Mercados & Negócios

Edição V | 02 - Mar . 2001
Clovis Terra Wetzel-diretoria@seednews.inf.br

    Perspectivas “2001”-  O cenário para a produção e o comércio de sementes afigura-se complicado – de difícil prognóstico – embora a continuidade de possíveis aumentos da área plantada, por exemplo, para algodão, cevada, aveia, milho etc., possam delinear um reforço no caixa do faturamento do mercado de sementes em 2001.  Porém, anunciam-se algumas incertezas, sendo a primeira o impacto que pode promover no mercado a possível liberação, neste ano, da venda de sementes de cultivares geneticamente modificadas (transgênicas), em mãos de algumas multinacionais, como a soja Roundup Ready, da Monsanto.  Ainda não se dispõe de uma avaliação da influência das novas cultivares provenientes das fundações de pesquisa privada - parceiras da Embrapa, que, ainda pouco visíveis, se constituem em novos produtores que estão ingressando no mercado de sementes de soja.  Também não se conhece o efeito do licenciamento de cultivares amparadas pela Lei de Proteção de Cultivares (LPC), na produção de sementes de soja, que é a rainha do mercado, bem como de uma fatia gorda das cultivares de algodão, arroz, batata, cana-de-açúcar (no caso de mudas), feijão, milho, sorgo e trigo – espécies que tem cultivares com certificado de propriedade concedido pelo Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC/MA).

    Os donos das cultivares – Todo o mundo vem falando que se criou um novo ambiente no mercado brasileiro de sementes com as cultivares amparadas (protegidas) pela LPC, ou seja, aquelas que o obtentor poderá licenciar para a produção comercial de suas sementes mediante remuneração sobre as vendas (royalty).  Os donos das cultivares protegidas no Brasil formam, até agora, uma lista grande, que pode ser encontrada no site do SNPC (www.agricultura.gov.br/snpc/ index.htm). 

    Primeiro efeito externo da lei brasileira de proteção de cultivares - Os agricultores paraguaios (e brasileiros radicados no Paraguai) serão os primeiros estrangeiros a pagar royalty pelo uso de sementes de cultivares de soja da Embrapa, através de acordo firmado com a cooperativa uruguaia “Colônias Unidas”, designada representante da entidade, para efeito de proteção de cultivares junto ao governo paraguaio. Cultivares da marca BRS (154, 155, 156, 157) protegidas, irão produzir sementes naquele país.  Negociações sobre o mesmo tema estão sendo conduzidas pela Embrapa Soja/Londrina/PR, na Bolívia.  Inversamente, o INIA/Uruguai, está conversando com a Embrapa para que esta a represente no Brasil, visando a proteção de cultivares de trigo, aveia, cevada e de algumas forrageiras.

    Fundações privadas
    Com a proteção de cultivares no Brasil, surgem novos atores no cenário da produção de sementes, além das multinacionais, como por exemplo, as fundações privadas que se propõem investir na pesquisa agrícola. Originadas em associações estaduais de produtores de sementes, como no caso da Aprosmat, em relação à criação da Fundação Mato Grosso (1993) – este é um movimento novo – de apoio à pesquisa agrícola pública. Com este objetivo, nestes últimos sete anos foram criadas as seguintes fundações: do Centro-Norte-FAPCEN (MA), do Triângulo (MG), dos Cerrados (DF), de Goiás (GO); a Vegetal (MS) e a Meridional (PR). Incorporaram-se neste movimento a Pró-Sementes (RS) e o Centro de Tecnologia Agrícola da Pesquisa Agropecuária/AgênciaRural (GO). Algumas dessa organizações privadas objetivam criar novas cultivares com área de adaptação mais específica e explorar comercialmente as sementes dos respectivos materiais lançados; outras se concentram na produção de sementes de cultivares geradas nos contratos. Observe-se que as fundações existentes estabeleceram contratos de cooperação técnica e financeira com a Embrapa, na sua maioria, em relação à soja, que com milho híbrido e forrageiras é o segmento mais importante do mercado brasileiro de sementes. 
    Semente de algodão, uma nova estrela no mercado – Segundo cálculos divulgados pela Associação Paulista de Produtores de Sementes (APPS), a disponibilidade brasileira de sementes de algodão aumentou 51% em relação à safra anterior. Enquanto isso, o faturamento desse produto cravou a bela marca de 43% - de US$ 70 para US$ 100 milhões.  O valor da produção das sementes híbridas de milho aumentou 13%, com um acréscimo de 10% na oferta.  Entretanto, com uma redução de 10% na produção, as sementes de soja teriam faturado mais 3%.  A avaliação do mercado é de que, com o aumento de preços das sementes dessas espécies, ocorrido na última safra, as vendas valorizaram-se em 12%. 

