O mercado sementeiro, o seu dinamismo e os impactos na formação dos preços

Edição XXVII | 03 - Mai . 2023
Jean Carlo Possenti-jpossenti@utfpr.edu.br
   Os sementeiros encontram-se, no momento, em fase de término de beneficiamento das sementes produzidas na última safra de verão, formação dos estoques do produto acabado, análises prévias e por aí vai... Preocupações rotineiras que fazem parte das tantas atribuições dos responsáveis técnicos. 

   Por outro lado, o setor comercial dos multiplicadores, principalmente em se tratando de sementes de grandes culturas, como a soja, por exemplo, já avançou bastante, fazendo pedidos e fechando negócios para o próximo plantio está em formação.

   Desta maneira, todos sabemos que o mercado de sementes é dinâmico. Ao observarmos especificamente o mercado de sementes de soja, notamos que a formação do seu preço de venda é complexa e cheia de particularidades. Não se leva em conta que muitas vezes o sementeiro vende aquilo que ainda não produziu. 

   Evidentemente, sabemos que o preço da commodity soja é formado com base na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. Entretanto, os operadores da CBOT - Chicago Board of Trade, como é conhecida, ao formarem o preço dos contratos de soja que lá são negociados, levam em consideração uma série de informações, que, na velocidade atual das comunicações que temos, provocam uma enorme volatilidade. 

   Previsões de plantio nas principais regiões produtoras do globo, previsões climáticas, avanços de colheitas e de embarques internos e externos dos EUA, velocidade da evolução de venda das safras, da voracidade dos compradores, das dificuldades de escoamento e embarque das safras (no Brasil, principalmente). Estas e outras tantas complexas informações contribuem para os fatores ditos fundamentais.

   Do lado especulativo, existem os conhecidos fundos e investidores que dão liquidez aos contratos na bolsa, além, é óbvio, das próprias tradings e dos compradores de soja ao redor do mundo. Pois, basicamente do lado dos especuladores, procura-se faturar, enquanto as tradings e os compradores procuram proteção, o que é conhecido como fazer “hedge”. 

   Efetivamente, a CBOT negocia contratos e não grãos propriamente ditos. Em uma história centenária, poucas vezes contratos foram liquidados com a entrega física dos grãos. Mas, sim, a liquidação dos acordos é financeira, em função dos ajustes diários sobre os valores dos contratos negociados, além, é claro, de taxas, emolumentos e comissões. 
Internamente, aqui no Brasil, temos ainda que levar em consideração na formação do preço da soja o fator do câmbio, que é flutuante e também negociado em bolsa, com mercado da mesma forma, spot e futuro. Ainda são observados os prêmios que são calculados basicamente em função da agilidade das logísticas portuárias e também, obviamente, do famigerado preço do frete.
 
   Ao fazer a internalização do preço da soja, nota-se que parcela do preço, a depender do local, deixa de ir para o bolso do agricultor e fica com os custos da logística. Se por um lado, isto faz a economia girar em todos os segmentos que estão envolvidos, por outro, notamos o quanto a nação ainda terá que avançar em termos logísticos.

   Mas para o sementeiro? Como deveria este importante agente do mercado se posicionar frente a isto? O produtor de sementes de soja carrega o seu estoque em diferentes momentos, com também diferentes preços e formas de pagamento. Por vezes, quando trabalha com cooperantes, a semente pode ficar “em depósito”, com preço a fixar. Por vezes, é paga à vista, no preço de balcão. Ainda, tem-se a bonificação, que igualmente é negociada das mais diversas maneiras com os cooperantes.

   Para aqueles multiplicadores que fazem a produção com terras próprias, em que pese esta negociação ser facilitada por não envolver terceiros, no mesmo sentido, os cálculos devem ser feitos de forma adequada. Isto para que o preço de venda das sementes tenha efetivamente detalhados todos os gastos envolvidos na sua produção, e o custo da semente não seja mascarado.

   A depender do volume produzido e das cifras envolvidas, o produtor de sementes de soja pode fazer hedge sobre o custo da sua matéria-prima. Isto lhe ajudará a ter mais bem detalhados, acaso queira, custos separados por cultivares produzidas.

   Especificamente para a safra que em curso está sendo colhida e processada, em 2022/2023, e que irá abastecer o mercado comprador das sementes que serão depositadas ao solo na safra 2023/2024, nota-se significativa redução no preço da commodity soja. Esta redução é fruto de vários fatores técnicos e especulativos. Verifica-se, no momento de redação desta matéria, uma gangorra entre CBOT e câmbio, ambos em sentido contrário, afetando negativamente o preço doméstico da soja grão no Brasil. 

   De maneira geral, os prêmios pagos nos portos brasileiros têm sido melhores no segundo semestre para embarques com soja, quando comparados ao primeiro semestre do ano, momento em que se tem forte pressão de escoamento de safra. Esta pressão de escoamento pode ser por necessidade de caixa dos agricultores, para abrir espaços físicos para depositar a nova safra ou para ambos. Mas os compradores internacionais de soja sabem da nossa baixa capacidade estática de armazenagem de grãos no país. Neste momento, se mostram mais cautelosos em fechar negócios, fato que faz as cotações do mercado spot trabalharem pressionadas.

   E, voltando ao caso dos sementeiros, como fazer frente a este cenário que se repete quase todo ano? Tem-se ainda a incerteza sobre quais os rumos o produtor de soja irá tomar na safra futura. 

   Necessário então se faz ao sementeiro contabilizar de forma adequada todos seus custos e despesas, que serão necessários para precificar suas sementes. Certamente, isto lhe dará vantagem competitiva no mercado. Importante lembrar que momentâneas reduções nos preços das matérias-primas, necessariamente, não significam margens fartas ao se calcular o preço de venda da semente.

   O fato é que o tempo se faz senhor da razão e mostrará o quanto as escotilhas deveriam ter sido fechadas frente aos mares tempestuosos que poderão vir. Mas, passadas as tempestades, os mares sempre passam a contar com bons ventos aos navegantes e águas tranquilas. Ótimas negociações!

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