A Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (APROSMAT), ativa instituição sementeira, organizou, em dezembro último, uma viagem de estudo aos EUA, a fim de visitar programas de melhoramento vegetal e participar da reunião anual da “American Seed Trade Association” (ASTA), em que inovações tecnológicas são mostradas ao público. 

   Considerando os cultivos de soja e milho, a área semeada nos USA mantém relação com a do Brasil, em que são mais de 20 milhões de hectares estabelecidas para cada cultura, indicando que a resposta de qualquer inovação possui um alto retorno do investimento. A produção de grãos, das duas culturas, gera bilhões de reais para os agricultores, em que somente para soja no Brasil, são mais de 300 bilhões de reais por ano.

   A área cultivada com soja no Brasil está em 45 milhões de hectares com uma produtividade de 3,60t/ha, enquanto nos EUA a área cultivada com soja está em 34 milhões de hectares com uma produtividade de 3,35t/ha. Assim, há pouca diferença na produtividade, entretanto merece registro que a soja no Brasil é cultivada majoritariamente em região tropical com cultivares de ciclo precoce a médio, enquanto nos EUA é em clima majoritariamente temperado com cultivares de ciclo médio a tardio. Há uma tendência das cultivares de ciclo mais longo produzirem mais, entretanto isto não ocorreu no Brasil, devido principalmente ao excelente trabalho do pessoal de fitomelhoramento.

   Em relação ao milho, o Brasil cultiva 21 milhões de hectares com uma produtividade de 5,6t/ha, por outro lado, os EUA cultivam 38 milhões de hectares com uma produtividade de 11t/ha, sendo praticamente o dobro do Brasil. A explicação está em que o Brasil apresenta três safras por ano, em que a segunda e a terceira apresentam algumas restrições agronômicas que afetam a produtividade, sendo a principal, pouca água.  Merece registro a produtividade do milho no estado de Santa Catarina, que na safra normal de verão apresenta a produtividade de 8,3t/ha. Mesmo assim, o Brasil ainda tem um caminho a percorrer com a cultura do milho para se igualar a produtividade obtida nos EUA.

   A programação envolveu 4 dias, envolvendo palestras, encontros, visitas e várias reuniões com empresas do setor sementeiro.   A seguir serão destacadas as inovações tecnológicas e os possíveis efeitos no negócio de sementes.

   Várias são as estratégias que podem ser utilizadas para uma agricultura sustentável e rentável, cujas soluções passam por altura de planta, híbridos, plantas de cobertura, edição gênica, fixação de nitrogênio, novos agroquímicos, informatização, entre outras alternativas.  Estas soluções podem contribuir apara aumento da produtividade, melhorias sociais e ambientais, melhoria do solo, mitigação dos efeitos climáticos, preservação e restauração da biodiversidade e conservação da água. A inovação tecnológica entra neste contexto.

   A APROSMAT planejou duas reuniões especiais durante o evento, sendo uma com a empresa Bayer e a outra com a empresa Corteva, em que foram apresentadas a situação das inovações tecnológicas de cada uma tanto nos EUA como no Brasil.  

   Neste sentido, a Bayer informou que está com 143 cultivares com a tecnologia Xtend no Brasil, as quais estão numa crescente taxa de utilização, havendo cultivares para cada região edafoclimática do país, assim como produtores de sementes credenciados. Nos EUA, a situação é similar. A empresa também convidou o grupo para visitar suas instalações de pesquisa em Saint Louis- MI, em que parte grupo teve oportunidade de ver os processos para acelerar a velocidade do melhoramento vegetal, em que se consegue até 4 gerações por ano. Isto faz uma grande diferença na corrida para a liberação de um material. 

   Por outro lado, a Corteva salientou que a taxa de utilização de sementes nos EUA, das cultivares com sua tecnologia Enlist, está com uma alta adoção, gerando otimismo na empresa. No Brasil está aumentando seu portifólio de cultivares com seu evento biotecnológico de resistência inseto e tolerância a herbicida, sendo a característica de alta produtividade a prioridade de pesquisa agronômica no momento. 

   Merece registro a estratégia das empresas obtentoras de eventos biotecnológicos, que uma vez obtida uma nova tecnologia (Xtend e Enlist por exemplo), passam a inserir os eventos nas melhores linhagens parando de trabalhar com o evento anterior. Isto leva algum tempo para que uma cultivar com alta produtividade e com evento de última geração, chegue ao agricultor, fazendo com que a taxa de utilização de sementes destas cultivares seja lenta. 

   Neste sentido, como os programas tradicionais de melhoramento vegetal continuam colocando o evento antigo nas novas e produtivas cultivares, há um aumento na taxa de uso de sementes das cultivares destas empresas. No processo de melhoramento vegetal, assim como de biotecnologia os processos levam um tempo (anos) e qualquer estratégia bem tomada pode representar um grande sucesso.

