Equipes, diversidade e flexibilidade cognitiva

Edição XXVII | 03 - Mai . 2023
   Formar equipes competitivas é o grande desafio e, naturalmente, o desejo de qualquer gestor. Mantê-las inovativas, performando acima da média, por sua vez, é algo extraordinário e representa o sonho das lideranças. Do júnior ao sênior.

   No horizonte temporal de cinco décadas o agronegócio deu mostras de sua capacidade em se desenvolver e não apenas crescer. Tornou-se referência mundial em vários aspectos, mas a gestão de pessoas e todo o seu ecossistema, assim como nos demais setores econômicos, ainda representa o tendão de Aquiles da gestão.

   Diversidade: mais que obrigação, uma estratégia
   Na esteira desse desafio, independentemente de qual setor a empresa atue, diversidade, inclusão e equidade são temas obrigatórios e vem ganhando força a cada dia, principalmente em função da pressão que o mercado está exercendo.

   Mas precisa ficar claro para os gestores que a diversidade em si não deve ser encarada como uma obrigação corporativa e nem um simples aceno ao mercado. Deve ser entendida como uma estratégia indispensável que evidencia a relevância dos valores humanos nessas empresas.

   O primeiro grande benefício estratégico é o de permitir a atração dos melhores profissionais, algo sabidamente difícil de promover em tempos de escassez de talentos. Ou seja, a diversidade representa uma estratégia inteligente de construção de diferencial competitivo ou até mesmo de employer branding.

   A diversidade em si possui diferentes perspectivas e busca, em essência, criar um ambiente plural, capaz de oferecer um portfólio mais amplo de opções, do operacional ao estratégico, para enfrentar os desafios das organizações.

   O tema é amplo e imprescindível para as empresas e a sociedade. Mas boa parte do esforço tem se mantido circunscrito à importância social de reduzir desigualdades, o que obviamente é fundamental, muitas vezes não é suficiente para reunir simpatia para a causa e sua adoção.
 
   O diferencial da diversidade cognitiva
   O foco tem sido notadamente sobre as estratégias de diversidades de gênero, raça, origem social e faixa etária, dentre outros grupos sub-representados. Contudo, há uma perspectiva essencial e estratégica, com grande impacto do ponto de vista organizacional, que contribui para a redução das demais desigualdades e que tem sido preterida: a diversidade cognitiva.

   Essa diversidade tem por base a cultura da pluralidade de ideias e opiniões, oriundas justamente de pessoas com personalidades e perfis comportamentais distintos. É um grande diferencial competitivo para as empresas, principalmente em função da capacidade de inovação e adaptação aos cenários atuais, inerentes ao mundo BANI, em evidência.

   Sabemos que equipes homogêneas em excesso, com baixa diversidade cognitiva, tendem a ser menos propensas a aceitar mudanças e criar alternativas inovadoras. Uma das grandes vantagens práticas é o acolhimento dos pontos de vista diferentes e a redução dos vieses limitantes.

   Com equipes cognitivamente diversas, as experiências, os conhecimentos, as habilidades, os julgamentos e, obviamente, as atitudes também serão mais variados. E não apenas internamente, mas também em relação às respostas e à dinâmica de relacionamento esperada pelo mercado.

   Essa diversidade trará maior interação entre os profissionais, levando-os para a área de desconforto, fazendo com que a harmonia, muitas vezes improdutiva e perniciosa, seja substituída pela discussão, análise e criatividade.

   Para potencializar, ambiente e segurança psicológica
   Ambientes assim permitem que os status quo seja questionado com tranquilidade, sem medo da divergência, justamente ampliando as possibilidades genuínas de ouvir (escuta ativa) o que os demais tem a dizer sobre determinado assunto, ampliando a capacidade de inovar.

   Mas os gestores e líderes precisam ter claro que não é o suficiente apenas incluir pessoas com perfis diferentes em suas equipes sem que se crie um bom ambiente de trabalho.

   É nesse aspecto que a segurança psicológica e a maturidade do líder entram em campo e emprestam as condições para que as vantagens da diversidade cognitiva sejam potencializadas. Isso se dá porque o tom dessa filosofia organizacional é dada pelo próprio líder, como um patrocinador executivo, por que, definitivamente é uma questão “top down” antes de se tornar “bottom up”.

   Um dos grandes problemas nesse sentido é a falta de maturidade e segurança dos líderes. Muitas vezes, em vez de valorizarem as diferenças, exige-se que os profissionais se adaptem e se enquadrem nos modelos-padrão pré-existentes.

   O líder e a flexibilidade cognitiva
   Por essa razão, dentre as grandes competências requeridas dos líderes nesse momento dinâmico e de disrupção tecnológica, está uma soft skill em particular: a flexibilidade cognitiva. 

   O líder que possui essa flexibilidade acentuada no seu perfil leva vantagem indelével em relação aos demais, principalmente por ser capaz de conduzir os seus liderados com maior agilidade, sabendo enfrentar com dinamismo as mudanças perenes e recorrentes do mundo dos negócios.

   Por conceito, flexibilidade cognitiva diz respeito a plasticidade, a capacidade maior ou menor do gestor em lidar com situações adversas. Dito de outro modo, é a capacidade de pensar fora do padrão “mais do mesmo". Ou seja, ele busca soluções não tão evidentes para solucionar um problema, criando estratégias diversas para chegar a um determinado objetivo.

   Essa habilidade é fundamental, uma vez que contribui decisivamente na formação de equipes de alto desempenho, além de oportunizar a cultura da inovação e o engajamento entre liderados, seus propósitos e os da própria empresa.

   Dentre as características desses líderes podemos destacar a maior tolerância à diversidade de opiniões, a facilidade para criar soluções alternativas e observar as situações por diferentes perspectivas, a maior tolerância a mudanças e aos próprios erros, dentre outras.

   Por fim e em resumo, se você é gestor, já deve ter percebido que caso o seu objetivo seja o de se tornar um grande líder, é preciso colocar definitivamente na sua agenda os seguintes temas e expressões: diversidade (como um termo amplo e aplicado), a inclusão, a segurança psicológica, a diversidade cognitiva e por consequência, a flexibilidade cognitiva.

   Até a próxima.

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