Como será a carne do futuro?

Edição XXVII | 05 - Set . 2023
Alexandre Nepomuceno-alexandre.nepomuceno@embrapa.br
   O número de adeptos ao vegetarianismo e ao veganismo, que excluem a carne da sua alimentação, tem crescido expressivamente no Brasil e no mundo. Diante desse cenário já é realidade a busca por alimentos alternativos substitutos a carne. O mercado de carne a base de plantas vem sendo explorado há algum tempo.  A carne vegetal ou plant-based é um produto à base de proteínas vegetais como soja, grão-de-bico, ervilha, lentilha, entre outros, que busca reproduzir a aparência, o sabor e a textura da carne bovina. 

   Associado a isso, estudos indicam que até 2050 haverá um aumento considerável na população mundial, o que resultará em maior demanda por proteína para alimentar a população. Considerando ainda a preocupação com as mudanças climáticas, embora as pesquisas mostrem que os sistemas de produção agropecuários, dependendo da forma como são conduzidos, possam ser benéficos ou maléficos ao ambiente, a carne, principalmente bovina, tem ganhado fama de vilã no combate ao aquecimento global. 

   Isso tudo tem contribuído para o surgimento de alternativas ousadas, que visam o desenvolvimento de produtos que no futuro e podem vir a substituir a carne na alimentação. Um exemplo é a carne cultivada em laboratório. O processo de produção inicia com a retirada de células do músculo de um animal doador vivo, as quais são modificadas em laboratório para funcionar como células-tronco, capazes de se transformar em qualquer órgão ou tecido. Estas células são cultivadas em biorreatores com uma solução de nutrientes onde vão se multiplicando. As células-tronco são então convertidas em células musculares que formam pequenas fibras de carne, as quais são utilizadas para fazer a carne processada. Considerando esse cenário, há aqueles que questionam como ficará a produção de soja no futuro, tendo em vista que a maior parte da soja produzida é usada como fonte de proteína para produção de ração utilizada na alimentação animal. 

   Eis que surge então uma iniciativa ainda mais disruptiva e revolucionária da startup Moolec, que desenvolveu uma soja geneticamente modificada com DNA de porco, chamada “Piggy Sooy”. A estratégia da empresa consiste na chamada agricultura molecular, que se baseia no desenvolvimento de proteína animal através de plantas geneticamente modificadas que funcionam como biorreatores, ou seja, replicando na planta o que a natureza faz no animal. O objetivo é extrair proteína suína da soja para a fabricação de alimentos. 

   Entre as vantagens dessa tecnologia em relação às citadas anteriormente, está a facilidade de escalonar a produção, uma vez que essa soja seria produzida da mesma maneira que a soja tradicional. Além disso, segundo os obtentores da tecnologia, o sabor é mais realista, tendo em vista que eles identificaram as proteínas animais que contribuem para a textura, sabor e nutrição e modificaram a soja para produzir essas proteínas. Essa soja revolucionária tem o interior rosa devido ao seu DNA geneticamente modificado, que incorpora DNA de porco. O objetivo da empresa é extrair proteína de porco dessa soja geneticamente modificada, a qual poderá ser utilizada por fabricantes de alimentos para criar substitutos de carne que mantenham o sabor autêntico. Diante deste cenário, a soja teria relevância ainda maior na alimentação da população.

   O surgimento constante de novas ferramentas biotecnológicas tornou possível alterar múltiplos genes de forma simultânea, permitindo modificar rotas metabólicas inteiras, de forma que as plantas venham a produzir compostos que não faziam parte da espécie. Não temos certeza de como será a carne no futuro; entretanto, ainda que sejam uma realidade distante do nosso dia-a-dia, os exemplos citados mostram como a evolução da ciência pode contribuir para solucionar os problemas da humanidade. 

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