Os laboratórios de sementes crescem por todo o Brasil

Edição XXVII | 05 - Set . 2023
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   A indústria de sementes é uma conexão preponderante na cadeia do agronegócio no Brasil. Opera de forma ágil e com o dinamismo necessário para ofertar sementes que carregam toda a carga genética, atrelada ao programa de melhoramento vegetal, que atua com as inovações tecnológicas, revolucionando com a biotecnologia, visando atender demandas por produtos cada vez mais eficazes e adaptados aos diferentes fatores limitantes de produtividade.

    A semente é o propagador, representando o cartão de visita da genética que difunde as tecnologias, carrega o alto valor agregado pela pesquisa e é a fonte de transferência de renda ao agricultor. Os benefícios agregados exigem mecanismos mais intensos de aferição qualitativa. Em vista disso, é necessário um suporte laboratorial integrado ao sistema de produção de sementes bem mais profícuo, provendo o apoio técnico para o aprimoramento e correções dos indicativos de falhas no processo de produção.

   Desde 1869, ano que Johann Friedrich Nobble estabeleceu em Tharandt (Alemanha) o primeiro laboratório de análise de sementes (LAS), seu valor foi indiscutivelmente, crescente. No entanto, o marco evolutivo de seu destaque se deu a partir da implementação da Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997, conhecida por Lei de Proteção de Cultivares, reservando os direitos da propriedade intelectual na área de melhoramento genético de espécies vegetais.

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   Com o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e responsivas no campo, se tornou imprescindível a profissionalização do setor sementeiro, objetivando maior qualidade do produto. Para tal, a modernização do parque industrial e a capacitação de pessoas se tornaram fundamentais, em razão da competitividade estabelecida entre as empresas, que se adequam a constantes mudanças de comportamento de mercado e que atendem a um cliente de maior pragmatismo, cada vez mais empoderado e aberto às tecnologias.

   Portanto, passamos a conviver com modificações constantes no portfólio genético e com a semente representante do maior patrimônio sob o ponto de vista do agricultor, exigente em cuidados específicos para ser produzida. Tudo caminha de modo mais célere.

   O negócio de sementes do Brasil pode ser considerado uma referência internacional, e isso se deve, sobretudo, à adoção de ferramentas tecnológicas na produção de sementes, à criação e ao desenvolvimento de cultivares, à avaliação da qualidade, à taxa de utilização de sementes comerciais pelos agricultores e a uma plataforma legal que propicia confiança para quem atua no mercado de sementes.

   Foco em qualidade das sementes tem sido um diferencial mercadológico. É bem conhecido que a origem da qualidade vem do campo de produção e de que os testes para sua verificação são realizados num laboratório.

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   Existem duas circunstâncias de atuação em análises de sementes. A primeira é regulamentada com inspeção constante da obediência de regras e padrões estabelecidos pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). O laboratório de análise de sementes credenciado obtém o Registro Nacional de Sementes e Mudas RENASEM, que institui a implementação e seguimento rigoroso de critérios do Sistema de Gestão da Qualidade da NBR ISO/IEC 17025.

   Trata-se de uma norma internacional que regula laboratórios de ensaio e calibração, uma referência no desempenho de boas práticas para conferir resultados tecnicamente válidos. Portanto, o laboratório é uma unidade constituída e credenciada para proceder as análises e emitir boletins de análise das sementes (BAS). Os dados apontam 190 laboratórios credenciados, distribuídos nas diferentes regiões do Brasil, num universo de 248 empresas sementeiras.

   Uma segunda modalidade de laboratório é o que não possui credenciamento; logo, este pode deixar de cumprir as exigências, uma vez que se trata apenas de análises internas para tomadas de decisões. Ao contrário dos laboratórios credenciados, esses não sofrem auditorias do MAPA. Existem sementeiras que não possuem estrutura e dependem de laboratórios prestadores de serviços.

   Em um laboratório regulamentado, todas as análises realizadas são embasadas por um conjunto de passos que devem ser seguidos para atingir as finalidades de cada teste, que tem princípio e objetivo distintos, preconizados pelas Regras para Análise de Sementes (RAS). Essa se fundamenta na uniformidade dos procedimentos e especifica padrões para os distintos métodos aplicados.

   Também são estabelecidos os pesos mínimos das amostras para a execução dos diferentes testes das espécies a serem analisadas. A relação de quantidade de sementes analisadas em cada teste é muito pequena quando comparada ao tamanho do lote. Portanto, a boa amostragem e a homogeneidade do lote são determinantes para obtenção de resultados mais compatíveis e confiáveis. Se a coleta de amostras não for homogênea ou se houver erro na amostragem, as informações geradas serão incorretas, inconsistentes e comprometedoras, podendo prejudicar ou beneficiar as decisões, tanto internamente nas sementeiras quanto aos usuários dos lotes analisados.

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   Diante disso, é necessário proceder de acordo com métodos recomendados para a coleta de amostra representativa e aleatória. O laboratório tem responsabilidade pela amostra que recebe. E, no que diz respeito a este fato, as condições ambientais prescritas e exigidas para o credenciamento dão suporte para que não haja deterioração das amostras recebidas. Tão logo se receba a amostra de um lote de sementes, todo o esforço deve ser feito para iniciarem as análises, reduzindo o tempo para liberação de resultados.

