Carreiras de sucesso no setor de sementes

Cinco histórias que merecem ser contadas e servem de exemplo para novos profissionais

Edição XXVI | 05 - Set . 2022
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
    O setor de sementes é composto por diversos profissionais que atuam em áreas distintas. Existem os responsáveis pela produção, responsáveis técnicos, empresários, diretores de empresas sementeiras. Existem os que se atém aos laboratórios, analistas de sementes, responsáveis pelo controle de qualidade, entre outras várias funções.

    O ambiente é altamente dinâmico e diverso. Conforme as oportunidades surgem à porta, os caminhos profissionais vão sendo construídos. Assim foi com todos os nossos cinco entrevistados para a composição desta matéria – Elton Hamer, Bruno Scheeren, Maria de Fátima Zoratto, Cláudia Lima e Celito Missio. Todos apontam para esta noção: é preciso se fazer valer das oportunidades.

    A partir disso, o intuito da SEEDnews com esta matéria é duplo: contar bonitas histórias de grandes nomes do ambiente sementeiro e, ao mesmo tempo, reforçar os diferenciais que levam a construção de histórias de sucesso no mundo das sementes.

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    Produção, RT e Gestão

    Dos nossos cinco entrevistados, três estiveram por muitos anos atuando diretamente como responsáveis técnicos (RT) de empresas produtoras de sementes. Elton e Celito foram por muitos anos RT na produção de sementes no Cerrado. Hoje, após anos de atuação, têm seus negócios próprios e lidam também com a gestão de suas empresas: Celito Missio é diretor-presidente da Sementes Oilema e Elton Hamer é sócio-diretor da Sementes Estrela do Cerrado.

    O outro nome que completa esta primeira trinca é Bruno Scheeren, que trilhou carreira produzindo sementes no Mato Grosso do Sul e, desde 2008, atua na área de consultoria de sementes, onde tem escritório próprio com mercado robusto no MS.

    A história dos três traz algumas semelhanças. Hamer, Missio e Scheeren garantiram a graduação em Agronomia em universidade federais no estado do Rio Grande do Sul, os dois primeiros na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e o último na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A primeira experiência profissional também foi parecida para Elton e Celito: atuar em uma cooperativa no interior gaúcho. Isso até que os dois seguissem o caminho que Bruno já havia tomado logo após a formatura, de ir desbravar o Cerrado brasileiro para trabalhar com produção de sementes.

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    “Em agosto de 1989, embarquei com meu irmão num fusca para o Mato Grosso e comecei a trabalhar”, conta Elton Hamer. “Eu estava na cooperativa, no meu segundo ou terceiro ano, e surgiu uma oportunidade de ir para o MT e para o MS e começar um projeto de produção de sementes. Eu disse: ‘vamos’ e assim parti em direção a Rondonópolis e Ponta Porã”, relembra Celito Missio.

    A história de Bruno tem um tempero intrigante. Inicialmente, ele não gostava muito da área de sementes, preferindo outras dentre as várias do campo agronômico. Quando chegou ao Cerrado, porém, se viu com um desafio e tanto em mãos: trabalhar com sementes de soja na cidade de Maracaju.

    “Eu não gostava muito da área e nem estava preparado para isso. Então, pedi uma semana para me preparar e estudar sobre o assunto, saber quais eram as ressalvas, os critérios para receber os lotes; e nessa semana peguei todo o material que era possível para mim e fui muito bem, diga-se de passagem”, aponta o consultor de sementes. A partir daí, conforme novas oportunidades surgiram, Scheeren nunca mais abandonou o ambiente sementeiro, assumindo papel importante no desenvolvimento da produção de sementes de soja em Maracaju, que se tornou importante polo no estado.

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    Os desafios para os três profissionais eram altíssimos. A produção de sementes de soja no MS e no MT à época não era o que é hoje. E a alçada de produzir semente de qualidade em quantidade foi algo que Celito Missio logo descobriu em seus primeiros anos trabalhando na área técnica da Sementes Jotabasso.

    “Em Rondonópolis, começamos a fazer semente em 1982, e dessa vez ‘dei com os muros na água’, porque era uma região diferente, chovia mais e era mais quente. Então pensei: ‘preciso me atualizar e aprender um pouco mais sobre a produção de sementes’. Daí surgiu um curso na Universidade de Viçosa, e era justo o momento em que muitos dos pesquisadores estavam retornando das universidades americanas, principalmente do Mississipi. E aí que aprendi os detalhes do que era preciso para se ter qualidade fisiológica nas situações mais difíceis, onde aprendi sobre dano mecânico, dano de percevejo, o que precisava saber sobre armazenamento. E aí, com tudo isso, em 1983 fizemos semente de boa qualidade, quebrando o tabu de produzir boa semente no MT”, relembra o presidente da Sementes Oilema.

