Como se comporta a longevidade de sementes produzidas sob condições de estresses?

Edição XXVIII | 03 - Mai . 2024
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   As sementes produzidas na safra 2023/24 sofreram em campo condições de estresses durante suas várias fases fenológicas, entenda-se como começo, meio e fim.
Então, antes de mais nada, deve ser compreendido que estresse é um fator que exerce uma intervenção capaz de provocar efeitos danosos nas plantas. E que as respostas dessas plantas submetidas às condições adversas relacionam-se com a intensidade e duração, bem como com a resistência ou tolerância do genótipo ou cultivar. 

   As características fenotípicas da semente, da plântula e da planta são determinadas geneticamente. No entanto, podem sofrer interferências dos fatores bióticos e abióticos causadores de estresses no ambiente de produção; também são capazes de exercer ação indireta ou direta, conseguindo causar modificações nas estruturas consideradas essenciais das plantas. Com isso, podem apresentar potencial para reduzir a qualidade da semente e, ainda, prejudicar a produtividade.

   Os fatores abióticos são muitos, a exemplo de seca, radiação, encharcamento, temperaturas elevadas ou baixas, pH, metais pesados ou tóxicos, fitotoxidade por produtos químicos etc., todos muito impactantes para a agricultura.

   Vão impactar no crescimento, como Inibição de germinação, redução do crescimento, senescência prematura, redução na produtividade; interferem na biologia molecular, ou seja, na alteração da expressão genética, na quebra de macromoléculas, na redução da atividade de enzimas vitais, e na desorganização do sistema de membranas; ainda atuam na fisiologia da planta, propiciando redução no consumo de água,  redução da fotossíntese, e acumulação de inibidores de crescimento. Portanto, fica fácil imaginar porque conseguem causar algumas modificações nas estruturas consideradas essenciais das plantas.

   Diante do contexto, somos sabedores de que os processos fisiológicos da semente são programados geneticamente e codificados durante o processo de sua formação, exercendo influência sobre a sua qualidade, consequentemente também sobre sua longevidade. 

   Mas o que é a longevidade? Corresponde ao período máximo de tempo em que as sementes permanecem vivas, quando armazenadas sob condições ambientais ideais - lembrando que as espécies apresentam variabilidade natural. Sob o prisma da longevidade, as sementes podem ser classificadas como de vida curta ( cacau, café); vida média (soja, arroz, azevém) e de vida longa (algodão, milho, trigo, aveia, cevada, feijão sorgo, tomate). 

   O potencial de armazenamento de sementes ortodoxas (as que podem ser secadas) sofre influência de inúmeros fatores, além da longevidade, destacando-se sua qualidade inicial, que é dependente de condições ambientais durante a maturação, a qual compreende todo o processo de fertilização ao ponto de colheita. No entanto, deve ser entendido que algumas espécies são muito suscetíveis à deterioração no período implicado entre o ponto de maturidade fisiológica e a colheita, época em que as sementes podem sofrer influências dos fatores intrínsecos e ambientais.

   Neste sentido, existe a hipótese do envelhecimento natural da semente, aliado ao seu sistema de reparo que se baseia em dois conceitos descritos. Um baseia-se na curva de sobrevivência da semente (ocorre um declínio muito lento na germinação, incialmente e depois um aumento na taxa de perda de viabilidade, seguido por uma rápida queda na curva de progresso da germinação). À medida em que as sementes envelhecem, se movem ao longo da curva. Portanto, sementes fisiologicamente mais jovens estarão em vantagem quando comparadas com sementes que apresentam alterações fisiológicas, deterioração e mudanças; essas se moveram para o fim lento do declínio de germinação. 

   Um segundo conceito que se fundamenta no pressuposto do reparo do envelhecimento é a curva do progresso da germinação, que descreve as mudanças na emergência da radícula a partir do momento em que as sementes estão prontas para germinar. Usualmente, ocorre uma curva em forma de S, com emergência da radícula baixo, seguido por um rápido aumento e depois uma desaceleração na emergência. Diferenças observadas na forma dessa curva evidenciam distinções na qualidade fisiológica das sementes. Lotes de sementes consideradas “mais envelhecidas naturalmente” germinam de forma mais lenta e têm sementes individuais mais espalhadas por um longo período de tempo, culminando com uma germinação menos uniforme. 

   A diferença considerada importante na curva de germinação é o tempo para o aparecimento da primeira radícula, referido como período de atraso, momento em que a semente foi colocada para germinar até a primeira emergência de radícula. 

   Para o conjunto de sementes de um lote, isto é descrito como tempo médio de germinação ou como período médio de atraso. As sementes podem apresentar um longo período de latência, ou seja, um alto tempo de germinação, porque durante o envelhecimento, em sementes de mais baixo vigor, há um acúmulo de danos em sistema de membranas, organelas e DNA. O reparo dos danos ocorre durante os estágios iniciais da germinação e é essencial para a emergência da radícula. Lotes de sementes mais envelhecidas se movem para o final da fase inicial da curva de sobrevivência.

   Por outro lado, em lotes de sementes de maior vigor, existe baixo tempo médio de germinação; assim, acontece a emergência da radícula de maneira mais rápida. Desse modo, essas sementes estão no início da curva de sobrevivência.

   Diante do exposto, fica uma questão importante para ser respondida: em que local da curva de sobrevivência estão inseridas as sementes produzidas numa safra de tantos estresses, sobretudo relacionados à elevadíssima temperatura, considerada recorde desde o início da mensuração no decorrer da história? Melhor dizendo: qual é a longevidade deste tipo de semente? São experiências que serão registradas. 

   Será fundamental o monitoramento contínuo do potencial fisiológico das sementes (vigor e viabilidade) visando minimizar frustrações no momento crucial de semeadura.
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