   Quando se trabalha com a semente, constituída de células que interagem de maneira muito organizada e atuam como operárias de uma grande e perfeita fábrica, não é tarefa fácil trazer ao entendimento dos envolvidos a complexidade deste organismo biológico. Este age de modo intenso e preciso, e sua maquinaria deve operar em excelentes condições, visando a eficácia. É preciso agir tecnicamente e com responsabilidade na condução das metodologias e nas avaliações dos testes de verificação da qualidade.

   Os profissionais de laboratório de análise de sementes são os representantes de aferição do conjunto de atributos que constituem a qualidade de sementes, genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários, obtidos em uma lavoura, local passível de mudanças significativas e dependente de variáveis infindáveis, sejam por fatores bióticos ou abióticos.
Para tanto, esses colaboradores devem ser capacitados e treinados de forma periódica para o desempenho das diferentes funções. Atualmente, talvez até pelas exigências competitivas, cada vez mais colaboradores qualificados têm sido contratados pelas empresas sementeiras. Muitos têm graduação em diferentes cursos que os capacitam com melhor entendimento sobre a semente e seu mundo misterioso, assim como possuem mestrados e doutorados para assumirem a linha de frente de coordenação e responsabilidade técnica.

   Também existem muitos analistas que, às vezes, não possuem diplomas, mas que têm muito tempo de experiência e treinamentos e que executam seus trabalhos com perfeição e buscam no dia a dia fazer a diferença para a empresa.

   Fundamentações teóricas associadas às práticas, com foco nos parâmetros de excelência, fazem a distinção dentre os requisitos e os níveis de treinamento perante a complexidade das sementes. A aprendizagem não ocorre por acaso. À vista disso, é importante a construção de base sólida, confiável, principalmente quando se trata de universo biológico, para assegurar melhor assertividade.

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   Os treinamentos técnicos precisam suscitar muitas questões que devem ser trazidas à luz da realidade. Quanto mais se desenvolve o conhecimento, a reciprocidade entre si e as atitudes positivas, a eficácia no desempenho operacional e técnico se consolida.

   É essencial acomodar os entendimentos, porque toda a amplitude de atenção e destreza que envolve a todos é o que vai favorecer propósitos mais coerentes com a realidade. E validando a necessidade de agregar os profissionais de laboratórios, foi reativado o Comitê Técnico de Análise de Sementes da Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes (Abrates), que está providenciando a retomada de discussões pertinentes, treinamentos e palestras técnicas para adequação e homogeneização dos entendimentos na área.

   E como liderar equipes de laboratórios de análise de sementes sob perspectiva da pluralidade geracional, de inclusão dos mais diversos grupos sociais, de inovações tecnológicas e das diferentes formas comunicacionais contemporâneas, sendo o laboratório um centro que reverbera nas tomadas de decisões?  

   Para questões complexas, não existem respostas simples. O amálgama de mentes deve ser liderado de maneira a criar espaço que acomode a multiplicidade de opiniões e ideias, respeitando as características de cada grupo etário, suas habilidades e seus talentos. Estimular as capacidades e entender os comportamentos têm se constituído uma função bastante árdua de gestores que precisam influenciar pessoas, almejando converter o conhecimento em ações, num local que tem rotina.

   Sabe-se que quando a mente está ocupada com o que é familiar, essa pode relaxar e dar espaço para informações geradoras de problemas. No LAS, não se devem deixar informações despercebidas e perder a conexão, pois isso favorecem-se conclusões errôneas. Portanto, conciliar, dinamizar, e entregar resultados pretendidos são responsabilidades que diferenciam os líderes que estão trabalhando efetivamente com a gestão de pessoas atuantes em atividades técnicas e que devem atender os princípios normativos. 

   Todos sabemos que se não houver conhecimento suficiente para conectar os pontos que tornam as circunstâncias difíceis, ter habilidade de comunicação, de interpretar resultados e de explicar o que está ocorrendo para auxiliar na deliberação isso pode se tornar oneroso à empresa sementeira. Por isso, com frequência, têm sido vistos muitos profissionais que atuam na linha de frente dos laboratórios, sejam os coordenadores, os especialistas e os responsáveis técnicos, buscando cursos de gestão e de lideranças, se adequando para mudanças comportamentais e rearranjando de forças.

   É sempre interessante repensar o modo de gestão, de fazer e interpretar as análises levando em conta as consequências de alguns de nossos automatismos adquiridos ao longo do tempo e enxergar a genética que entrega muito. Devemos forçar nossas mentes à adoção de evolução para perspectivas mais abrangentes e acompanhar as mudanças na agricultura moderna e tecnificada. E não perder de vista que a grandeza de um laboratório de análises de sementes está em seus resultados confiáveis, lembrando que atrás de um valor emitido há ricas informações, e essas podem representar toda a diferença para melhor assertividade. Nesse endereço, há as competências que agregam nas decisões da empresa de sementes sustentadas pelas inovações tecnológicas.

   Atualmente, a inovação na produção de sementes, orientada pela ciência e alinhada à colaboração e à agilidade, tem permitido ajudar os agricultores a enfrentarem desafios complexos do campo, como produzir mais, ao mesmo tempo em que se encaram questões como a preservação dos recursos naturais e as mudanças climáticas que ameaçam a produtividade das fazendas.

   A escolha das sementes tem impacto em outras tomadas de decisões importantes para o agricultor, no planejamento dos tratos culturais e da colheita, assim como na quantidade de aplicação de agroquímicos e a utilização de fertilizantes e de sistema de irrigação. As sementes são o início de toda a estratégia para a sequência de uma boa safra.
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