    Mais milho híbrido - É o que promete a Agroceres, que investe quase 22 milhões de reais em sua unidade de produção de sementes híbridas de milho, em Santa Helena de Goiás/GO, passando a sua atual capacidade, de cerca de 300 mil sacas/ano, para 1,4 milhão - o que significa mais do que quadruplicar a oferta.  A maior parte do mercado para estas sementes encontra-se no próprio estado, mas a unidade também comercializa seus produtos no Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Maranhão e Rio Grande do Sul. 

    Fundação Mato Grosso (FMT) entra na pesquisa para valer - Com sua base de operações em Rondonópolis/ MT, a FMT planeja expandir sua pesquisa em soja e algodão para todos os estados do Centro-Oeste e para vários outros (MG, SP, BA, RO,TO, MA), o que inclui um centro de pesquisa em Londrina/PR.  Dessa forma, surge uma nova e forte organização para o desenvolvimento de cultivares. 

    Redes para debate na Internet - Velhos assuntos e tema novos – políticos, sociais, científicos, técnicos e de outras naturezas –, polêmicos e apaixonantes, estão em debate na Internet, nas redes (também denominadas de portais), ampliando fabulosamente a discussão pública e aberta, proporcionada, até então, pelos meios de comunicação convencionais (revistas, jornais, TV, rádio).  Uma dessas redes é a  CTAUJGOIAS  cta@sidecon-esp.org.br que coloca em debate, por exemplo, a água, energia, governabilidade, reunião de Davos (Suécia) X Forum Social Mundial 2001 (Porto Alegre, Brasil), o agribusiness, etc.  Uma outra, para exemplificar esse imenso universo novo, é o portal Bioplanet, oriundo da revista chilena do mesmo nome, que dá exclusividade para a biotecnologia.  Há links também para debates e “chats” (ou sala de discussão simultânea, de grupos habilitados). 
    
    O girassol é um problema? - Segundo estimativa da indústria de óleos comestíveis, estão sendo cultivados no país 58.000 ha de lavouras com girassol, dos quais 93% estão no CentroOeste, onde Goiás, com os seus 34.100 ha, representa 64% da área plantada. De outra parte, importa-se, para complementar a demanda de óleo de girassol, o equivalente ao plantio de 97.400 ha.  Ora, o Brasil precisaria cultivar 155.000 ha para produzir girassol e auto-abastecer-se desse grão oleaginoso.  Então, qual é o problema de cultivar essa área?  Diz-se a favor que, “comparativamente com o milho, o girassol é mais rentável”; e contra, que “somente uma indústria adquire o grão em Goiás, e por isso paga o que quer”. Será que a coisa se resume assim? Ou realmente o girassol é ainda uma lavoura problemática, sob o ponto de vista dos agricultores, e/ou a raiz desse problema está na matriz dos óleos para cozinha? 

    Acordo Aventis/Agricultores - A Aventis CropScience Brasil está negociando acordos com agricultores de sete estados, para ressarcir prejuízos devidos ao efeito negativo provocado na germinação de sementes de soja, de alguns lotes, tratadas com o Rhodiauram SC 500.  O ressarcimento (uma grande novidade, em termos de Brasil) aos agricultores será feito segundo critérios estabelecidos, em janeiro, mediante termo de ajuste de conduta assinado perante o Ministério Público.  Neste interim, foram repassados a 362 agricultores insumos necessários ao replantio de 38.700 ha afetados, num valor aproximado de quatro milhões de reais.
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