Evoluir para minimizar perdas na produção de sementes

Edição XXIV | 05 - Set . 2020
Maria de Fátima Zorato-fatima@mfzorato.com.br
   Mudanças revolucionárias na agricultura contemporânea tem trazido inovações na cadeia agrícola como um todo. De maneira especial, a ciência e a tecnologia têm sido carreadores de grandes transformações em genética de espécies de importância econômica e refletindo em produtividade que aufere renda e move os entornos levando progressos.

   Os avanços tecnológicos hodiernos, fazem os processos caminharem de modo mais abrupto e, com isso, muitas vezes, precisamos revisitar nosso modus operandi para fazer a diferença e colocar projetos em prática, enxergando o futuro potencial do agronegócio num cenário cada vez mais promissor.

   Mudanças climáticas são postuladas, além de outras tendências que também nos obrigam a pensar com responsabilidade no universo da produção. Trata-se do aumento da população mundial e a necessidade de segurança alimentar. O Brasil tem vocação a ser o celeiro que muito contribuirá para mitigar a fome do mundo. Precisamos estar preparados.

   Na produção de sementes vai residir o centro primordial da solução e o grande desafio é produzir em grande escala num pais de dimensões continentais que apresenta ampla diversidade ambiental. Surge aqui a necessidade da qualidade de semente, que foi definida com muita propriedade como “o somatório de todos os atributos genéticos, físicos, fisiológicos e sanitários que afetam a capacidade desta semente originar plantas de alta produtividade”.

   É sabido que alterações climáticas interagindo com genética moderna têm o poder de afetar a qualidade, sobretudo a fisiológica, causando impacto na totalidade da produção.

   Desta feita, está chegando a hora de repensar nosso modo de fazer as coisas e levar em conta as consequências em algumas situações, de nossos automatismos adquiridos ao longo de um tempo em que tudo era mais brando. Redirecionar entendimentos desde lavouras, pós-colheitas, armazenamentos, análises de sementes e suas interpretações. Devemos forçar nossas mentes à adoção de evolução para perspectivas abrangentes de um contexto geral, enxergar diferente, com os processos orientados ao mundo real e célere que está posto, sem dúvida alguma.

   A semente traduzida em produto tecnológico, tem imputado à avaliação da sua qualidade, um ritmo tão veloz quanto dos processos que a estão transformando. Resumindo, prescreve urgência em enxergar mais e minuciosamente sobre os testes que executamos, aos quais estamos familiarizados e automatizados. Será que a genética das espécies distribuídas nos mais diversos Estados produtores, com tipos climáticos bem variados, tropicais e subtropicais, se portam da mesma maneira? Apresentam comportamento similar, quando realizados em testes rotineiros nos laboratórios de análise de sementes? 

   Acredito que quando analisamos as causas-efeitos, no geral, isso fica claro de que estamos diante de premência de mudanças para testes inovadores, ou mesmo, aplicar testes com metodologias descritas de longa data, mas que nunca foram trabalhados com afinco, por várias razões que incluem desde custos de equipamentos, necessidade específicas de treinamentos, tempo de execução, etc., sem esquecer claro, da zona de conforto que também se enquadra. Lembrar das palavras da educadora Débora Dias Gomes “Antes os grandes engoliam os pequenos. Agora os rápidos chegam antes dos lentos”.

   Atualmente, nos laboratórios de análises de sementes está sendo exigida a realização de testes em tempo tão instantâneos quanto as tecnologias estão sendo difundidas. Existem prioridades em testes rápidos para tomadas de decisões. Mas, em qual momento podemos contar com segurança e assertividade desta qualidade? Ou será que resultados reverberam após período de armazenagem, não respondendo mais como no início dos testes e, com isso, frustrando as expectativas? Estão levando em consideração o histórico associado a informação do teste? A amostragem chegou correta? É apenas uma pequena porção de um todo que é submetida a análise. Ocorre ainda, às vezes, o analista não estar tão bem preparado para detectar ou perceber fatores que representam, sutilmente, as possibilidade de causas nocivas aos lotes, quando não, em número insuficiente para o volume produzido. Pode apresentar dificuldades de interpretação dos dados, não sabe aplicar tabelas de tolerâncias para explicar variações que se sucedem. Culpado sozinho? De forma alguma. Vale a pena refletir diante de questões tão importantes, num setor de tamanha envergadura técnica, comercial, logística, financeira e de expressiva projeção consecutiva, conforme comentado anteriormente. 

"Existem prioridades em testes rápidos para tomadas de decisões."

 
  Portfólio muito grande e variado tem trazido muitos dissabores e, dificilmente ocorre um feedback do que aconteceu durante a formação e desenvolvimento da lavoura, que é onde se produz a qualidade da semente e, ainda mais grave, não se estabelece vínculo com os procedimentos na fase de recepção, de transporte, de secagem e de armazenamentos temporários destes materiais, o famoso pós-colheita. 

   Como preconizado por pesquisas, semente é organismo vivo e responsiva às condições em que for exposta. Infelizmente, num momento posterior, as condições veem à tona e, então vamos distribuir outros questionamentos: a infraestrutura é suficiente para o volume pretendido? A equipe técnica-operacional está sendo treinada o suficiente para entender a complexidade de produzir nos dias atuais ou o que já aprenderam no passado está sendo a base ainda de decisões estratégicas? Até quando continuarão perdas tão consideráveis, seja para a empresa de sementes que descarta volumes em momento comercial crucial ou, para o cliente que tem sua lavoura mal formada em função de potencial fisiológico ruim? Não está na hora de avanços e discussões de alto nível para resolução destes problemas que geram muitos outros? Como evoluir, acompanhar os avanços tecnológicos, atender exigências do mercado e minimizar perdas na produção de sementes? 

   Em dilemas, sempre relembro a letra de Lulu Santos e Nelson Mota “Nada do que foi será do jeito que já foi um dia...” e a mensagem escrita na fachada da casa do cantor Charles, no Congo: “Quando se quer subir em uma árvore não é pelo topo que se começa a escalada.” 
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