Como o campo de produção de sementes torna-se efervescente nesta época do ano! É como um desabrochar daquilo que manteve para si durante um período. Ele provoca um movimento intenso que envolvem as empresas sementeiras com todas as suas infraestruturas e cobra decisões inerentes ao seu produto que agora se torna visível.
A semente traz as marcas que sofreu durante sua formação, é um produto verdadeiro. Suas características genética, física, fisiológica e sanitária vão lhe conferir alto desempenho agronômico, uma vez que a semente contém dentro de si uma planta em miniatura, o embrião, com potencial de crescer e se desenvolver em uma planta adulta. Logo, representa ao mesmo tempo, o ponto culminante das atividades de uma geração da planta e o começo de uma nova geração.
Em relação aos seus atributos intrínsecos, o desempenho fisiológico da semente costuma ser o causador de maior impacto no estabelecimento de uma lavoura. Para tanto, nesta época de pré-colheita e colheita de soja, se observa a atenção plena dada ao referido componente porque é conhecido que a máxima qualidade é atingida na maturidade fisiológica. Entretanto, nesta fase, a semente apresenta seu grau de umidade muito elevado, impossibilitando a colheita mecânica e, a partir de então, se encontra armazenada em campo, à mercê das mais diversas condições ambientais.
Altas temperaturas e umidade relativa do ar, assim como as precipitações, são situações que podem ocorrer durante a fase que se estende o período de finalização dos campos de produção, favorecendo a deterioração por umidade. Não se descartando também as possibilidades de associações do clima aos estresses nutricionais com relação aos ataques de insetos e microrganismos. Ou seja, a semente começa a se deteriorar ainda em campo.
A deterioração se manifesta na semente através de uma sequência de eventos, alterações fisiológicas, bioquímicas, físicas e citológicas, determinando a redução do vigor, da viabilidade e culminando com a morte da semente. Os primeiros sinais da deterioração estão relacionados com a perda de integridade dos sistemas de membranas, seguido por danificações dos mecanismos energéticos e de síntese, eventos de manifestações bioquímicas.
Dito isso, um dos principais desafios na produção de sementes reside na identificação de parâmetros que se referem com a deterioração da semente que precedem a redução do potencial fisiológico (vigor e germinação). Assim, se busca tecnologias e metodologias específicas e ainda equipamentos e ferramentas cada vez mais eficientes e eficazes.
Dentre vários testes de análise da qualidade, o mais adotado, o mais rápido e que mais se destaca na indústria de sementes brasileira, sobretudo, no momento de pré-colheita e colheita, é o tetrazólio. Este teste possibilita a detecção dos estágios iniciais da deterioração, relacionados ao sistema de membranas, atividade enzimática e redução de mecanismos energéticos. É o mais importante dos métodos rápidos, baseado em uma mudança de cor determinada pela atividade enzimática.
Os testes de viabilidade, baseados na atividade enzimática, devem satisfazer vários requisitos para a aplicação prática com sucesso. O grupo de enzimas, as desidrogenases, satisfazem a maioria desses requisitos. Elas estão envolvidas na atividade respiratória dos sistemas biológicos. Durante os processos respiratórios, substâncias intermediárias são produzidas e servem de substrato para as enzimas. Íons de hidrogênio são transferidos, em diversas etapas, para o tetrazólio que atua como um receptor de hidrogênio. Durante a realização do tetrazólio, refletindo a atividade de enzimas no processo de respiração, é produzida nas células vivas da semente uma substância vermelho-carmin, triformazan, estável e não difusível, que se torna possível a distinção dos tecidos vivos e vigorosos (cor vermelho carmin clara), dos tecidos em processo de deterioração (cor vermelha mais intensa) e dos tecidos mortos (cor branca leitosa).
Para a cultura da soja, um trabalho árduo de pesquisadores da Embrapa Soja, possibilitou o tetrazólio o fornecimento do diagnóstico de possíveis causas de redução da qualidade, a exemplo dos danos mecânicos, deterioração por umidade e danos por insetos. Pela localização e extensão dos danos se confere a atribuição de classes (1 a 8), fato que permite estimar o vigor e a viabilidade da amostra de sementes analisada. Isto foi determinante para o sucesso do teste, assim como o contínuo de treinamento oferecido pela entidade.
Desde há muito tempo, foi preconizado sobre limitações e que a aplicação inteligente e precisa do teste de tetrazólio requer, pelo menos, um conhecimento geral da estrutura da semente. Tal conhecimento é essencial para a preparação adequada da semente para o teste e para a correta interpretação de seus resultados. E que a capacidade de um analista reconhecer os padrões típicos dos diversos tipos de danos que podem ser visualizados na semente é indispensável na obtenção de um diagnóstico correto das causas de redução da qualidade.
No que concerne à representatividade do teste de tetrazólio, é necessário entendimento quando se trata de amostragens que precisam ser representativas e aleatórias para indicar a realidade da população de sementes a ser analisada. Em termos de pré-colheita do campo, que traduz um talhão a ser colhido, para exemplificar, um talhão com 400 hectares, se for dividido em 8 parcelas de 50 hectares cada um, a representatividade da semente é de apenas uma semente representando 4 hectares. E, para deixar mais intrigante ainda, é só multiplicar pela quantidade de quilos por hectares a ser colhido da cultivar e poderá chegar a um número extraordinariamente gigante, o que se traduz em total preocupação quanto às responsabilidades no sentido geral.
Por outro lado, quanto aos lotes prontos no pós-beneficiamento, atualmente, a grande maioria ensaca big-bags com cinco milhões de sementes. Portanto, é só fazer a conta, uma semente representa 50 mil sementes e se multiplicar pelo número de big-bags que compõe o lote, também se chegará a número excessivamente grande, a exemplo de campo. Ora, ainda precisamos pensar que na maioria dos laboratórios, o teste é realizado apenas com 100 sementes, significando que uma semente, quando avaliada, representa 1%. Portanto, se houver erros de qualquer natureza, pode às vezes, o resultado obtido não estar refletindo a verdade da amostra analisada.
Como o mundo avança na tecnologia, a pesquisa tem empregado a utilização de ferramentas e técnicas computacionais aplicadas no processamento e na análise de imagens digitais em vários testes, incluindo o teste de tetrazólio, e poderão surgir alternativas promissoras na validação de processos metodológicos usuais que serão muito bem-vindas para o setor sementeiro.