Liderança e a arte de fazer perguntas

Edição XXVIII | 03 - Mai . 2024
   Liderança é, de longe, um dos temas corporativos mais debatidos. Existem modelos, posicionamentos e pesquisa para todos os gostos. Não há um só gerente, gestor ou empresário que não se preocupe (ou devesse, ao menos, se preocupar) com o tema e tampouco há um só colaborador que não preste atenção no seu líder e o modus operandi dele com sua equipe.

   Ou seja, é um assunto que faz as organizações crescerem, estagnarem ou quebrarem. Nessa complexa dança da liderança, o líder é, às vezes, maestro, dando o tom e o direcionamento, e outras vezes pode ser dançarino, ensinando pelo exemplo.

   Perguntas que orientam, corrigem    e inspiram
   Nesse modelo dinâmico, uma habilidade relativamente simples se tornou essencial, caso você queira se tornar um líder que entrega uma liderança eficaz e fluída: a arte de fazer perguntas capazes de orientar, corrigir e inspirar liderados.

   É por meio das perguntas que os líderes descobrem oportunidades, desafiam preconceitos, incentivam a reflexão e promovem o crescimento. No entanto, vale destacar que essa arte a que me refiro vai muito além de simplesmente interrogar. Na prática, começa no interesse genuíno pelos seus liderados e envolve acima de tudo uma postura de escuta ativa, curiosidade pura, interesse pela aprendizagem e uma dose saudável de humildade.

   A liderança moderna, especialmente com a nova configuração de gerações, é mais do que dar ordens e dirigir, esperando obediência. Essa relação top-down de gestão, de cima para baixo, já não encontra mais ressonância nas organizações atuais. Estamos falando sobre dar oportunidades, capacitando os membros da equipe e dar condições para que pensem criticamente, assumam responsabilidades e contribuam de forma significativa para os objetivos comuns.

   Humildade e escuta ativa
   Nesse contexto, antes de tudo, o líder precisa se livrar do estigma de que possui todas as respostas e é capaz de encontrar as soluções para os desafios, momento exato que entra a importância da humildade. Não se trata de apenas reconhecer suas fraquezas, mas principalmente de distinguir a complexidade dos cenários dos negócios atuais. Logo, invés de impor soluções pré-concebidas, os líderes que fazem perguntas eficazes abrem espaço para a colaboração e a inovação.

   Humildade não pode ser exagerada ou forçada e nem confundida com passividade, submissão ou fragilidade. É uma espécie de tempero que torna a liderança verdadeiramente eficaz, valorizando e reconhecendo as contribuições dos outros. Na prática, são sinais de um líder forte e seguro capaz de se conectar genuinamente com suas equipes, criando um ambiente de confiança.

   Por isso, um aspecto vital e que nunca pode ser negligenciado é a escuta ativa, um assunto relativamente novo no ambiente corporativo. É por meio dela que os líderes demonstram respeito, validam as experiências e perspectivas dos membros da equipe e constroem relacionamentos sólidos.

   É bom lembrar que a escuta ativa não se resume apenas a ouvir, mas acima de tudo ouvir com interesse, buscando compreender as emoções subjacentes e as nuances não ditas. Como já afiançava o Pai da Administração Moderna, Peter Drucker, “a coisa mais importante na comunicação é ouvir o que não foi dito”, tornando a escuta ativa uma ferramenta essencial para ampliar a compreensão e criar um ambiente inclusivo e de confiança mútua.

   Curiosidade e segurança psicológica
   Por consequência, outra característica essencial para um líder eficaz é ser curioso. É a curiosidade que impulsiona a busca pelo novo, desafia o senso comum e avança sobre o desconhecido, estimulando a criatividade. Os líderes curiosos não apenas buscam respostas, mas principalmente questionam o porquê das coisas e entendem que a aprendizagem é um processo contínuo e ininterrupto. Para isso, devem estar sempre abertos a acolher novas ideias e perspectivas, fazendo juízo de valor sem preconceito ou passionalidade.

   Ocorre que essas características contribuem ainda para a ampliar a segurança psicológica da equipe, um componente fundamental no sucesso de qualquer organização. É quando os membros da equipe se sentem seguros para expressar suas opiniões, fazer perguntas e experimentar, sem medo de retaliação ou julgamento. Na verdade, ao adotar o modelo de liderança centrado em perguntas, apoiado na curiosidade, os líderes não apenas promovem um ambiente de aprendizagem contínua, mas também cultivam uma cultura de segurança psicológica.

   É claro que equilibrar essas características não é tarefa fácil, principalmente para os líderes mais jovens. Até porque, além da curiosidade, da escuta ativa e da humildade, é igualmente importante que os líderes sejam seguros e assertivos, emprestando uma visão clara e inspiradora, sendo capazes de definir metas coerentes e guiar suas equipes na direção correta, fornecendo orientação e estabilidade.

   O equilíbrio entre perguntar e dirigir

   O equilíbrio entre ser curioso, humilde e orientador pode parecer delicado e, muitas vezes, soar paradoxal, mas garanto que são complementares e se apoiam mutuamente. Na prática, os líderes precisam encontrar o meio-termo entre fazer perguntas que estimulem o pensamento crítico, como uma espécie de moderador, além de fornecer direção clara e objetiva. Devem ser capazes de cultivar um ambiente onde a curiosidade e a autonomia são incentivadas, ao mesmo tempo em que garantem que a equipe permaneça alinhada com os objetivos organizacionais.

   Em essência, os líderes devem ser abertos para estimularem a participação, ouvirem diferentes perspectivas, mas também determinados o suficiente para tomarem decisões difíceis. Dominar a arte de fazer perguntas é apenas uma parte desse equilíbrio delicado, mas é uma parte fundamental. 

   Posso garantir que nos corredores corporativos, as perguntas inteligentes são muitas vezes mais poderosas do que as respostas óbvias.
 
   Até a próxima.
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