sementes legalizadas, com origem dentro de um sistema lícito de produção de sementes.
No quesito fisiológico, quais são as maiores preocupações a serem observadas pelo produtor?

    Se nós falarmos em qualidade fisiológica, é muito importante que a semente seja produzida nas melhores condições. A soja requer uma temperatura média de 22ºC entre o dia e a noite na fase de passagem da maturação fisiológica para a maturação morfológica (maturação de campo, para a colheita). Isso implica em plantio depois da primeira semana de novembro, para que ela venha a amadurecer quase no final de fevereiro. E logicamente que o manejo de pragas e doenças é fundamental.

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    No pilar da qualidade física, o que é importante ter em foco na base do ciclo produtivo?
    A qualidade física é muito relevante porque a semente não pode estar com material inerte, principalmente, com resto de torrões – que podem conter nematoides. Outro aspecto importante: a semente precisa estar livre de contaminantes, livre de sementes indesejáveis. 

    Especialistas são unânimes em defender o uso de sementes certificadas junto a sojicultores. Por quê? 
    A semente tem que ter origem. Porque a semente é como um chip: ela leva uma série de novos atributos da nova variedade para o campo. Ela tem que ter uma alta pureza varietal para poder expressar todo o resultado do melhoramento genético. Grão pirata – e aqui não chamo de semente - não leva qualidade. Semente salva também tem muitas restrições em termos de qualidade, principalmente sanitária, qualidade física e, algumas vezes, fisiológica. Quanto ao pilar da qualidade legal, não tenha dúvida: semente tem quer vir de um processo de controle de gerações!

    "Semente tem que ter origem. Porque semente é como um chip: ela leva uma série de novos atributos da nova variedade para o campo"

    Focar em todos esses processos de qualidade passa por uma profissionalização do setor como um todo, presumimos... 
    O controle de qualidade como um todo, passando por cada um dos cinco pilares que mencionei, precisa ser muito bem estruturado dentro de uma empresa de sementes, para que ela seja competitiva no mercado. A qualidade sanitária, por exemplo, é extremamente importante para evitar a transmissão de enfermidades para áreas que não têm doenças – algo que já acarretou problemas sérios no Brasil. Quando pensamos em semente, cada pilar de qualidade dá sua contribuição.
 
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    Na prática, como a qualidade genética contida na semente se traduz em confiança ao sojicultor?
    Nós temos a semente genética, que é a primeira semente feita dentro dos obtentores, que vai para a multiplicação, para a semente básica. E dessa semente básica sairá a semente certificada 1 (C1) e a certificada 2 (C2). Depois, entram no sistema a S1 e a S2, sendo a S2 a semente que vai para o campo, para o agricultor fazer sua lavoura. E aí entram fatores como a colheita no momento certo, sem danos mecânicos à soja, o beneficiamento correto para aprimorar a qualidade do lote de sementes, armazenamento correto para manter a qualidade e, logicamente, o monitoramento dessa qualidade no momento da comercialização. Tudo para entregar ao cliente o que há de melhor.

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