Para que serve o vigor de sementes?

Edição XXII | 03 - Mai . 2018
José de Barros França Neto-jose.franca@embrapa.br

    A definição formal do termo “vigor de sementes” é fruto da dedicação de centenas de pesquisadores, professores e demais profissionais envolvidos com o controle de qualidade de sementes de diversas instituições nacionais e internacionais, durante os últimos 70 anos. As primeiras tentativas de definir esse parâmetro ocorreram com a formação, em 1950, do Comitê de Bioquímica e Vigor de Plântulas da ISTA (Associação Internacional de Análise de Sementes) e, posteriormente em 1961, do Comitê de Testes de Vigor da AOSA (Associação de Analistas Oficiais), estabelecida nos Estados Unidos.

    O vigor é conceituado tanto pela ISTA quanto pela AOSA como “Aquelas propriedades das sementes que determinam o seu potencial para uma emergência rápida e uniforme e o desenvolvimento de plântulas normais sob ampla diversidade de condições de ambiente.” Essa definição contempla diversos parâmetros importantes que merecem destaque:

Potencial para uma emergência rápida e uniforme das plântulas, o que é fundamental para o bom estabelecimento da lavoura;

Desenvolvimento de plântulas normais;

Desempenho das sementes sob condições ideais e sob ampla diversidade de condições de ambiente, incluindo condições ótimas e sob estresses.

    Como  estresses, podem ser exemplificadas algumas situações: profundidade excessiva de semeadura; compactação superficial ou assoreamento em consequência da ocorrência de chuvas intensas após a semeadura; semeadura em condições de solo com baixas temperaturas, comuns no sul do país; ataque de fungos de solo à semente; e seca após a semeadura. Sementes de alto vigor sempre apresentam vantagens nessas situações em relação a uma semente de vigor médio ou baixo. Assim sendo, é possível afirmar que o uso de sementes vigorosas é uma poderosa técnica que favorece o estabelecimento de uma população adequada de plantas mesmo sob condições estressantes. Essa vantagem, por si só, já seria suficiente para justificar a utilização de lotes de sementes mais vigorosas.

    Mas, além dessa vantagem, sabe-se que sementes de alto vigor resultam na produção de plantas de alto desempenho, que são plantas vigorosas, com melhor estrutura de parte aérea e com um sistema radicular mais profundo e agressivo, que, consequentemente, apresentam um potencial produtivo maior. Plantas de alto desempenho aproveitam de maneira mais eficiente os recursos disponíveis para o seu desenvolvimento, como água, luz (fotossíntese) e nutrientes. Essa informação é válida para todas as espécies que se propagam por sementes, incluindo grandes culturas, hortícolas, espécies forrageiras, florestais e florais.

    Para se obter elevados índices de produtividade, a operação de semeadura tem papel fundamental no processo. Ao se implantar uma lavoura comercial, é de capital importância que a população de plantas seja a ideal, conforme as recomendações técnicas da cultura, e composta por plantas de alto desempenho, originadas de sementes de alto vigor. Muitos produtores ainda não têm a perfeita consciência da importância dessa informação e de suas vantagens, e ainda creem que basta obter a população ideal de plantas, sem se levar em consideração o nível de vigor das sementes utilizadas. Pode-se citar o exemplo daquele produtor que utiliza sementes de vigor médio ou baixo e ainda acredita que, com o aumento da densidade de semeadura, poderá obter o estande ideal de plantas para aquela cultivar. Isso pode até ser verdadeiro, porém será que as plantas que compõem essa população são de alto desempenho?

    A resposta a essa questão depende de diversos fatores, considerando: a espécie cultivada; população de plantas; órgão da planta explorado comercialmente; capacidade de compensação das plantas ou adaptação ao espaço disponível; distribuição espacial das plantas, ou seja, se a avaliação da produção terá como base populações de plantas ou plantas individuais; hábito de crescimento da planta; capacidade de perfilhamento da planta; se haverá o transplante de mudas ou se o estabelecimento das plantas será via semeadura direta; se haverá desbaste, etc.

    Portanto, pode-se afirmar que “O sucesso da lavoura depende do uso de sementes de alta qualidade, que geram plantas de alto desempenho”.

    Existem diversos procedimentos para a avaliação do vigor. Para grandes culturas, os mais utilizados são os testes de tetrazólio, de envelhecimento acelerado e o de frio. Outras metodologias utilizam a condutividade elétrica da solução de lixiviados, índices de deterioração controlada, de crescimento de plântulas e da velocidade de germinação e de emergência de plântulas. Mais recentemente, os testes de protrusão da raiz primária e a avaliação computadorizada de imagens de plântulas têm proporcionado informações consistentes e merecem atenção.


"Se o que você colhe não lhe agrada, preste atenção ao que você planta. (Lumière de Sandré)"


    Além de favorecer a obtenção da população de plantas ideal, composta por plantas de alto desempenho, a utilização de sementes de alto vigor pode proporcionar a obtenção de maiores produtividades em lavouras comerciais. Um vasto acervo de informações está disponível na literatura, comprovando esse fato para diversas culturas, como, por exemplo, para o milho, soja, algodão, arroz e feijão. Para a soja, a Embrapa Soja demonstrou aumentos de até 10% na produtividade, apenas com o uso de sementes de alto vigor.

    No caso da produção de hortaliças, o alto vigor das sementes influencia positivamente a produção por planta ou na produtividade por área, tanto para culturas com a semeadura direta (beterraba, cebola, cenoura, ervilha, milho doce, feijão vagem, algumas cucurbitáceas) como nas mudas produzidas em viveiro e transplantadas (alface, beterraba, brássicas, cebola e outras). Também resulta em benefícios quanto ao tamanho, qualidade e uniformidade dos produtos comerciais, sejam frutos (tomate, abóbora, feijão-vagem, milho doce, pimentão, pepino, melão, melancia, quiabo), inflorescências (couve flor, brócolis), parte vegetativa aérea (alface, repolho, couve, acelga, espinafre), ou subterrânea (cenoura, rabanete, beterraba, nabo, cebola).

    Hoje, diversos produtores de sementes disponibilizam no mercado sementes com vigor mais elevado, que recebem denominações que enaltecem esse fato (Ex: sementes premium, plus, supreme, super, alta performance, e outras marcas). Muitas vezes essas sementes são comercializadas com um diferencial de preço, porém são as primeiras a se esgotar no processo de vendas. Isso, além de ser uma ferramenta de marketing, demonstra que o agricultor está cada vez mais ciente das vantagens de se utilizar sementes de alto vigor e que isso resulta em maiores produtividades e lucros aos mesmos.

    Apesar dos grandes avanços recentes obtidos com a utilização das informações providas pelos diversos testes de vigor em sementes, muito ainda deve ser realizado no sentido de melhor conscientizar os agricultores sobre o significado dos resultados dos diversos testes de vigor, e como essa informação pode ser utilizada em seu benefício, visando o constante aprimoramento da produção agrícola.  Mas não existe a menor sombra de dúvidas de que todo o empreendimento agrícola deve estar embasado na utilização de sementes da mais alta qualidade!


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