Ela, sempre ela: semente esverdeada

Edição XXVI | 05 - Set . 2022
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
    Num Dia de Campo para demonstrações de maquinários e desempenho de cultivares, é instigante notar que a maior concentração de produtores rurais e técnicos interessados está ao redor de cultivares novas. Já nos eventos, sejam workshops, congressos e outros que tenham a participação de estandes, e, num destes, haja equipes demonstrando equipamentos de selecionadoras eletrônica de cor, ali reside o grande número de produtores de sementes, técnicos, estudantes, profissionais da área de sementes.

    O propósito de tamanhas concentrações é, na primeira situação, conhecer novas cultivares, de maneira geral, mais produtivas e, quando não, com alguma tecnologia agregada, e na segunda, porque estão buscando tecnologias responsivas à retirada, sobretudo, de sementes esverdeadas ou que tenham manchas, a exemplo da mancha púrpura.

    Diante anos cada vez mais surpreendentes, em se tratando de sementes de soja, a alternativa é viável e tem colaborado muito com o setor sementeiro. Só não podemos esquecer que a máquina têm sua eficácia, mas deve se pensar no custo-benefício e não se perder de vista que quando há sementes esverdeadas, por exemplo, o campo sofreu como um todo: mesmo as sementes de cor amarela, que, aparentemente, demonstram estar bem, tem sua longevidade comprometida. 

    Mas a questão que muitos fazem é a de por que está aumentando a expressão de grão esverdeado na produção, com reflexos no potencial fisiológico (germinação e vigor), no caso de produção de sementes. Para questão complexa, não existe resposta simples. Existem muitas situações que agravam a retenção de clorofila em sementes de soja e que precisam ser bem entendidas, porque, às vezes, se coloca a culpa toda sobre as condições ambientais e pode não ser bem assim.

    Vamos discorrer a respeito do assunto, embasando os comentários em teorias descritas, embora ainda não esteja totalmente elucidada a influência de fatores externos no mecanismo de degradação do pigmento verde. Muitos estudos são realizados, e nos dias atuais, com a utilização de equipamentos de imagens digitais, a possibilidade de avanços é vasta. E quanto melhor entendida as circunstâncias, muito mais se fará para aplicação de técnicas que atenuem o surgimento deste tipo de fenômeno, sejam técnicas de manejo ou um trabalho no melhoramento genético, uma vez que é bem conhecido que o teor de clorofila é determinado pelo genótipo. 

    Em campo, quais os fatores que desencadeiam o advento? São vários e precisamos entendê-los bem para fazer as correções necessárias, desde que sejam possíveis. 

    O conhecimento sobre a fisiologia e a bioquímica da degradação de clorofila ainda é muito restrito. Sabe-se que inicia na senescência, sofre influência do genótipo e pode ser desencadeada por estresse hídrico, elevada intensidade luminosa ou redução de luz, mudanças de temperatura, aumento no teor de etileno, aumento da permeabilidade de membranas e mudanças no pH. 

    Enfim, abordagens como estresses ambientais provocados por alta temperatura e déficit hídrico, insetos, principalmente percevejos sugadores e doenças a exemplo de fusariose e macrophomina, de colmo e de folhas podem ocasionar bloqueios naturais na degradação de clorofila e, ainda, formar grãos de soja pequenos, enrugados, descoloridos e imaturos.

    Dentro deste contexto, existem os casos em que as plantas não sofreram estresses até o estádio R6.  Com a aproximação da maturidade, a degradação da clorofila ocorre de forma simultânea com a dessecação, ou seja, redução de água. Nas condições de secagem lenta e temperatura normal, o pigmento é degrado. Porém, nos estádios subsequentes, caso ocorram estresses hidrotérmicos, principalmente temperaturas elevadas, acontece a secagem muito rápida, e a clorofila e seus derivados podem não ser degradados ou, senão, degradados de forma parcial e resultar na retenção de cor verde nos cotilédones. 

    É conhecido que a degradação da clorofila é função do estádio de maturação, do teor de umidade e da temperatura de secagem. O mecanismo de degradação envolve enzimas que são cruciais e são dependentes de temperaturas de secagem. Em temperatura próxima à 25 °C, o mecanismo parece ocorrer por via enzimática, possivelmente mediada pelas enzimas oxigenases com formação de compostos incolores. Por outro lado, se a temperatura está próxima à 40 °C, ocorre a retenção de pigmento verde e o mecanismo parece ocorrer por duas vias: enzimática mediada por clorofilases, evidenciada pelo acúmulo de derivados defitilados, e química, com atuação da enzima magnésio-chelatase, evidenciada pelo acúmulo de feofitinas. 

    Estudos demonstraram que a degradação da clorofila pode ser obtida se a colheita for efetuada no estádio R7 e que pode ser afetada pelo estádio de maturação, pelas condições de secagem, por condições climáticas e por produtos químicos dessecantes.  No entanto, foi ressaltado que é possível colher antes do estádio R7, acontecendo a completa degradação da clorofila, caso a secagem ocorra de maneira lenta, em temperatura próxima à 25 °C.

    E quanto ao impacto do pigmento verde no potencial fisiológico? É muito mais severo quanto mais elevado for o índice detectado na amostra e atrelado à tonalidade de verde incidindo nos cotilédones das sementes. O grau de coloração dependerá do estádio de desenvolvimento da planta, quando ocorreu algum tipo de estresse. De modo geral, os trabalhos realizados com sementes esverdeadas apontam menor longevidade, menor germinação e vigor.

    Sementes que retém clorofila apresentam menor tempo de vida, entretanto, no armazém climatizado, isso se altera, mantendo a germinação e vigor sem muitas diferenças durantes as fases de análises; todavia, cuidados são necessários no embarque, no armazenamento de clientes e até mesmo com condições de semeadura. 

    É conhecido que a clorofila possui um elo com aspecto fisiológico e com o aspecto físico da semente. O visual faz acontecer reclamações, mesmo que a nuance de verde seja muito clara, fato que justifica o setor sementeiro correr em busca de tecnologias que minimizem a quantidade de semente esverdeada presente num lote de sementes.

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