As revoluções da agricultura: do nomadismo à Smart Farm

Edição XXIV | 04 - Jul . 2020
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
   Diversos estudos têm demonstrado que a agricultura provavelmente tenha surgido na transição do Paleolítico para o Neolítico, há 9000-10000 mil anos na região onde hoje é o Oriente Médio, parte do qual era o antigamente denominado Crescente Fértil. Esse termo explica-se, pois antigamente as terras desta região eram férteis para agricultura e em um mapa tem a forma de uma lua crescente. É possível que em outras regiões do planeta também tenha ocorrido processo semelhante.

   A partir do momento que o homem percebeu intuitivamente que poderia colher sementes das melhores plantas, guardá-las e semeá-las na safra seguinte, começou a iniciar uma relação de amor entre o ser humano e a agricultura. 

   De nômade a sedentário, passou a fixar-se em determinados locais que tinham melhores condições para sobrevivência, carregando consigo sementes, mudas e animais em inicio de domesticação. Este processo levou o homem a organizar-se em sociedade, passando a estabelecer relações sociais, políticas, armazenagem e a troca de mercadorias, refletindo na evolução das civilizações ao longo do tempo. Assim, a semente e o homem sempre caminharam lado a lado sendo a semente desde os primórdios da agricultura difusora de tecnologias e melhorias para as civilizações.

   A revolução industrial, que teve seu apogeu na Europa entre meados do Século XVIII até metade do XIX trouxe, dentre outros benefícios, a produção em escala, os motores a combustão interna, a energia elétrica e o aço. Os avanços tecnológicos dela decorrentes permitiram ainda a produção industrial em ampla escala dos produtos alimentícios e têxteis oriundos da agricultura, possibilitando a produção de grande quantidade de alimentos e fibras bem como a exportação dos excedentes para outros países, reduzindo a pobreza e a fome em um mundo que já ultrapassava meio bilhão de habitantes.

   Nas décadas pós-segunda Guerra o mundo passou por períodos de escassez de alimentos e recursos e inflação galopante. Tal fato demonstra mais uma vez que a agricultura sempre acompanhou a humanidade, seja nos bons como nos maus momentos. E é ela que nas décadas seguintes permitirá o significativo crescimento populacional e a melhoria da qualidade de vida.

   Surge na década de 60 a Revolução Verde, que consistiu na criação de variedades melhoradas de cereais e a adoção em massa de sementes superiores bem como da adubação e mecanização como prática amplamente difundida nas lavouras. Teve como seu expoente o Genetista Norte-americano Normal Borlaug (1914-2009) que criou variedades de trigo anãs capazes de responder à adubação nitrogenada sem acamar, resultando em grande rendimento, método também estendido para o arroz e milho, o que possibilitou a redução da fome em muitos países Africanos e Asiáticos. Esse fato conferiu à Borlaug o Prêmio Nobel da Paz em 1970.

   A revolução verde promoveu significativo aumento no rendimento das principais culturas de cereais e oleaginosas nos mais diferentes países, produzindo excedentes para armazenamento e exportação, aumentando expressivamente a oferta de alimentos em nível global.

   Já a revolução biotecnológica chegou em nível comercial no final da década de 90 com a Soja RR, trazendo junto uma gama de polêmicas ambientais, tecnológicas e socioeconômicas. O leitor não tão jovem deve recordar que ainda não havia liberação legal no Brasil para a tecnologia, o que fez com que muitos produtores trouxessem ilegalmente sementes da soja “Maradona” da Argentina. A tecnologia foi enfim liberada comercialmente em 2003 pela CTNBIO, no que foi seguido por diversas outras liberações como soja, milho, algodão, eucalipto, cana-de-açúcar e feijão, com a maioria das cultivares aprovadas pertencentes às culturas da soja, milho e algodão. Em 2020, após 24 anos de cultivos transgênicos no mundo não foram observados impactos inerentes ao uso desta tecnologia. 

   A quarta revolução ou agricultura 4.0 refere-se ao conjunto de tecnologias digitais integradas e conectadas por meio de sensores, aplicativos, drones, redes e sistemas que objetivam fornecer subsídios para a tomada de decisão no agronegócio. As inúmeras ferramentas disponibilizadas prometem reduzir custos de produção, otimizar processos, aprimorar a obtenção de informações e a segurança no monitoramento e análise dos dados.

   A Agricultura 4.0 emprega ainda métodos computacionais de alto desempenho, rede de sensores, inteligência artificial, conectividade entre dispositivos móveis, computação em nuvem, métodos e soluções analíticas para processar grandes volumes de dados e construir sistemas de suporte à tomada de decisões de manejo e gestão. Engloba tanto a agricultura como a pecuária de precisão, a automação e a robótica agrícola, além de técnicas de Big Data e a Internet das Coisas. Na era 4.0 surge a Smart Farm, que literalmente consiste na fazenda inteligente e compreende o uso de inúmeras ferramentas digitais para auxiliar no monitoramento dos processos agrícolas de manejo e gestão.

   Ao longo dos últimos 10 mil anos percebe-se a fantástica evolução da agricultura. As revoluções e o surpreendente desenvolvimento científico e tecnológico da agricultura vêm permitindo atingir níveis fantásticos de produtividade, contrariando a Teoria Malthusiana.

   Em todos os momentos da humanidade ela sempre esteve presente e vem sendo decisiva para a superação de crises e melhoria da qualidade de vida. No Século XXI os desafios para o setor serão cada vez maiores, mas felizmente o Brasil pode contar com agricultores vocacionados e uma pesquisa que tem disponibilizado inovações aos produtores. A agricultura vem se modificando, aprimorou processos, desenvolveu novas ferramentas, e irá atuar fortemente para reerguer o Brasil e alimentar o mundo.   
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