    Este fato trazido à tona por Celito elucida um ponto que foi comum a todos os entrevistados: é preciso estar constantemente se atualizando e estudando para oferecer um serviço da mais alta excelência. Foi assim também com Hamer e Scheeren, que buscaram sempre o conhecimento, entrando em uma carreira de pós-graduação que os levou até o doutorado em sementes, o que ambos veem como um grande diferencial nas suas trajetórias. Interessante reforçar que tanto a COTRIJUI e a Sementes Arco Íris, então empregadoras de Bruno e Elton, respectivamente, entenderam a importância dos estudos de pós-graduação para a produção de sementes. Hamer, inclusive, foi um dos pioneiros do movimento de profissionais sementeiros adentrarem o ambiente acadêmico, o que trouxe grandes valias para os estudos de mestrado e doutorado, combinando a prática com a pesquisa.

    Após anos atuando e construindo seus nomes no setor de sementes, a hora era de assumir novos desafios. No caso de Celito Missio, isso ocorreu em 1998, ano de formação da Sementes Oilema. A família de sua esposa já havia se estabelecido em Luís Eduardo Magalhães (BA) anos antes, até que se definiu pela criação oficial da empresa após a promulgação da Lei de Proteção de Cultivares (1997) e as novas oportunidades que surgiam. Assim, Missio deixou o cargo de diretor-executivo que ocupava na Jotabasso para tocar o seu novo negócio.

    A partir daí, era hora de escrever uma nova história. E assim fez, com a Sementes Oilema sendo responsável por diversas inovações no ambiente sementeiro brasileiro. Entre estas, destaque para o pioneirismo na comercialização de sementes de soja por número de sementes.

    “Em 2009 nós tínhamos semente de extrema qualidade, mas o agricultor nem sabia a mensuração dela. Então, nós lançamos um produto que era a semente em que garantíamos 95% de germinação; essa semente teria que ser diferenciada, então era tratada com inseticida, fungicida, com inoculantes, e uma semente com esse padrão não poderia ser vendida por kg, mas sim número de sementes. Então, a Oilema foi a primeira empresa a comercializar sementes com embalagens de número de sementes, que no caso eram 200 mil”, aponta Missio.

    Para Bruno Scheeren, esta abertura ao novo veio em 2008. Após a dissolução da cooperativa onde estava desde que foi para o MS, ele decidiu que não iria mais depender de uma empresa: iria apostar em si mesmo. Assim, com um sócio abriu uma empresa de consultoria de sementes, atendendo principalmente os mercados das regiões de Maracaju (MS) e Dourados (MS), onde já havia fidelizado uma grande clientela ao longo dos seus anos de trabalho. Clientes, estes, que mantém até hoje.

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    “O meu nome era o que estava em jogo, a minha reputação, então prezar pela qualidade acima de tudo me garantiu sucesso. Eles diziam: ‘vamos comprar com o Bruno porque ele não mente’. Eu sempre sou muito chato com o fornecedor de sementes, no bom sentido. Eu peço e exijo por qualidade, atendimento, pontualidade, documentação em dia. Para mim, uma das coisas mais importantes é ser transparente na negociação. A semente é o que é e mostra o que ela carrega consigo”, afirma o consultor.

    As mudanças para Elton Hamer surgiram quando foi instigado a assumir como presidente da APROSMAT, em 2006. Visto na época como um “cara técnico”, Hamer não fugiu da responsabilidade e se mostrou como um excelente gestor e administrador em uma das mais importantes associações do agronegócio brasileiro, desempenhando um papel de destaque. As oportunidades continuaram surgindo, e Elton ainda foi encarregado de ser o primeiro presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (ABRASS), em 2012.

    Nesta mesma época, surgiu a Sementes Estrela do Cerrado, onde Hamer lida com aspectos técnicos e de gestão do negócio. Inclusive, enquanto conversávamos para a entrevista, ele foi interrompido duas vezes para atender demandas na produção de sementes da sua empresa, localizada na cidade de Gaúcha do Norte (MT). Com 13 anos de atuação, Hamer se orgulha do que foi construído até aqui.

    Um ambiente crucial: Laboratório de Sementes
    Fátima e Cláudia são profissionais que atuaram, em grande parte, em laboratórios de análise de semente, construindo carreiras exemplares em análises, testes, processos de Controle de Qualidade, entre outros. O caminho de Fátima Zoratto já foi, desde os seus tempos de criança, o laboratório. O que antes era brincadeira, a levou ao curso de Biologia na Universidade Estadual de Londrina, de onde saiu diretamente para o Laboratório de Análise de Sementes da VALCOOP, onde ficou de 1981 até 1991.

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     “Fiquei até quando desativou-se a área de sementes. O presidente da cooperativa no momento da desativação era também o presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Sementes e Mudas (APASEM), que me convidou para ir para o laboratório da associação em Ponta Grossa”, conta Zoratto acerca das suas primeiras experiências profissionais.

