Construindo a produtividade de uma lavoura

Edição XXIV | 02 - Mar . 2020
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
   A busca incessante pela produtividade faz com que esqueçamos como ela é obtida, ou melhor, construída.  
   Produtividade é o somatório de uma gama de fatores, porém ficamos frequentemente em dúvida sobre qual fator tem maior peso na produtividade da cultura, se o clima ou o manejo. Para se compreender como ela é construída precisamos analisar os fatores envolvidos e os componentes do rendimento de grãos. 
   Para definir o número de grãos produzidos por área devemos ainda conhecer os componentes do rendimento e como eles são formados. Os principais componentes do rendimento são: 1-número de plantas por unidade de área, 2-número de inflorescências por planta, 3-número de grãos por inflorescência e 4-massa do grão. 
   O clima, por exemplo, tem uma grande participação na produtividade da soja, destacando-se a radiação solar, o fotoperíodo, a temperatura do ar e a chuva, os quais definem a produtividade. Nas condições brasileiras a variabilidade climática é enorme, sendo o déficit hídrico o principal fator condicionante das significativas discrepâncias observadas em produtividade nas diferentes regiões e safras. Pesquisas tem demonstrado que, para a soja no RS, o desvio médio de produtividade entre safras é de ± 444 kg/ha, bem acima do MT, que fica ao redor de ± 192 kg/ha. Na campanha gaúcha, por exemplo, sabe-se que, a cada 10 anos, em média sete apresentam déficit hídrico. 
   Para redução do risco climático, já que não temos o WhatsA pp do São Pedro, devemos prestar atenção em algumas práticas produtivas recomendadas pela pesquisa. 
   Atualmente sabe-se que algumas cultivares de soja tem um potencial genético de produzir ao redor de 180 sacas/ha. Mas, por que são raras as lavouras que pelo menos se aproximam desses patamares? Como se sabe, o número de variáveis envolvidas para que uma planta atinja todo o seu potencial é enorme e a interação entre elas é complexa. Os técnicos e produtores precisam pensar com a “lógica da planta”, mas na prática o que seria esta lógica? Como ser vivo autotrófico fotossintetizante, a planta anual precisa rapidamente emergir e estabelecer-se no solo, emitir área foliar adequada e que esta seja sadia, realizar eficientemente a fotossíntese e deixar grande número de descendentes (sementes). Porém, se a semente for de baixo vigor e estiver contaminada com patógenos ela não conseguirá expressar todo seu potencial genético. Tendo menor área foliar sadia a fotossíntese também fica prejudicada resultando em baixa produção de fotoassimilados e menor capacidade de enchimento dos grãos 
   Com os custos de produção cada vez maiores, os ajustes agronômicos “finos”  demonstram a necessidade de construirmos a produtividade de nossas lavouras como se constrói uma casa, tijolo a tijolo, etapa por etapa. Não podemos mais ficar tão dependentes das tecnologias de insumos, mas sim aprimorar os processos produtivos dentro das propriedades rurais. Isso ainda depende apenas de nós. 
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