   Várias foram as palestras apresentadas, em que algumas se destacaram como foi o caso sobre economia agrícola com participação das quatro grandes empresas agrícolas Bayer, Syngenta, Basf e Corteva. O destaque foi a comparação da produção de soja e milho dos EUA com o Brasil em que o coordenador do painel salientou que os USA não são mais os protagonistas principais na produção de soja e sim o Brasil, tanto em produção como em produtividade, merecendo reconhecimento internacional por sua pesquisa, capacidade produtiva e conexões comerciais.    

   Outra palestra que merece destaque foi a sobre inteligência artificial, como não poderia deixar de ser, por todos os avanços que testemunhamos com frequência. Várias empresas apresentaram suas conquistas salientando que a IA veio para ficar, sendo muito útil principalmente para quem trabalho com muitos dados como é o caso melhoramento vegetal com interação de inúmeros genes entre si. 

   Em relação IA, há consenso que para sua efetividade, os dados devem ser confiáveis e úteis, significando que o humano deverá realizar uma filtragem e mesmo assim poderá ocorrer inconvenientes que felizmente são corrigidos rapidamente. Outro aspecto, é que a pirataria é algo presente e universal, requerendo mecanismos de segurança.

   A palestra sobre a relação do agricultor frente aos avanços tecnológicos, destacou-se que ele deve se conscientizar que as mudanças irão ocorrer, entretanto as relações de oferta e demanda se mantém, significando que as coisas possuem prioridades (first things first). Também entram no contexto os desafios trabalhistas a inovação e o investimento.

   A apresentação sobre aspectos que o produtor de sementes deve se manter atendo destacou-se alguns procedimentos como o registro de cultivares, propriedade intelectual, lei de sementes e seus regulamentos, ambiente, tratamento de sementes e biotecnologia e suas licenças.              

 Show Room 

Com a grandeza do negócio de sementes dos EUA, que é superior a 4 vezes a do Brasil, a exposição de maquinas e equipamentos é enorme, envolvendo desde equipamentos sofisticados para despendoamento de milho na produção de híbridos, até pluviômetros baseados  no “barulho” da chuva. 

O tratamento industrial de sementes nos EUA é superior a 50%, realizado principalmente pelas revendas, significando uma grande demanda de tratadoras com alta capacidade e desempenho. Várias empresas mostraram suas máquinas, inclusive a LS com forte atuação no Brasil.

A grande novidade são os produtos biológicos para o tratamento de sementes que podem ter atuação tanto de proteção como de “estimulante”. 

   A ASTA anunciou suas prioridades para o próximo quinquênio consistindo de ações sobre:

1- Conservação do solo – Isto através da adoção de novas espécies de cobertura, acesso a sementes de alta qualidade das cultivares melhoradas e práticas de sequestro de carbono;

2- Pesquisa – A ASTA recomenda apoio as entidades públicas de pesquisa tanto as diretamente conectadas ao governo como as universidades, assim como os bancos de germoplasma e as iniciativas para caracterização genotípica e fenotípica dos materiais;

3- Comércio- As exportações são parte vital da economia americana, sendo o agronegócio um dos pilares. Assim, a ASTA busca alinhamento com várias secretarias ou ministérios envolvidos com o comércio exterior, pois a semente praticamente não possui fronteiras, sendo a parte fitossanitária um dos aspectos cruciais na exportação/importação de sementes;

4- Inovação – O melhoramento vegetal é crucial para a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Neste sentido, é reforçado que o setor de sementes é fundado na inovação e é parte em tudo que se faz em semente desde o melhoramento ao tratamento de sementes;

5- Manejo de risco – A agricultura é uma indústria a céu aberto em que o agricultor esta praticamente a descoberto. A ASTA busca mecanismos para viabilizar um seguro agrícola em que agricultor minimize suas possíveis perdas agronômicas.
       

   A viagem ao exterior da APROSMAT para visitar centro de pesquisa e evento sementeiro, é uma tradição de mais de uma década, que neste ano consistiu em participar do evento anual da ASTA (EUA) e visita ao centro de pesquisa da Bayer em Saint Louis -MI. A comitiva também contou com convidados especiais de outros estados e deputados, assim como da SEEDnews.

   A exposição a um ambiente externo sempre traz benefícios, ainda mais quando possui estreita relação com nossas atividades. Neste sentido, merece destaque alguns pontos do evento como as reuniões com o pessoal da Bayer e da Corteva, a palestra sobre economia em que o Brasil foi destacado como forte competidor no mercado internacional da soja e o “Show Room” de equipamentos e serviços. 

   Destaca-se que o produtor de sementes vive num ambiente bastante regulado legalmente, requerendo ações políticas para harmonização. A conscientização desta necessidade facilita a atividade sementeira. A APROSMAT está de parabéns pelas iniciativas tomadas.