Bioinsumos: arsenal bélico em defesa da vida

Edição XXIV | 06 - Nov . 2020
Marcelo Benevenga Sarmento-marcelobs05@hotmail.com
   É inegável que a agricultura vem enfrentando enormes desafios para que os agentes envolvidos possam adequar suas empresas, produtos e serviços às exigências socioambientais e demandas dos consumidores. O debate costuma ficar polarizado entre agroecologia versus agricultura convencional. Entretanto, sistemas produtivos não podem nem devem conviver em uma polarização constante. Felizmente mais um passo para uma aproximação amorosa vem sendo dado. Nos últimos anos tem aumentado as pesquisas bem como a aplicação prática dos chamados Bioinsumos ou insumos de base biológica. Recentemente o MAPA lançou o Programa Nacional de Bioinsumos que tem como objetivo ampliar e fortalecer a utilização de bioprodutos na promoção do desenvolvimento sustentável da agropecuária brasileira.

   De acordo com o MAPA, o Programa propõe-se a disponibilizar um conjunto estratégico de ações para o desenvolvimento de alternativas para a produção agrícola, pecuária e aquícola, considerando dimensões econômicas, sociais, produtivas e ambientais. Visa ainda estimular a adoção de ativos sustentáveis baseados no uso de tecnologias, produtos e processos desenvolvidos a partir de recursos renováveis, por meio da ação integrada dos setores de ciência, tecnologia e inovação, incluindo o setor produtivo e o mercado.

   Com esse programa novas soluções biotecnológicas serão criadas, com inserção nas distintas cadeias do agronegócio. Os Bioinsumos emergem da necessidade cada vez maior de se buscar soluções inovadoras sustentáveis para as mais diversas atividades humanas, desde a área da saúde à agricultura, da indústria química aos alimentos. 
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   Contrariando a insípida polarização entre apenas dois sistemas produtivos, os bioinsumos podem ser utilizados tanto em um sistema hidropônico, agroecológico, integrado e até na agricultura convencional. Micro, pequenos, médios ou grandes produtores podem vislumbrar uma gama de possibilidade para inoculação de sementes, melhoria do solo, controle de pragas, doenças e ervas indesejáveis, tratamento de dejetos, aumento da eficiência nos processos naturais ou mesmo industriais, dentre muitos outros. 

   Bioprodutos trazem baixo impacto ao meio ambiente e ao homem e tem apresentado ao redor de 80% ou mais de eficiência a campo, índice comparável aos sintéticos. Uma vantagem adicional é o direcionamento às pragas e patógenos alvo, minimizando impactos negativos a outros organismos e ao meio ambiente. 

   O número de defensivos biológicos registrados no MAPA tem avançado. Até o ano passado (2019) já havia cerca de 250 produtos registrados, entre bioacaricidas, bioinseticidas, biofungicidas e bioformicidas, dentre outros. Somente em 2019 40 novos produtos foram registrados no MAPA. Neste mesmo ano o mercado nacional de biodefensivos movimentou R$ 675 milhões, crescimento da ordem de 15% em relação a 2018, e acima da média estimada de crescimento internacional. A média global de novos produtos biológicos registrados, por ano, aumentou de três para 11 na última década no Brasil. A partir do lançamento do programa, estima-se aumentar em 13% a área agropecuária com o uso de insumos biológicos. 

   Conforme a Agrofit (2020), os principais produtos disponíveis por ativo biológico são os fungos com 39%, seguido de bactérias com 18,7% e insetos com 15,5%. 

   Um dos exemplos mais bem sucedidos da aplicação dos bioinsumos na agricultura são as bactérias fixadoras de nitrogênio Rhizobium e Bradyrhizobium, amplamente utilizados nas culturas da soja, feijão, ervilha e leguminosas forrageiras há várias décadas. A fixação do nitrogênio também é possível em gramíneas como milho, sorgo, arroz e trigo, graças às bactérias de vida livre pertencentes ao gênero Azospirillum, que também vem sendo utilizadas há pelo menos 30 anos. O gênero Bacillus também tem mostrado sua importância há décadas em diversas culturas agrícolas no controle de insetos praga. Fungos do gênero Trichoderma são utilizados no controle de doenças em frutíferas, hortaliças e culturas anuais. Atualmente existem centenas de organismos sendo testados ou em uso em diversos cultivos agrícolas.

   Cerca de 40 milhões de hectares já são cultivados com algum tipo de bactéria promotora do crescimento de plantas, segundo dados do MAPA. Especificamente para o controle de pragas estima-se 10 milhões de hectares com algum novo bioinsumo nos próximos anos. 

   Objetivando auxiliar o produtor no uso e difusão dos bioprodutos, o MAPA criou o aplicativo Bioinsumos com um catálogo de 580 produtos biológicos disponíveis no país destinados a combater mais de 100 pragas e plantas invasoras e ampliar a absorção de nutrientes, favorecendo o crescimento de inúmeras espécies vegetais. Desse total, 265 são defensivos biológicos, entre bioacaricidas, bioinseticidas, biofungicidas e bioformicidas. Os outros 315 itens são inoculantes, um insumo biológico que contém microorganismos com ação benéfica para o desenvolvimento das plantas.
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   Como toda tecnologia sempre há desafios a serem superados e processos a serem aprimorados. O principal é em relação à regulamentação dos bioprodutos, formulações e liberação comercial para uma gama maior de culturas. Em determinados casos há inconsistência de resultados a campo. Esses produtos demandam uma tecnologia de aplicação diferenciada em comparação aos sintéticos, o que exige treinamento e capacitação constante. Por fim o posicionamento do produto ainda é um gargalo a ser enfrentado. 

   Descortina-se assim um universo de aplicações para os Bioinsumos a partir deste programa. Surgirão novos e melhores produtos para a nossa agricultura. Sim, ela precisa de tratamento constante, pois nosso país tem condições ambientais altamente favoráveis às pragas, ervas e doenças. As perspectivas são excelentes para todos os sistemas produtivos. A saúde das plantas, do solo e do homem, agradece.  
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