As práticas essenciais do gestor

Edição XXIV | 06 - Nov . 2020
   A afirmação impactante de que “Você não constrói uma empresa. Você constrói um Time. E o Time constrói a empresa” de Mauricio Benvenutti revela em síntese a importância dos gestores e das equipes para o sucesso das organizações.

   O agronegócio, como um setor que praticamente tem conseguido passar incólume pela pandemia, não é capaz de escapar dessa verdade. A impressão é de que, ao contrário, como de resto nos demais setores, é competência organizacional cada vez mais valiosa para o sucesso.
Tenho percebido nas minhas mentorias sobre carreira, com gestores, e sobre o desenvolvimento de novos negócios nas organizações, que existe uma grande preocupação sobre as competências essenciais requeridas pelas organizações de vanguarda nesse momento crucial de retomada e de aceleração promovida pela pandemia.

   De um modo geral, seria lógico pensar que o foco principal das competências deve recair sobre o futuro e a capacidade desses de entender e prognosticar o que virá, associado a capacidade de lidar com tecnologia e análise de dados. 

   Embora não possamos subestimar essa relevância, percebo que a efetiva capacidade de gerenciar com inteligência requer antes de tudo direção clara e objetivos evidentes. Somam-se a estas as necessidades de intimidade com indicadores e metas particionadas. 
Sem isso obviamente não há gestão. São eles que nos dão as diretrizes necessárias, desde que perceptivelmente atingíveis pela equipe e acompanhados de tênue, mas segura pressão de execução.

   Mas acima disso e transcendendo todos esses aspectos a capacidade de lidar com gente toma a dianteira. Podemos resumir em alguns poucos atributos relacionados a liderança como aqueles capazes de efetivamente garantir os avanços das empresas sem os solavancos costumeiros de quem aposta tudo em processos e indicadores econômicos e financeiros.

   Um Clima agradável e competitivo
   
É bem provável que este seja o maior de todos os desafios do gestor. Criar um clima agradável para a equipe, buscando sistematicamente aparar arestas imediatamente após serem percebidas e ao mesmo tempo estimular a competição interna.
Deixar o barco a deriva quando decisões requerem nossa presença é um elemento infelizmente recorrente na imperícia de gestores juniores que ainda não internalizaram sua importância e necessidade.

   As pessoas querem ser felizes. Nesse sentido, buscar manter a equipe feliz é particularmente desafiador. Apenas a felicidade, a expectativa e a esperança são capazes de criar o desejo recorrente e diário de fazer com que cada pessoa deixe seus entes queridos e sua zona de conforto para vir ao trabalho (ou dedicar-se a ele remotamente), dando exclusividade do seu tempo ou desestimulando-os a se interessarem por outros projetos ou empresas.
Nesse sentido, contribuir para baixar o estresse e a tensão é um objetivo relevante, tornando-se uma forma segura de manter a criatividade na equipe e ao mesmo tempo compromissados, conservando o interesse em contribuir espontaneamente com seus pontos de vista. Vale lembrar que ninguém é criativo quando está estressado ou sob pressão desmedida e recorrente.

   Limites
   É crucial entender que você, como gestor da equipe, precisa contribuir para resolver os problemas ou ajudar a encontrar o caminho, e nunca ser o motivo deles existirem. Ter como balizador que os problemas significativos e preocupantes devem ser os de fora da organização e não os de dentro, originados pela falta de engajamento ou direção da equipe.

   Por consequência, é necessário realçar um ativo de alto valor agregado: a gentileza. Deve ser utilizada sem muita moderação. Trazer a equipe para perto de si é uma grande virtude, mas requer atenção. Todo gestor deve observar os limites de proximidade de cada um. São limites tênues. Tanto os físicos como os mentais ou comportamentais.

   Há pessoas que gostam e se sentem à vontade em discutir temas de modo mais próximo, outros percebem essa proximidade como uma invasão do seu espaço físico. Outros ainda se incomodam ao serem estimulados a revelarem suas características, virtudes ou dificuldades psicológicas.

   Feedbacks
   Poucas ferramentas são tão importantes como o feedback. Principalmente os diários  com o jogo em andamento. Mas cuidado, se ele não for genuíno, é melhor não fazê-lo. Vale lembrar alguns aspectos relevantes sobre o modus operandi: quando for dar um feedback em que há pontos negativos ou críticas, devemos preparar a pessoa para isso. E sempre em particular. Mesmo assim, comece com perguntas. Nunca com afirmações. 
Sempre que possível procure encontrar algum ponto positivo daqueles que ficaram comparativamente abaixo dos demais. Deve ser mantida a ideia de aproximar e não distanciar ainda mais os menos competentes daqueles da ponta.

   Por consequência, os elogios, devem sempre ser em público. Obviamente também podem ser em particular, mas principalmente quando a situação requerer ou for conveniente e oportuno. Tomar o cuidado para nunca enaltecer apenas um elemento da equipe, gerando comparações. Isso eles já fazem por si.

   Nenhum dos dois (elogios ou críticas) podem ser exagerados. Ao invés de destacá-los, o exagero reduz a importância e principalmente a credibilidade,. Deve ser realizado sempre em dose média, regularmente e intercalado. É necessário dar espaço para a respiração e a internalização do interlocutor.

   A duas competências mais importantes
   Dentre as muitas competências do gestor, há uma em particular que ele pratica o dia todo e todo o dia, mesmo sem perceber: se comunicar. Associado a ela surge uma segunda no mesmo nível de relevância: saber perguntar. 

   Embora a ideia de comunicação ainda esteja atrelada a emissão objetiva de uma mensagem, principalmente falar, ela não reside apenas nisso. Quando ele é um bom ouvinte, interessado e diligente, por exemplo, está comunicando para a equipe que as pessoas e seus pontos de vista são importantes. Por isso, ouvir (ou perguntar) mais do que falar é uma grande virtude. 

   Mesmo quando ele não se move, está se comunicando. No momento em que percebe uma disfunção ou um modus operandi inadequado, mas não corrige, a mensagem que ele envia é de que “tudo bem, isso não é importante, pode continuar fazendo”. 

   Ser conciso e ter uma lógica clara do que deve ser comunicado e nunca se estender muito nas explicações deve ser uma preocupação recorrente. Gosto muito da frase “O que precisa explicar muito, não vale a pena.” 

   Como um contraponto, saber fazer boas perguntas é um hábito excepcional e adicionalmente uma forma de comunicação. Sinal de inteligência e de capacidade de compreensão da realidade e para onde queremos ir. Torna-se menos invasivo e autoritário, além de ampliar a obtenção de informações. 
Por fim, colocar dúvidas nas certezas é sinal de avanço seguro. 

   Até a próxima. 
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