Bancos de germoplasma: segurança e desenvolvimento

Edição XXIV | 05 - Set . 2020
Equipe SEEDnews-seednews@seednews.inf.br
   Nos dias atuais, em meio a pandemia de COVID-19, uma das maiores preocupações sociais é relacionada a segurança alimentar. Não deixar faltar alimento à população é dever de todas as nações do globo, e envolve diretamente o agronegócio, parte fundamental da cadeia produtiva. diversas ações foram tomadas visando a continuidade dos processos de produção, visto que a atividade entra na categoria de serviços essenciais à sociedade.

   Tentando prevenir-se das mais diferentes situações que podem influir na economia, produção e todos os âmbitos sociais de cada país, planos de contingência são elaborados. Assim, em caso de uma catástrofe, tragédia, ou qualquer situação que coloque em risco a vida em sociedade, ações previamente determinadas oferecem opções para contornar o problema em questão.

   Na agricultura, um destes planos é o armazenamento de sementes em bancos de germoplasma, servindo como um backup de culturas e espécies das mais variadas plantas. O sistema é semelhante aos bancos, única diferença sendo o bem resguardado. Invés de dinheiro, as sementes ocupam o lugar, oportunizando a manutenção da produção das culturas caso uma catástrofe global venha a ocorrer. Mas, além de sua função relacionada à prevenção, bancos de germoplasma também são parte importante no desenvolvimento de novas variedades, contribuindo no processo de melhoramento genético. Ou seja, se assemelham mais a um supermercado à serviço da base do agronegócio do que um museu!

   Em todo o mundo são mais de 1000 bancos de armazenamento. Países como Estados Unidos, China, Reino Unido e o próprio Brasil têm em seu território a presença de bancos de germoplasma. Em caráter global, localizado no arquipélago de Svalbard (Noruega) se encontra o Svalbard Global Seed Vault, caracterizado pela sua internacionalidade e por conter acessos de várias nacionalidades.

   As iniciativas de conservação das amostras genéticas nos mais diversos países demonstra a importância do processo. Exemplo que ilustra bem esse sentimento é o da tragédia ocorrida no Pavlosk Experimental Station, seed vault russo, localizado na cidade de São Petersburgo, previamente chamada de Leningrado. Durante a ofensiva alemã contra a cidade na Segunda Guerra Mundial, os cientistas do Pavlosk Experimental Station trancaram-se no banco de germoplasma para impedir que, tanto os habitantes da cidade russa que passavam fome, como os invasores alemães, colocassem as mãos nos acessos das espécies de plantas ali contidas. A devoção e entrega dos cientistas foi tanta que alguns sucumbiram à fome, morrendo de inanição, sem fazer uso das espécies do banco para sua alimentação.

   A manutenção da integridade genética e a longevidade das sementes são dois dos fatores principais no armazenamento. As amostras, geralmente, são mantidas em câmaras frias artificiais, após serem testadas a viabilidade inicial de germinação de cada planta e sofrerem desidratação a níveis de 3% a 7% para melhor conservação. Materiais de alumínio ou vidro, em geral, são utilizados para a colocação das sementes nas câmaras frias.


   Bancos de germoplasma pelo mundo

   Como já comentado, vários países possuem bancos de germoplasma em seus territórios, entendendo a importância destas iniciativas para a manutenção da vida no planeta em casos extremos, mas também servindo para o desenvolvimento de pesquisas, ajudando no processo de melhoramento genético.

   Nos Estados Unidos, o Fort Collins Seed Vault, oficialmente denominado National Laboratory for Genetic Resources Preservation, sob o comando do departamento de agricultura americano, é o maior banco de germoplasma do país. Localizado no estado do Colorado, todas as novas patentes de sementes produzidas nos EUA precisam ter uma cópia de segurança armazenada por lá, com o número total de acessos superando 500 mil. Através dos materiais ali presentes, diversos estudos e pesquisas foram desenvolvidos, tornando possível a obtenção de resistência a doenças por parte de diversas espécies, como, por exemplo, o trigo resistente ao pulgão russo.

   A China conta com o Germplasm Bank of Wild Species, localizado no Instituto de Botânica de Kunming, na província de Yunnan. Com seu projeto iniciado em 2004, o banco de germoplasma chinês iniciou seu trabalho em 2008, e hoje é o maior do país asiático. O Reino Unido não fica para trás, com o Millennium Seed Bank, em Sussex, um dos maiores do mundo, possuindo mais de 38 mil diferentes espécies de plantas em seus acessos.