    À medida que ia dando seus próximos passos dentro da área de sementes, Fátima acabou por ser responsável, de uma maneira ou de outra, por oportunizar a entrada de Cláudia Lima no laboratório de sementes da Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso (APROSMAT), onde iniciou a sua história dentro do mundo sementeiro. “Naquela época era possível um menor de 16 anos trabalhar. Então, estudava de manhã e trabalhava à tarde com a APROSMAT. [Fátima Zoratto era a chefe do laboratório], onde comecei como auxiliar de laboratório e depois fiquei por 10 anos na parte de análise”, remonta Cláudia.

    Após esse tempo de APROSMAT, surgiu a oportunidade para trabalhar na Pioneer (hoje Corteva Agriscience) em Planaltina (GO). Até então sem curso superior, Cláudia relembra com muita gratidão seu tempo na empresa, onde lhe foi oportunizada a busca pela graduação em Biologia e o mestrado. Por lá, também, acabou sendo promovida a coordenadora de laboratório na unidade de Catalão (GO), localidade onde foi possível cursar Agronomia no turno da noite, um de seus grandes objetivos, pois tinha o desejo de eventualmente ser responsável técnica.

    Durante a construção de suas carreiras, Fátima e Cláudia sempre carregaram consigo a bandeira da excelência nos testes de sementes e controle de qualidade, mostrando sempre a importância dos analistas dentro do processo produtivo.



    Zoratto foi responsável pelo treinamento de muitos profissionais ao longo dos anos - algo que faz até hoje, viajando o Brasil de norte a sul em consultorias - e de conquistas de muito orgulho, dentre elas a de um sistema de qualidade desenvolvido especialmente para a Fundação MT – o Sistema USQS, ainda nos seus tempos de APROSMAT. “Ele envolvia a coleta isenta de sementes para dentro do laboratório e exigia que se tivesse o mesmo critério de avaliação - cerca de 12 mil lotes. Daí se dava o ranqueamento, se fazia um trabalho educacional de qualidade para os produtores, que recebiam um dossiê completo. Convidamos o pessoal da Embrapa Soja para visitas coordenadas, indo a sementeiro por sementeiro, e apresentando os resultados individualizados que estávamos obtendo”, conta. Este trabalho foi um passo importantíssimo para a consolidação do MT como o produtor de sementes de soja que é hoje.

    Cláudia evoluiu conforme os anos passaram e hoje é responsável pela gerência de uma UBS de soja da Fava Sementes, além de lidar, também, com todo o processo de qualidade da empresa. Por todos os lugares que passou, embora diferenças fossem vistas, a busca pela qualidade superior era a mesma. “Eu tive experiências em muitas empresas, e é visível que variam processos, estrutura e pessoal. Mas todas seguem o que tem que ser feito: padrão de qualidade, análise, ambiente mínimo para execução dos testes e qualidade de profissionais”, afirma.

    Por vezes esquecido no panorama geral da produção de sementes, o trabalho do analista não pode ser diminuído. Fátima e Cláudia corroboram e, desde sempre, até os dias atuais, reforçam o merecimento que é devido à classe. A exaustão, a pressão e o constante aperfeiçoamento que os profissionais devem buscar são algumas das características da função que lida diretamente com o bem mais precioso da produção que é a semente. Sem o controle de qualidade não há produção que seja bem-sucedida.

    “Uma simples semente que está em análise de tetrazólio na pré-colheita pode estar representando 15 milhões de sementes. Imagine o prejuízo que pode surgir. Então o sementeiro precisa olhar com mais carinho e dedicação para esse profissional que está ali dentro cuidando do produto dele. A qualidade vem do campo, mas quem a verifica é o analista”, reforça Fátima Zoratto.

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    O que fica para quem está chegando
    Algo que se pode ver em todos os casos que contamos aqui é a importância de não se desperdiçar as oportunidades que aparecem. Para uma carreira de sucesso no meio de sementes, seja na área que for, é preciso persistência segundo os entrevistados. Não se acomodar num cargo de momentâneo destaque. Se dispor a aprender, estudar e crescer constantemente.

    “Tem que aproveitar as oportunidades que aparecem, e, a partir delas, foi que criei uma boa base para construir o meu caminho na área”, diz Cláudia Lima. “Estudar muito. Perceber muito. Acompanhar o que está acontecendo. Olhar para o futuro, para o que está vindo, quais as novidades”, aconselha Fátima Zoratto.

    “Lidar com sementes é lidar com a vida do agricultor”. Esta frase, proferida por Celito Missio, resume bem a relevância e importância do profissional que entra no setor de sementes. A semente é o ponto propulsor de toda e qualquer produção de grãos, e é necessário estar à altura dos desafios, que não serão poucos. Porém, com dedicação e disposição na busca por conhecimento, estes poderão ser vencidos.

    “O que eu vejo para quem quer trabalhar com sementes: faça bons estágios, tenha contato com bons profissionais, se prepare bem”, indica Elton Hamer. “Semente é vida, e vida deve ser preservada. É um campo bem amplo, onde sempre tem espaço, mas o diferencial é conhecimento e saber que o mundo vai ser comandado por quem sabe e tem estratégias e não por quem tem dinheiro”, conclui Celito.

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