Os bancos de germoplasma são locais que conservam a diversidade biológica, podendo ser bancos de animais, vegetais ou microrganismos. A preservação da biodiversidade em bancos de germoplasma é fundamental para o desenvolvimento de novas cultivares, pois funciona como um reservatório de genes, o que é estratégico e essencial para o enfrentamento de desafios presentes e futuros, ocasionados pelas mudanças climáticas ou pelo surgimento de novas doenças e/ou pragas que possam comprometer a produção de alimentos.
Existem vários bancos de germoplasma distribuídos ao redor do mundo. No caso de espécies vegetais, o maior deles está localizado no arquipélago de Svalbard, no ártico norueguês. Aproveitando as condições climáticas do local e com estrutura projetada para suportar catástrofes ambientais e até explosões nucleares, esse banco abriga sementes de todo mundo. Foi criado como forma de evitar a extinção de espécies vegetais, uma verdadeira Arca de Noé das plantas.
No Brasil, o maior banco de germoplasma vegetal é o da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (CENARGEN) em Brasília-DF. Esse banco abriga aproximadamente 115 mil acessos, de mais de mil espécies diferentes na forma de sementes, e cerca de 1.200 acessos de plântulas conservadas in vitro. Mas existem outros, mantidos por universidades, instituições públicas e empresas privadas. No caso da soja, por exemplo, a Embrapa Soja conta com uma coleção de aproximadamente 55 mil acessos introduzidos da coleção dos EUA e de outros países da África, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania, incluindo desde cultivares modernas até acessos antigos que foram cultivados há mais de 5 mil anos na China.
O Brasil é o país que possui a maior biodiversidade do planeta e abriga cerca de 25% das espécies de seres vivos existentes na Terra. O número de espécies encontradas na floresta amazônica é muito maior do que o observado nas florestas temperadas da América do Norte ou da Europa. Caracterizar e preservar essa biodiversidade é essencial para a sobrevivência do planeta, mas também para impulsionar ainda mais a agricultura no país, ajudando a produzir mais e de forma mais sustentável, seja através do desenvolvimento de novas cultivares ou ainda pela geração de outras tecnologias.
Atualmente podemos dizer que estamos vivendo a terceira onda da agricultura, que é a dos bioinsumos. Como o próprio nome sugere, são insumos biológicos que interferem positivamente na agropecuária. Os insumos biológicos já são utilizados na agricultura há muito tempo. O exemplo de maior sucesso são os inoculantes à base de bactérias fixadoras de nitrogênio do gênero Bradyrhizobium na soja, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e transformá-lo na forma absorvida pelas plantas. Mas ainda há muito o que ser estudado. Nossa biodiversidade pode ser explorada de forma sustentável para contribuir na produção de produtos biológicos para o controle das pragas agrícolas, tecnologias para mitigar os efeitos das mudanças climáticas ou promover melhorias na nutrição das plantas, entre muitos outros objetivos. Ter bancos de germoplasma organizados e caracterizados é essencial para preservar e acessar esse potencial genético.
"O Brasil é o país que possui a maior biodiversidade do planeta e abriga cerca de 25% das espécies de seres vivos existentes na Terra. O número de espécies encontradas na floresta amazônica é muito maior do que o observado nas florestas temperadas da América do Norte ou da Europa"
Graças aos avanços da ciência nas últimas décadas, diversas ferramentas estão disponíveis para acessar a variabilidade genética das espécies, como os marcadores moleculares à base de DNA e tecnologias para sequenciamento de genomas, que hoje permitem sequenciar o genoma de qualquer espécie no planeta de forma muito mais rápida e barata quando comparado às técnicas de 15 anos atrás.
Nos últimos anos, também, muito tem se falado a respeito das novas Técnicas Inovadoras de Melhoramento de Precisão, que englobam as ferramentas de edição gênica e as tecnologias à base de RNA interferente (RNAi). O primeiro passo para o sucesso no uso dessas ferramentas é preservar e conhecer o germoplasma da espécie que se pretende trabalhar, a fim de identificar quais genes e regiões do DNA que devemos alterar para incorporar as características que são de interesse a agropecuária. Só assim conseguiremos explorar o verdadeiro potencial da biodiversidade do nosso país. Utilizar esse conhecimento de forma rápida e eficiente na solução de problemas do agronegócio, ou mesmo na medicina e indústria, poderá agregar valor aos nossos produtos e contribuir para a manutenção da competitividade do agronegócio brasileiro.