   Mas, ao se tratar de bancos de germoplasma, o Svalbard Global Seed Vault se destaca. Sua história data de 1986, quando cientistas do antigo Nordic Gene Bank, hoje NordGen, decidiram inovar no modelo de armazenamento, se aproveitando das condições climáticas local e de seu solo, denominado permafrost.
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   A ideia central do experimento inicial (1986) era monitorar a longevidade das sementes ao serem depositadas nestas condições permafrost, e assim, adquirir dados sobre este tipo de conservação. Também era desejo dos pesquisadores estudar a transmissão de patógenos vegetais nas sementes. Dessa forma, 41 lotes de sementes de 17 espécies comuns do ambiente nórdico foram separados para armazenamento.

   A iniciativa evoluiu e tomou proporções globais. Em 2008, o banco passou a se chamar Svalbard Global Seed Vault, e hoje conta com quase 1 milhão de amostras de sementes provenientes de várias partes do mundo, inclusive do Brasil. Denominado de “arca do fim mundo”, o banco de germoplasma de Svalbard oferece segurança única, sendo projetado para suportar catástrofes climáticas mais diversas, prometendo se manter de pé para oferecer informações vitais acerca das espécies ali contidas. Ademais, diversos estudos de melhoramento genético são conduzidos por lá, oferecendo material de pesquisa importante para o desenvolvimento da agricultura mundial.

   Além destes seed banks citados, existem vários outros com a mesma premissa, de prevenção e antecipação a qualquer problema que possa acometer a sociedade, e de contribuir para o melhoramento genético. Com as incertezas que envolvem o futuro global em meio a pandemia de COVID-19, é importante olhar para iniciativas que foram planejadas justamente para momentos como este, e os bancos de germoplasma se encaixam nesta categoria.



   A EMBRAPA e o Brasil
   Por que algumas plantas de soja são mais produtivas, outras têm maior teor de proteína e há ainda as que são resistentes a diferentes tipos de doenças? Isso ocorre porque elas comportam diferentes características genéticas e essas diferenças são importantes para produzir variedades específicas para diversos desafios encontrados no campo. 

   A fim de preservar a variabilidade genética, a Embrapa Soja mantém no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) uma coleção de aproximadamente 55 mil acessos (tipos de soja) introduzidos da coleção dos Estados Unidos e de outros países da África, Europa, Ásia, Oriente Médio e Oceania. “Quanto mais acessos diferentes e caracterizados, melhor será sua utilização nos programas de melhoramento para desenvolvimento de novas variedades,” esclarece o pesquisador Marcelo Fernandes. 

   O BAG da Embrapa conta com as espécies selvagens, com exemplares das cultivadas na China há mais de cinco mil anos, até sementes utilizadas comercialmente no Brasil. A Glycine max, hoje uma das mais importante commodities mundiais, é muito diferente das suas ancestrais que lhe deram origem. De acordo com Fernandes, a evolução da soja começou com o aparecimento de plantas oriundas de cruzamentos naturais, que foram domesticadas e melhoradas por cientistas da antiga China. 

   Criado em 1976, o BAG da Embrapa passou por diversas mudanças e ampliações e hoje é o terceiro maior Banco de sementes de soja do mundo. No caso da Embrapa, o acesso a essas características foi determinante para modernizar completamente a genética do portfólio das cultivares BRS. “Hoje nosso portfólio é o mais completo do mercado, porque temos soja para atender às diferentes necessidades do produtor como precocidade, hábito indeterminado, reação a novas doenças e alto potencial produtivo”, comemora. 

   Para manter essas sementes, a Embrapa Soja dispõe de uma estrutura que foi remodelada, em 2011, e está totalmente automatizada. As sementes são mantidas em câmara fria a 5ºC, com 25% de umidade, o que garante sua sobrevivência por longos períodos. “É um patrimônio nacional, que garante o desenvolvimento de melhores cultivares e torna o Brasil mais produtivo”, explica Fernandes. 

   Lebna Landgraf (MTb 2903/PR)  
   Embrapa Soja  
   soja.imprensa@embrapa.br  
   Telefone: (43) 3371-6061 
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